Eficácia da inversão do fluxo nos ônibus depende do uso em massa da bilhetagem eletrônica Comset acredita que normalização do atendimento deve demorar até seis meses para acontecer. Usuários reclamam de pouco espaço para idosos

*Eliza Granadeiro
Colaboração**
22/12/2010
Foto de pessoas entrando pela frente dos ônibus

A mudança na orientação de embarque e de desembarque — entrada pela porta da frente e saída pela porta traseira dos ônibus — em quase todos os veículos da frota de Juiz de Fora pode demorar um pouco para ter eficácia. De acordo com o vice-presidente da Comissão Municipal de Segurança e Educação para o Trânsito (Comset), Mário Jacometti, só o uso em massa da bilhetagem eletrônica será capaz de normalizar o fluxo alterado com a inversão.

"Enquanto todo mundo não tiver o cartão, o sistema não vai funcionar perfeitamente. Alguns idosos, que ainda não têm o cartão eletrônico, continuam subindo pela dianteira e descendo pela frente do ônibus, o que ainda causa tumulto, nos horários de pico. Quando todos começarem a utilizar a bilhetagem eletrônica, passando pela roleta e descendo pela traseira, o fluxo vai melhorar." Ele estima que a normalização do serviço deve demorar de quatro a seis meses para acontecer.

Segundo Jacometti, a expectativa é tão positiva, que é possível vislumbrar um futuro em que os bancos dianteiros sirvam como auxiliares. "Os benefícios serão verificados, conforme a quantidade de pessoas que usam o cartão aumentar. A população precisa ter paciência, é um processo que leva tempo, mas que funciona em diversas cidades do país."

Por enquanto, a inversão está desagradando alguns juizforanos. A principal reclamação é que com o aumento de pessoas na frente dos ônibus, os idosos, muitas vezes, ficam sem assento e são obrigados a viajarem em pé. "A inversão só piorou o transporte. Na maioria das vezes, os idosos ficam sem lugar para sentar, porque os assentos destinados a eles já foram ocupados na parte da frente. Outra coisa muito ruim é que o passageiro não pode mais pedir informações da localização do destino, porque tanto o motorista quanto o trocador estão longe de onde descemos", afirma a passageira Dulcimar Aparecida de Andrade.

"A mudança aumentou a confusão dentro dos ônibus, porque fica muita gente aglomerada no mesmo lugar. Na hora de desembarcar, como estamos no fundo, o motorista não vê se temos bolsas, crianças de colo, e isso pode ser perigoso, já que o condutor pode dar partida no ônibus e acabar machucando alguém", comenta a passageira Cristina Teixeira.

A inversão do fluxo teve início no dia 2 de agosto. Técnicos da Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra) analisam como principais benefícios o menor tempo de embarque, mais conforto e maior espaço útil para acomodação dos usuários. Para o assistente administrativo do Departamento de Transporte Público, Tiago Oliveira, o descontentamento dos passageiros ocorre porque a mudança ainda é algo novo na cidade. "O processo de inversão causa certo estranhamento porque as pessoas ainda não se acostumaram com ele. Com o tempo, os passageiros vão se adaptar melhor", afirma.

Preferência continua sendo questão de conscientização

Quanto às reclamações, principalmente referentes aos idosos, Oliveira fala que é uma questão de conscientização das pessoas. "Fizemos campanhas de esclarecimento na televisão e no rádio para informar os juizforanos da mudança. Agora, a campanha acontece dentro dos próprios coletivos com a implantação de cartazes explicativos", completa. Ele concorda com Jacometti e explica que uma das medidas para facilitar o fluxo nos coletivos é o cartão do idoso. "Quando os assentos preferenciais estão ocupados, os idosos podem usar o cartão de acesso que permite que eles passem pela roleta. Assim, a quantidade de passageiros na frente dos ônibus diminui e os idosos podem ocupar assentos no interior do coletivo." A Astransp é a responsável pela confecção gratuita dos cartões para os idosos. Os interessados devem entrar em contato pelo telefone (32) 3228-9700.

Segundo informações da Settra, os assentos preferenciais para grávidas, idosos, obesos e portadores de deficiência continuam assegurados, no espaço antes da roleta, próximo ao motorista. Em 97% da frota, nos ônibus em que o motor é dianteiro, são sete bancos destinados às categorias preferenciais. Já os veículos com motor traseiro possuem oito assentos preferenciais. Sobre a reclamação de pouca visibilidade do motorista em situações de desembarque, a Settra informa que há espelhos convexos instalados junto às portas dos ônibus, com a finalidade de manter a segurança na hora do desembarque.

"Uma outra medida que visa facilitar o fluxo é a autorização pela Settra do desembarque dos passageiros pela porta que fica no meio do coletivo, normalmente exclusiva para deficientes físicos", afirma Oliveira. Ele esclarece que a Settra disponibilizou o telefone (32) 3690-8218 para receber as reclamações dos passageiros.

Bilhetagem em massa contribuirá com tarifa mais justa

O vice-presidente da Comset analisa ainda que a bilhetagem eletrônica em massa vai permitir que o cálculo da tarifa do transporte coletivo seja mais justa. Ele esclarece que atualmente os valores estabelecidos nas planilhas de cálculos, que dependem do número de gratuidades, são estimativas. "O cálculo de gratuidades é feito por amostragem e aglutinação. Quando todos os usuários passarem a atravessar a roleta, poderemos saber, exatamente, quem usa o transporte coletivo. Poderemos identificar quem são os idosos, quem são os estudantes, quem são os carteiros e oficiais de justiça, quanto eles representam na utilização do serviço e que compensação é necessária para garantir esse acesso."

*Eliza Granadeiro é estudante do 6° período de Comunicação Social da UFJF

**Colaborou Clecius Campos

Os textos são revisados por Thaísa Hoskem