Ciúme  

Distúrbios afetivos têm 50% dos casos ligados ao medo da traição

Colaboração:
Repórter Ana Maria Reis
20/10/99

Ciumentos

Eles não negam que são ciumentos e também assumem que já sofreram desse mal em relacionamentos passados: DM, 23 anos, e RF, 22, conheceram-se há quase um ano, mas estão namorando, “oficialmente”, há apenas quatro meses. Apesar do relacionamento aberto dos primeiros tempos, o ciúme sempre esteve presente.

“Sentia-me irritada com a idéia de ele estar saindo com outras garotas apesar do nosso único compromisso ser o de se prevenir nas outras relações sexuais que tivéssemos”, explica RF, que nunca usou camisinha para transar com DM. No dia em que resolveram colocar as “cartas na mesa” e assumir que estavam apaixonados, ela encontrou duas embalagens de preservativo na mochila do “então” namorado. “Não pensei duas vezes e joguei as camisinhas pela janela do apartamento dele”, confessa RF, assumidamente a mais ciumenta da relação.

Possessividade, insegurança e desejo

Do clássico shakespereano, que descreve a intriga armada para separar Otelo e Desdêmona, às corriqueiras discussões entre casais, o ciúme é o bode expiatório mais freqüente. Capaz de assombrar qualquer relacionamento, ele continua a inspirar obras literárias, o cinema e a arte em geral e, levado às ultimas conseqüências, é encarado como patologia.

Para a psicóloga do Núcleo Integrado, Rosângela Rossi, o ciúme tem origem em dois movimentos: o primeiro ligado à posse, à insegurança gerada pelo medo da perda. O segundo tipo, o qual ela considera o mais “forte”, está ligado ao desejo. “A pessoa projeta no parceiro o próprio desejo da traição e transfere a culpa das fantasias reprimidas à obsessiva desconfiança de estar sendo traído”, analisa Rosângela.

Paixão, medo e terapia

Como a heroína do filme “Gabbeh”, do diretor iraniano Mohsen Makhmalbaf, os idosos também estão propensos a enciumar-se, mas é preciso lembrar-se que esta emoção é um sentimento jovem por natureza, pois está ligado à paixão. A adolescentização, neste caso, não diz respeito à faixa etária, mas, sim, ao amadurecimento da relação. “Neste filme, a personagem tem ciúme dela própria quando jovem. Ela acha que o seu parceiro deseja é a beleza de outrora, e a perseguição da imagem que já foi sucumbe a sabedoria atingida pela idade”, observa Rosângela Rossi.

Para a psicóloga, 50% dos casos ligados a distúrbios afetivos têm como causa o ciúme e o medo de ser traído. O método de cura baseia-se na integração da terapia profunda (de longo prazo e que trabalha os parceiros invisíveis, isto é, aqueles que permeiam as fantasias reprimidas) e a terapia comportamental, a amenizar os sintomas da doença, como a angústia, a tristeza e a raiva.

Amor e exclusividade

Já a sexóloga Marilza da Costa Roquette Vaz acredita ser o amor a causa máxima do ciúme. “É o único sentimento a exigir absoluta exclusividade para existir”, explica. Ao contrário da psicóloga Rosângela Rossi, Marilza afirma que psicoterapias não bastam para curar o mal do ciúme. “As psicoses não têm cura e a compensação dos males gerados pode vir com um tratamento psiquiátrico aliado à medicação específica”.

De acordo com a sexóloga, a emancipação da mulher é apenas teórica e não é o que inspira o ciúme masculino. “O ciúme do homem está ligado à milenar condição de posse e à sua obstinação em provar à sociedade de que a prole é realmente sua. A mulher, por sua vez, vê-se fragilizada pela avaliação do parceiro”, avalia Marilza. Para ela, a mulher conforta-se em ser a melhor experiência amorosa e sexual do marido, mas jamais vê-se convencida disto.


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      Sim. O ciúme é natural a todos que amam e querem exclusividade.
   

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