"Se nada mudar, as pessoas vão se matar por água em 2022", diz professor da UFJF

Fábio Roland, coordenador do Laboratório de Ecologia Aquática da UFJF, alerta que o comportamento das pessoas têm que mudar com urgência

Lucas Soares
Repórter
14/10/2014

A falta de água que acomete a região Sudeste desde o começo de 2014, vem levantando uma série de preocupações aos especialistas em meio ambiente.

No entanto, a estiagem, apontada como principal causa pelos baixos níveis das represas, não é o motivo da seca, na opinião do professor Fábio Roland, coordenador do Laboratório de Ecologia Aquática da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor na mesma instituição. De acordo com Roland, as pessoas precisam mudar o comportamento urgentemente. "O problema imediato não são as mudanças climáticas. Se em outubro já deveria estar chovendo, isso é outra questão. O uso dos recursos hídricos está acontecendo em uma escala galopante nas últimas décadas, cada vez menos educado. Se não houver educação básica, fundamental, que mexa em tudo que diz respeito ao uso dos recursos hídricos, não adianta chover. A cultura da abundância tem que ser eliminada", opina.

Para o especialista, um dos graves problemas acontece em tarefas do dia-a-dia. "As pessoas não sabem lavar louça, não sabem lavar calçadas, tomam banhos longos. O poder público se omite ao não anunciar o que estava na eminência, em uma região como Juiz de Fora, com 600 mil habitantes, que isso iria acontecer. Não tem água para ser usada de maneira tão mal educada como vem sendo usada. Não existe captação de água de chuva, o terreno está majoritariamente soterrado, o esgoto doméstico não é tratado. É um ciclo de mal uso. A culpa não é da natureza, da falta de chuva. Isso é consequência", garante.

Ainda de acordo com Roland, o problema é grave e deveria estar sendo debatido pelos candidatos à Presidência da República. "Os dois estão absolutamente despreparados para isso. Não vai ter eleição em 2022 se não tratar de água agora. Não é em 2018. Se nada mudar, as pessoas vão se matar por água em 2022. Só através da educação que se pode mudar essa situação. Para obrigar uma pessoa mais velha que faz uso inconsciente da água a utilizar corretamente, é preciso que a neta e o filho falem, a mídia faça programas voltados para isso. O problema é sério! Acaba o planeta se não tiver água. Quem quer ser presidente tinha que ter uma proposta clara sobre o uso e abuso dos recursos hídricos no Brasil", comenta.

Em Juiz de Fora

Em Juiz de Fora, segundo a Cesama, a Represa de São Pedro está operando com cerca de 1% da sua capacidade, atuando, praticamente, somente com a vazão dos córregos que a alimentam. A Represa Dr. João Penido opera com cerca de 27%. Já a vazão do Ribeirão do Espírito Santo, que é um manancial de passagem, também está abaixo do esperado.

No entanto, segundo a assessoria do órgão, estão sendo realizados diversos investimentos no sistema de abastecimento do município desde o início de 2013, como a estação de bombeamento (booster) construída ao lado do Parque de Exposições e a nova adutora de Chapéu d'Uvas, que encontra-se em fase de testes. Além disso, outros trabalhos complementares estão em andamento para melhorar o sistema como um todo, como a ampliação da Estação de Tratamento de Água Walfrido Machado Mendonça (ETA CDI) e, a implantação da subadutora de São Pedro e do reservatório do bairro Caiçaras, na Cidade Alta. Os investimentos somam quase R$ 70 milhões.

Ainda de acordo com a Cesama, como a Represa de São Pedro está com o nível praticamente zerado, ela não está sendo suficiente para que supra, sozinha, o consumo da Cidade Alta, deixando algumas localidades da região sem água. Porém, a empresa afirma estar reforçando o abastecimento local através do sistema da área central da cidade e que está transportando água, por meio de caminhões pipa, para a Estação de Tratamento de Água (ETA) de São Pedro, para fazer a distribuição do produto.

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