A força das manifestações

Matheus Brum Matheus Brum 11/10/2017

Há algumas pessoas que não acreditam que a união da população consiga resultar em conquistas sociais. Pela polarização que vivemos no Brasil, seja no aspecto político, ideológico, financeiro, entre outros, a luta, através das manifestações, tem sido deixada de lado.

Curioso perceber esta situação, depois de quatro anos seguidos de grandes protestos, iniciados com as marchas de 2013, passando pelas críticas à Copa do Mundo, impeachment , golpe da Dilma e Fora Temer.

Juiz de Fora protagonizou, nesta segunda e terça-feira, um momento marcante. Um grupo de jovens, que reuniam diversos segmentos e movimentos sociais, ocuparam a Câmara Municipal. A medida foi tomada por causa do aumento do preço da passagem de ônibus, que passou de R$2,75 para R$3,10.

Não se trata apenas de R$ 0,35, e sim de um rombo no bolso de trabalhadoras e trabalhadores que suam, diariamente, para poder conseguir seu salário no final do mês e pagar suas contas; não se trata apenas de R$ ,35, mas sim uma crítica ao processo licitatório das “novas” empresas prestadoras de serviço, sem qualquer transparência; não se trata apenas de R$ 0,35, mas sim de uma luta para a melhoria do transporte público urbano, que há anos deixa a desejar.

A conquista do direito a ter todos os documentos e a planilha em que a Secretaria de Transporte e Trânsito se baseia o aumento é de suma importância para o entendimento do que está por trás do reajuste. Com eles em mãos, os movimentos sociais, sindicatos e organizações estudantis terão como conversar e cobrar o poder público municipal sobre o reajuste.

Para um trabalhador que precisa ir ao trabalho seis dias na semana, pegando dois ônibus (um para ida e outro pra volta), os gastos com transporte saltam em R$18,20, totalizando R$158,60 por mês. Se o trabalhador precisa de quatro transportes (dois de ida e dois de volta), o acréscimo é de R$36,40, totalizando R$317,20 mensal. Para quem tem utiliza o bilhete único (que agora passará a R$4,65), o reajuste causará um prejuízo de R$13,62, totalizando R$120,9 por mês. Estes gastos também servem para os estudantes.

Pode parecer pouco, mas segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, através do Censo 2010, o último feito de forma completa, 27,8% da população local vive com menos de meio salário mínimo (R$468,50) por mês.

Agora, consegue imaginar como este aumento vai pesar no bolso deles? E nos estudantes, quem não têm renda? E nas famílias que tem dois, três, quatro filhos, e todos precisam de condução para ir à escola? Segundo o Censo, 36,7% das 170.535 famílias de Juiz de Fora têm filhos.

E, para completar, alguém acha que o serviço público praticado em Juiz de Fora vale R$3,10 por passagem?

Acredito que não. Pior é ver que um dos motivos do aumento seja a diminuição do número de usuários entre 2015 e 2016. Nossa cidade consegue ir contra a Lei da Oferta e da Procura. Se menos gente utiliza o serviço, quer dizer que ele não está sendo satisfatório. Logo, teria que ser pensado uma diminuição no valor.

Por isso, acredito que todos nós devemos nos unir e cobrar, de forma incisiva, uma reavaliação nos custos. Mas, a mudança só vai ocorrer através da união. Que a população de Juiz de Fora possa se unir e juntos acabar com mais uma medida que gera um ônus absurdo à nossa gente.