Skatistas de JF cobram atitudes para melhorar a prática na cidade

Praticantes sofrem com assaltos e falta de infraestrutura das pistas existentes

Laura Lewer
*Colaboração
7/06/2014
Praça Antônio Carlos

Quatro assaltos nos últimos dois meses, dois deles com armas de fogo e, os outros dois, com facas. É por isso que têm passado os skatistas que adotaram como pista a rua sem saída localizada atrás do supermercado Carrefour, na avenida Barão do Rio Branco 5001. Sabendo da movimentação de jovens no local, duplas de assaltantes realizam a abordagem e levam chaves de carro, celulares e dinheiro.

De acordo com o skatista administrador do grupo do Facebook Carrefas Skate Club, com mais de 280 membros, Fábio Hauck, os Boletins de Ocorrência (B.O) foram feitos, mas nada mudou. "De vez em quando a Polícia Militar [PM] faz uma ronda, mas a situação continua. Falaram que iam aumentar a vigilância, mas nada foi feito e aindam reclamam quando andamos nas ruas do Centro", diz. Segundo Hauck, os assaltos normalmente ocorrem nos finais de semana, no período da tarde, e têm intimidado os praticantes. "Fazemos algumas filmagens lá e estamos parando com medo de que o pessoal possa perder os equipamentos."

De acordo com Brunner Lopes, representante da Associação Juiz-forana de Skate (AJS), a onda de assaltos também existe na rua Renato Dias, no bairro Bom Pastor. "Estamos orientando os skatistas mais novos a tirar foto de seus skates e, caso sejam roubados, postamos nas redes sociais para que tentem encontrar. A PM se defende, afirmando que nenhum pedido oficial de segurança foi feito.

Estrutura e skateatas

O problema dos skatistas de Juiz de Fora começa na infraestrutura oferecida para a prática da atividade. Hoje, constam na Prefeitura de Juiz de Fora 16 espaços dedicados ao esporte e outros três em construção/a serem construídos, mas, segundo Brunner, nenhum deles têm estrutura para aguentar a demanda atual. "Os lugares têm buracos, não têm iluminação ou foram construídos com as medidas erradas. Na pista do Vitorino Braga o abandono é total e já não atende o número de skatistas. A da UFJF, por exemplo, tem praticamente metade do tamanho da do Vitorino e tem dias que você encontra uma média de 40 skatistas dividindo o espaço", conta.

Motivados por essas questões, os praticantes da modalidade já realizaram três skateatas em Juiz de Fora. Nos eventos – que já levaram até 80 skatistas às ruas – eles aproveitam para reivindicar algumas questões. "Nos inspiramos nos modelos do Rio de Janeiro, que fazem um movimento super bem-sucedido, conseguindo inclusive a liberação da praça XV de Novembro para a prática do skate". Mais um evento será realizado para a comemoração do Dia Mundial do Skate, em 21 de junho.

Pista da UFJF Skateata 2013

Audiência

Outra atitude foi a realização de audiência pública na Câmara Municipal, em abril, proposta pelos vereadores Júlio Gasparette (PMDB) e Jucelio Maria (PSB). Nela, foram expostas as demandas das várias modalidades do skate. De acordo com Brunner, "os principais objetivos são as pistas ou praças de skate – locais que são adequados para receber o impacto da prática. As pistas da cidade foram baseadas na concepção do skate como prática esportiva de competição, o que a limita. Tem skatista que não gosta de competição, e sim de um local com chão liso e pistas mais tranquilas". Outro assunto tratado foi a retomada do projeto social JF nos Trilhos da Paz, que funcionou até 2007, levando escolinha de skate para bairros como Ipiranga, Vila Ideal, Olavo Costa, Vila Esperança e Vitorino Braga. O projeto foi interrompido por causa da falta de infra-estrutura dos espaços disponíveis. Demais demandas, como a liberação da prática do skate na Praça do Manoel Honório, solicitação de capina, lixeiras e limpeza das pistas, construção de mini rampas no Mundo Novo e Bonfim e estudo de construção de uma pista de downhill serão oficializadas nos órgãos competentes.

Como resultado da audiência, ficou decidida a reforma imediata de duas pistas da cidade: a da Praça Antônio Carlos e Vitorino Braga. A previsão da Secretaria de Esportes e Lazer é de que as obras comecem no segundo semestre deste ano.

Pista do estádio

Um processo que se arrasta há cerca de três anos é referente à construção da pista do Estádio Municipal, cujo projeto é de 2011. Em 2013, o recurso cedido pela Secretaria de Esporte para Juiz de Fora e rejeitado pela administração do ex-prefeito Custódio Mattos teve que ser recuperado às pressas, pelo ex-vereador Francisco Canalli. Segundo Canalli, quando a obra começou, algumas pessoas pediram sua interrupção alegando ter título de propriedade da área. "A procuradoria do município está fazendo um levantamento de documentação pra confirmar se parte do terreno pertence às pessoas. Se a posse for confirmada, faremos imediatamente o processo de desapropriação. Se não tiver uma comprovação da posse, solicitaremos uma autorização para dar continuidade." A retomada da construção também está prevista para o segundo semestre.

 Enquanto o segundo semestre não chega, os skatistas continuam lutando por mais espaços para a prática em Juiz de Fora. Um abaixo-assinado para a liberação do skate na praça do Manoel Honório está em fase de coletas de assinaturas e reuniões com a associação de moradores do bairro também serão feitas. Acima de tudo, a conscientização por parte dos skatistas nunca para. "Temos que ter a ideia de que o skate é uma prática urbana que surgiu inicialmente como lazer e só depois foi adaptada para a prática esportiva. A sociedade tem que entender que retirar completamente o skate das ruas é utopia. Entendemos que ele causa uma série de impactos no meio urbano, então temos que buscar políticas públicas que nos ofereçam lugares específicos e bons", encerra Brunner.

*Laura Lewer é estudante do 7º período de Jornalismo do CES/JF