Juliano Nery Juliano Nery 26/11/2010

Febres de verão

prato de planta com águaO verão vem chegando de mansinho. Seja com uma pancada de chuva mais forte, com o abafamento típico da época ou um sol majestoso, daqueles de propaganda de clubes aquáticos, ele já vem dando o ar de sua graça. Verão, período marcado por inúmeras febres, como os novos sucessos de um cantor teen ou uma nova forma das mulheres se vestirem e provocarem os rapazes de plantão... Mas existe uma outra febre abaixo da linha do Equador e essa, não passa pelo ardor de um Justin Bieber ou por uma minissaia inspirada no desejo masculino. Há ainda, caro leitor, algumas febres literais, ou seja, aquelas que passam dos 40 graus, identificadas pela falta de apetite, moleza no corpo, diarreia... É a dengue, fazendo suas vítimas, impiedosamente.

Para esta doença, não há necessidade de qualquer apelo promocional para que ela possa se alastrar. Basta que existam as condições necessárias para a sua proliferação, o que em Juiz de Fora não é nada complicado: chuvas e ambiente abafado funcionam que é uma maravilha para criar o ambiente mais do que confortável para a reprodução do Aedes aegypti. Os resultados são alarmantes em nossa região. Basta ver os números deste ano para a doença, que atingiu mais de 9 mil pessoas em nosso município, causando, inclusive, algumas mortes. Sem dúvida, um sucesso em epidemia e que merece um combate à altura.

Neste sentido, tenho visto com bons olhos o trabalho da municipalidade em relação a medidas preventivas para a redução do número de casos da doença. A parceria com o Exército, a contratação de novos agentes epidemiológicos são uma importante partida, já que com o aumento do contingente nas visitas domiciliares podem reforçar as principais medidas para exterminar o nascedouro de mosquitos. Até o projeto de aquisição, por parte da prefeitura, de imóveis particulares abandonados por mais de três anos me parece uma boa. Mas, nada substituirá o importante papel da comunidade. Seja no mundo da moda, musical ou das epidemias, as febres só avançam quando tem apelo popular. E aí, é necessário que cada um faça a sua parte.

Lembra daquele pneu velho da Vespa do Tio Damião, acumulando água no fundo do quintal? E a plantinha adquirida no último festival de orquídea, já morta e ensopada com a água da última chuva? Sem contar as latas de óleo, de cerveja e as garrafas de vinho e de refrigerante... É ali que o mosquito gosta de deixar ovos. E tanto melhor se a água estiver limpa e fresca. Portanto, esqueça daquele velho paradigma de que "comigo ou no meu bairro, isso não acontece". Esse sentimento de im(p)unidade em relação aos problemas do mundo são o primeiro passo para se pertencer a lista de estatísticas.

Pelo pouco que entendo do assunto, o melhor a fazer é seguir as recomendações dos órgãos de saúde e ao menor sintoma da doença, procurar os devidos cuidados médicos. E, na dúvida, não recorra a automedicação. Mediante aos riscos, o que é ruim pode ficar ainda pior...

Vamos aproveitar as boas febres de verão, que trazem consigo, como diria aquele antigo sucesso da Marina Lima, "calor no coração". Mal posso esperar para ver as pernas de fora, ouvir as novas canções que ecoarão durante os próximos meses na rádio. Só não quero notícias do outro tipo de febre e nem do tal mosquito da dengue...

Juliano Nery trocaria todos os mosquitos da dengue e todas as canções do Justin Bieber para ver qualquer bela garota de minissaia no verão 2011.



Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e Mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.