Gasto m?nimo com atendimento a acidentados no tr?nsito é 67% maior que investimento em prevenção em JF

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Gasto mínimo com atendimento a acidentados no trânsito é 66,7% maior que investimento em prevenção em JFAté novembro de 2010, a Settra investiu R$ 86,4 mil em campanhas de educação para o trânsito. Gasto mínimo para o socorro de acidentados no HPS é de R$ 144,2 mil

Clecius Campos
Repórter
8/12/2010

O gasto mínimo com atendimentos a acidentados no trânsito no Hospital de Pronto Socorro (HPS) Mozart Teixeira é 66,7% maior que o investimento destinado a campanhas de educação para o trânsito. De janeiro a novembro de 2010, a Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra) investiu R$ 86,4 mil em campanhas de prevenção, enquanto, segundo estimativa da Secretaria de Saúde (SS), o custo mínimo para socorrer as vítimas de acidentes ocorridos no mesmo período é de R$ 144,1 mil.

O valor dispensado na saúde foi obtido calculando o total de acidentes ocorridos de janeiro a novembro de 2010 e multiplicando pelo gasto mínimo de atendimento no HPS, em casos de atropelamentos, batidas e quedas de motocicletas. Nos 11 primeiros meses do ano, 3.599 pessoas deram entrada no hospital, após sofrerem acidentes de trânsito. O caso mais simples de atendimento gasta, pelo menos, R$ 40,06, em consulta, exames de radiografias de crânio e membros e observação ambulatorial de até 24 horas (veja, abaixo, simulações de atendimentos e seus gastos). Se, hipoteticamente, todos os 3.599 casos tivessem a atenção mais simples, o HPS teria despesa de R$ 144,2 mil nos atendimentos.

De acordo com o médico plantonista do setor de urgência e emergência do HPS, Marcelo Weiss, exames radiológicos fazem parte do protocolo de atendimento básico em casos de acidentes no trânsito, por isso, sempre são realizados. "O exame radiológico é feito em praticamente todos os pacientes, mesmo quando não há queixa de dores que indiquem qualquer lesão. No mínimo, são realizados os raios-x de extremidades, tórax e quadril. Em casos de atropelamento é pedida ainda a tomografia de crânio, já que o paciente sempre bate com a cabeça no chão. Outros exames de imagem como ultrassonografias e tomografias de abdômen e tórax também são feitos." Cada tomografia custa R$ 97,44 ao Estado.

Segundo Weiss, conforme maiores são as gravidades das lesões, mais despesas são agregadas a cada atendimento. "Um paciente pode ficar um dia em observação e outro pode precisar de cirurgias e de internação na UTI [Unidade de Tratamento Intensivo]. Quanto mais complexa a situação, maior é o gasto." A SS simula como caso extremo um paciente politraumatizado, que precisa ficar internado por quatro dias na UTI, com traumatismo crânio encefálico grave. Este acidentado deverá custar, pelo menos, R$ 2.281,07 para o Estado, contando as diárias na UTI, além de um exame de tomografia e uma ressonância magnética. "Se ele tiver uma fratura de membro e precisar ficar internado mais três dias, a conta vai passar de R$ 5 mil", acredita Weiss.

Os custos não se esgotam na realização de exames. A quantidade de profissionais empenhados no atendimento de cada caso de acidente de trânsito é capaz de manter boa parte da equipe do hospital ocupada. "Pelo menos 20 profissionais, entre médicos e enfermeiros, estarão à disposição para o atendimento inicial. Se o caso for grave, vai ser preciso o apoio de profissionais das especialidades de neurocirurgia, das cirurgias de tórax e vascular e até da urologia, somando até 50 profissionais. Essas especialidades são extremamente caras." Além da atenção dentro do hospital, Weiss aponta gastos operacionais, como o atendimento telefônico, o deslocamento e o socorro do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), por exemplo. "Há ainda os gastos pós-traumáticos e de reabilitação, que irão demandar o trabalho de fisioterapeutas, fonoaudiólogos e nutricionistas."

Prefeitura gasta R$ 261 por dia em prevenção

Enquanto o gasto com o atendimento a um acidentado, sem queixas de lesão, é de R$ 40, a Prefeitura, por meio da Settra, investe R$ 261, por dia, em todas as suas ações de prevenção a acidentes. Se considerados apenas os números de escolas municiais de Juiz de Fora, 102 instituições potencialmente alvos de campanhas de educação para o trânsito, o investimento diário em cada uma delas seria de R$ 2,55. A escassez de recursos é criticada pelo vice-presidente da Comissão Municipal de Segurança e Educação para o Trânsito (Comset), Mário Jacometti. Segundo ele, o investimento anual deveria ser na ordem de R$ 300 mil.

"O valor que o município tem para o trabalho nas escolas não pagaria sequer os panfletos, se tivessem que ser distribuídos em toda a rede. Sem contar que há ações feitas na rede municipal, nas escolas estaduais, federais e particulares. Com R$ 20 de gasolina dá para visitar apenas duas escolas em Juiz de Fora", exemplifica. De acordo com Jacometti, além dos atendimentos hospitalares, as mortes por acidente de trânsito também podem gerar altos gastos para a Previdência. "Quando um homem casado, com salário de R$ 2 mil, morre no trânsito, o governo deixa de receber as contribuições dessa pessoa e ainda precisa cadastrar a esposa como pensionista e pagá-la mensalmente. A Previdência, ao longo de um ano, vai gastar mais R$ 24 mil, com o desdobramento dessa morte."

Número de atendimentos a acidentados no HPS cai 4%

O HPS registra uma queda de 4,18% no número de atendimentos a acidentados no trânsito. A comparação é entre os onze primeiros meses de 2009 e de 2010. O número de pacientes por atropelamento subiu em 4%, passando de 825 em 2009, para 858 em 2010. Durante todo o ano passado, foram prestados 903 atendimentos a vítimas de atropelamentos. O socorro a vítimas de quedas de motocicletas também subiu, em 3,35%, de 1.015 em 2009 para 1.049 em 2010, sendo 1.117 durante todo o ano passado. A queda de 11,7% no número de pacientes vítimas de acidentes automobilísticos fez com que o registro total fosse de decréscimo. De janeiro a novembro de 2009, foram feitos 1.916 atendimentos do tipo no HPS contra 1.692 em 2010. Ao longo de todo o ano passado, foram 2.136.

Em 2011, HPS terá despesa 174 vezes maior que segurança no trânsito

Em 2011, a Prefeitura calcula que o HPS terá uma despesa 174 maior que a destinada à segurança pública no trânsito. Os dados são da minuta da Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2011, que tramita na Câmara Municipal. Segundo o documento, está fixada a despesa de R$ 25,3 milhões com o HPS, enquanto a segurança no trânsito — compreendendo a administração geral, a mobilidade urbana sustentável e a educação para o trânsito — tem gastos fixos em R$ 145 mil. A LOA depende de aprovação do Legislativo.

Simulação feita pela Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora

Os textos são revisados por Thaísa Hosken