Investimentos de R$ 9 bi criarão 36 mil empregos em JFInvestimentos viários, guerra fiscal e recursos do Estado atraem empresas para a cidade. Para professores e policiais civis, salário ainda é problema

Pablo Cordeiro
*Colaboração
29/3/2010

A dois dias do término de seu governo estadual e início de uma caminhada rumo ao senado, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), esteve em Juiz de Fora para anunciar um conjunto de investimentos bilionários, a fim de recolocar o município na ponta da economia e do desenvolvimento do Estado. Cinco novas empresas firmaram instalação na cidade, gerando um investimento de quase R$ 9 bilhões e proporcionando a criação de 5.638 empregos diretos e 26.568 indiretos (confira box abaixo). 

Esta atração de empresas é um conjunto de medidas do programa Nova Juiz de Fora, que prevê o destaque há muito tempo buscado pela cidade no cenário econômico e político nacional. Além da captação de empresas e geração de empregos, o governo do Estado também anunciou a verba de R$ 60 milhões para obras viárias, que, somados à contra partida de R$ 6 milhões da Prefeitura (PJF), irão resultar na melhoria da infraestrutura de Juiz de Fora. A medida terá início em julho deste ano, com a reurbanização completa das avenidas Rio Branco, Andradas e Getúlio Vargas (novos pontos de ônibus, novas calçadas, nova iluminação, novas sinalizações verticais, horizontais e semafóricas) e com a nova pavimentação da avenida Independência. A fase inicial destas obras viárias irá custar R$ 25 milhões do investimento total.

O Grupo Ferrous Resources do Brasil, responsável pela implementação de uma mineradora e de uma siderúrgica na cidade, tem a previsão de gerar uma receita anual de R$ 1,258 bilhão. A previsão de início das obras é para 2014, com possibilidade de antecipação. O terreno de 10 mil metros quadrados localiza-se na Zona Norte e está em fase de licenciamento e avaliação ambiental. O grupo tem matriz localizada no Espírito Santo e gera um lucro de R$ 18 bilhões anuais. Segundo o diretor do grupo, Mozart Kremer, 50 milhões de toneladas de minério de ferro serão pesquisados e caracterizados para produção do minério da mais alta qualidade. "Vamos trazer uma nova história para Minas Gerais", define.

"O programa Nova Juiz de Fora é o conjunto de medidas mais completas e ambiciosas de nossa região, pois não resulta em uma iniciativa isolada, mas em um mecanismo contra a estagnação econômica. Nos últimos cinco anos, a PJF teve o investimento de R$ 20 milhões por ano. Somente estas obras viárias e da saúde somam mais do que este montante", ressalta o prefeito Custódio Mattos.

O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Sérgio Barroso, salientou que o Estado não está fazendo guerra fiscal e, sim, ampliando a competitividade econômica. "Os investimentos da Zona da Mata irão continuar após o fim do governo Aécio. Queremos que aqui seja um grande cluster do setor de ferro e aço em construções. Juiz de Fora será alvo de grandes investimentos e não mais será conhecida como a Manchester Mineira. Mais duas empresas que estavam instaladas em outros locais devem vir para a cidade."

Mercedes-Benz irá dobrar empregos

No palanque, Aécio Neves leu uma carta enviada pelo conselho diretor do grupo Daimler, responsável pela Mercedes-Benz no Brasil, assegurando que a empresa adota novas medidas para impulsionar a produção de veículos no país. Segundo a assessoria da PJF, a expectativa é de que a quantidade de empregos dobre, criando cerca de 1.200 novos postos de trabalho, além da aquisição de novos equipamentos e instalações. A previsão de início das mudanças é para agosto. 

Para o cientista político Rubem Barboza, o anúncio das obras traz um ponto positivo para Juiz de Fora, resultando na melhoria direta da economia local. "A economia tem nós que a política pode resolver. Com a revitalização da Mercedes e com a atração de siderúrgicas, os representantes políticos irão demonstrar que podem melhorar nossa imagem. A economia vinha em um baixo dinamismo e com este investimento irá dar uma nova cara para a cidade." Na ocasião, Neves também recebeu o relatório dos jovens inscritos no programa Poupança Jovem.

Saúde, Hospital Zona Norte e novo CAS

O capital humano especializado e o suporte científico-tecnológico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) também são pontos a favor desta atração econômica. Tanto que o governo do Estado anunciou a verba de R$ 16 milhões para a construção do novo hospital da UFJF, instalado no terreno anexo ao do Hospital Universitário Unidade Dom Bosco (HU/CAS). Segundo a assessoria do CAS, a obra irá resultar no maior hospital da região, com projeto no valor de R$ 56 milhões e 350 leitos hospitalares, dos quais, 50 serão encaminhados à UTI.

Sobre o Hospital de Urgência e Emergência da Zona Norte, Aécio anunciou a liberação de R$ 8 milhões, a segunda parcela do valor total de R$ 42 milhões. Ele será construído na rua Henrique Burnier, no bairro São Dimas, próximo à rodoviária da cidade. Com cerca de 20 mil metros quadrados, a unidade terá 240 leitos (40 de UTI) e uma base operacional do Samu. Estima-se que 1, 6 milhão de usuários da cidade e da região serão atendidos pelo hospital. As obras do hospital terão início na próxima terça-feira, 30 de março. A segunda parte da construção será entregue a uma empresa privada, cuja licitação está sendo preparada. A conclusão deverá ocorrer até o final de 2011.

Foram anunciados ainda recursos para a manutenção da saúde local: R$ 560 mil foram investidos na construção de duas Unidade de Atenção Primária à Saúde (Uaps), uma no bairro Nossa Senhora Aparecida e outra no bairro Santa Cândida; R$ 774 mil para a criação Centro de Atenção Psicossocial III (Caps), e R$ 1,180 mi para uma Uaps no bairro Vila Ideal, que abrigará também o laboratório central da Secretaria. 

Professores e policiais civis reclamam do descaso

Antes do início do evento, policiais civis e professores protestavam na frente da tenda armada para receber o governador. Nos cartazes do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE) as mensagens recriminavam as promessas não cumpridas do governador, assim como o baixo reajuste salarial da classe. "Os professores não estão recebendo o piso de 2008 que o Lula transformou em lei. Os educadores estão desvalorizados e a educação sucateada", ressalta a aposentada Déia Lacerda.

Segundo a diretora do SindUte, Rosa Maria Pereira, caso os professores estaduais não recebam reajuste para o piso salarial, conforme a proposta de R$ 1.500, a classe entrará de greve no dia 8 de abril. "Hoje, o piso é de R$ 336 e os trabalhadores de serviço gerais ganham menos ainda. Na educação, o governador não está cumprindo nada do que prometeu. Quando recebemos alguma gratificação, o governo joga no salário e não no piso. Somos contra isso", pontua.

O Sindicato dos Servidores da Policia Civil de Minas Gerais (Sindipol/MG) reivindica mais atenção para o reajuste desigual da classe, para a criação da carreira jurídica e para o terceiro grau para agentes e escrivães. "O aumento de 15% foi insuficiente e está longe do que é preciso", diz o diretor administrativo Gustavo Vaz de Mello. O diretor do sindicato, delegado Marcelo Armstrong, destaca que no mínimo, só de recomposição salarial, o reajuste deveria ser de 32%. "Na época do governo Itamar, recebíamos cinco salários mínimos, agora são quatro. Também reivindicamos adicional de periculosidade. Outras categorias, como a defensoria pública e a procuradoria receberam mais de 25% de aumento e nós, apenas 15%", explica.

A instituição da carreira jurídica para delegados será votada nesta segunda, 29, às 20h, na Assembleia Legislativa. "Queremos ter os mesmos direitos que os defensores públicos e procuradores, que possuem benefícios advindos da carreira jurídica. Os delegados exercem funções típicas de juízes e promotores de justiça sem haver equiparação salarial", explica Armstrong. Segundo o delegado, o governo prometeu encaminhar a necessidade de terceiro grau para a categoria para votação até o final da semana.

Estima-se que quatro mil pessoas estiveram presentes no evento, entre estudantes da rede pública estadual e municipal, funcionários públicos, vereadores da situação e da oposição e autoridades. Duzentos e quarenta policiais militares estiveram no evento.

Primeiro helicóptero para apoio em Juiz de Fora

O governador também anunciou a primeira aeronave para salvamento e segurança da cidade. O helicóptero foi descentralizado de Belo Horizonte e irá operar diretamente no município. "Antes demorávamos 1h10 para darmos apoio à PM e à Defesa Civil porque vínhamos de BH. Agora, a espera será de 5 minutos", explica o tenente da 4ª Companhia de Rádiopatrulhamento aéreo (Copaer) de BH, Alexandre Miranda. "Vamos auxiliar no meio ambiente e no transporte de alimentos."

Empresas a serem instaladas

Com os novos empreendimentos, são seis empresas a aportarem em Juiz de Fora pelo ICMS reduzido proveniente da guerra fiscal com o Rio de Janeiro. O complexo industrial de Construções Metálicas ICEC (Centro de Soluções em Aço - CSA) foi a primeira empresa a enxergar o município como ponta de investimento. As operações da empresa têm início em 2011. O investimento foi de R$ 130 milhões e a quantidade de empregos é de 547 diretos e 1500 indiretos.

Empresas que chegam:

1. Açotel Ferro e Aço Estruturas metálicas

Investimentos: R$ 20 milhões

Empregos: cerca de 120 diretos e 150 indiretos.

2. Codeme Estruturas metálicas

Investimentos: R$ 60 milhões

Empregos: 500 diretos e 200 indiretos.

3 Grupo Ferrous Siderurgia

Investimentos: R$ 8,8 bilhões

Empregos: 4.600 diretos e 26 mil indiretos

4 INUSA: Estruturas metálicas

Investimentos: R$ 17 milhões

Empregos: 118 diretos

5 SAMAG: Metalurgia

Investimentos: R$ 60 milhões

Empregos: 300 diretos e 100 indiretos

*Pablo Cordeiro é estudante do 10º período de Comunicação Social da UFJF

Os textos são revisados por Madalena Fernandes