Vida a dois

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O que muda na vida a dois quando ela passa
a ser a tr?s, quatro, cinco...


Casais que tiveram filhos contam o que mudou no relacionamento depois desta experi?ncia. Quem opta por n?o aumentar a fam?lia fala da decis?o. E o que dizem os psic?logos sobre ELES.


O casal Ant?nio e Lucilene Carvalho, com a filha Maria Luiza

Rep?rter: Luciana Mendon?a
15/04/99

Com pouco mais de um m?s de vida, Maria Luiza ? a alegria de Lucilene Carvalho, 31 anos, e Ant?nio, 43, casados h? dois anos. Encantados com a filha, eles aconselham ?queles que est?o pensando em ter um beb? a n?o adiar muito. ?A vida muda depois de um filho, mas ? maravilhoso?, conta Lucilene. ?O relacionamento do casal amadurece, fica mais consciente, a gente passa a entender melhor um ao outro e n?o d? aten??o para detalhes bobos?.

A mesma opini?o tem a professora universit?ria Alice Arcuri, 36 anos. Ela considera que a chegada de um beb? aproxima afetivamente o casal, por ser algo que eles conseguiram juntos. ?Voc? abre m?o de v?rias coisas e cede lugar para os filhos. Isso diminui o ego?smo. Filhos trazem muitas alegrias.? Alice ? casada h? cinco anos e tem duas crian?as: uma de 3 anos e 5 meses e outra de 1 ano e 10 meses.

Mas nem s? de flores vive um casal que resolve ter um beb?. Alice conta que os primeiros meses da sua gravidez n?o mudaram em nada a rotina com o marido. ?Voc? viaja, sai ? noite, tudo como antes. Mas a partir do oitavo m?s, fica mais dif?cil: a mulher fica muito pesada, a barriga ? muito grande e o relacionamento sexual, ainda que n?o pare, diminui bastante. A ansiedade aumenta.?

?Depois que o filho nasce, a rotina muda mais ainda? - continua Alice. ?Eu tenho que cuidar do beb?, da casa, trabalhar e ainda reservar um tempinho para o marido. Eu fiquei um pouco estressada porque n?o tinha quem me ajudasse. Os tr?s, quatro primeiros meses s?o bem complicados.? Ela conta que, na primeira gravidez, o marido foi mais participativo, acordava ? noite para cuidar do nen?m; o que n?o aconteceu com tanta freq??ncia na segunda gravidez.

A psic?loga M?nica de Carvalho Pereira explica que, nos primeiros meses ap?s o nascimento de uma crian?a, o sentimento maternal ? maior e ? normal o pai se afastar um pouco. ?Trata-se de uma experi?ncia s? de m?e e filho, pois ? ela que amamenta, que est? mais pr?xima. A crian?a s? percebe a m?e ? sua volta?. (Isto se aplica tamb?m aos filhos adotados, j? que o la?o se forma entre o beb? e quem d? banho, alimenta, cuida dele.) O pai costuma ficar um pouco enciumado com esta situa??o uma vez que a cumplicidade do casal diminui com o nascimento do beb?. Mas isto ? tempor?rio, garante a psic?loga.

Gravidez planejada e gravidez inesperada

As mudan?as no relacionamento de um casal que planeja a gravidez acontecem mais naturalmente, pondera a psic?loga M?nica Pereira. ?Em geral, quem planeja tem uma situa??o financeira definida e um preparo emocional. Mas isso n?o quer dizer que a gravidez inesperada v? atrapalhar a vida a dois. Pode haver alguns desentendimentos, mas o casal acaba conseguindo se estruturar?, explica M?nica.

Para a psic?loga, o teste mais dif?cil que um casal pode enfrentar acontece quando o beb? nasce com algum problema de sa?de. A situa??o delicada e inusitada mexe com qualquer relacionamento. ?Tanto o homem quanto a mulher tendem a se culpar injustamente pelo ocorrido e ?s vezes, eles se afastam um do outro para tentar entender o que ocorreu. Para superar os conflitos, ? aconselh?vel at? que eles procurem a ajuda de um terapeuta?.

Casais que optam por n?o ter filhos

Por medo, principalmente, das mudan?as que uma gravidez pode provocar no relacionamento, alguns casais optam por n?o terem filhos. ? o caso da vendedora CMB, 30 anos, e de seu marido, 33 anos. O casal, que preferiu n?o se identificar, est? junto h? quase tr?s anos e n?o pensa em aumentar a fam?lia. ?Um filho mudaria completamente a nossa rotina de vida; n?s viajamos muito, trabalhamos o dia todo e uma crian?a poderia significar noites sem dormir, n?o poder?amos mais curtir os finais de semana nem dormir at? mais tarde?, confessa CMB.

Ela e o esposo moram distantes da fam?lia e n?o teriam com quem deixar o beb? para trabalhar. ?A quest?o financeira ? o que mais pesa, por n?o termos estrutura - desabafa CMB - mas, independente disso, achamos que um filho poderia mudar muito nossa vida e n?o sabemos se isso seria bom. Por enquanto, est? tudo bem, mas n?o sei se daqui ? 20 anos vou me arrepender. ?s vezes fico pensando se esta n?o ? uma atitude ego?sta.?

A psic?loga M?nica Pereira acredita que esta op??o por n?o ter filhos pode ser considerada uma mudan?a de paradigma dos tempos atuais. Desde que a mulher come?ou a tomar p?lula anticoncepcional e entrou para o mercado de trabalho, ter filhos deixou de ser algo inevit?vel. As fam?lias ficaram, inclusive menores, com um ou, no m?ximo, dois filhos.