Comerciantes e população cobram mais esclarecimentos sobre Área Azul Noturna

Serviço entra em funcionamento na próxima terça, 1º, e expectativa é pela saída dos flanelinhas

Lucas Soares
Repórter
29/08/2015

A Área Azul Noturna entra em funcionamento na próxima terça-feira, 1º de setembro, no bairro Alto dos Passos, na Zona Sul de Juiz de Fora. O serviço, já existente em outras cidades, funcionará pela primeira vez no município após diversos pedidos do setor de bares e restaurantes da região, para combater o alto número de "flanelinhas" na localidade.

Com a adoção da medida, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) pretende erradicar a prática da atividade de guardador de carro, considerada ilegal. Apesar de até o momento nenhuma ação efetiva do Poder Público ter conseguido retirá-los do local, a Secretaria de Governo afirma que está trabalhando na conscientização da categoria e acredita que desta vez a história será diferente. "A PJF vem desenvolvendo uma matriz operacional para dar aos cidadãos que exercem a atividade de flanelinha alternativas de obtenção de renda e até mesmo incluí-los em programas da PJF. Neste sentido, profissionais da Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS), em parceria com a Amac, realizaram um diagnóstico socioeconômico destes "flanelinhas". A partir destes dados, foram traçadas estratégias. Dentre elas, reinserção escolar destas pessoas, através do projeto Educação de Jovens e Adultos (EJA) e os programas nacionais de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e de Inclusão de Jovens (ProJovem). Outra proposta é referenciá-los para a Unidade de Atenção Primária à Saúde (Uaps) mais próxima de suas residências e utilizar o sistema de "Consultório de Rua" para aqueles que estão em situação de rua. Há, inclusive, a intenção de inseri-los no mercado formal de trabalho, através do JFEmpregos", explica, em nota.

No entanto, há quem acredite que o usuário terá que pagar dobrado pelo serviço de estacionamento na rua, como o professor Daniel Britto. "A Área Azul Noturna com certeza não vai funcionar. Isso é só mais uma forma da Prefeitura arrecadar dinheiro. Apesar de ter um comércio grande no bairro, aqui é uma área residencial. Meu pai mora aqui e, para eu parar na porta da casa dele, terei que pagar Área azul. Não tem cabimento isso", opina.

A Área Azul Noturna funcionará de 18h às 2h e custará R$ 2 pelo período de 90 minutos, podendo ser renovada quantas vezes o motorista achar necessário e, com isso, perdendo a característica de estacionamento rotativo. De acordo com a Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra), não haverá limite para aquisição dos créditos "devido a presença maciça de bares e restaurantes na região." Além disso, a pasta explica que "a fiscalização será realizada apenas por agentes de trânsito, com auxílio dos monitores da Área Azul, que são responsáveis por informar os agentes quando há algum veículo estacionado em desacordo com as regras do estacionamento rotativo pago. Toda a equipe de profissionais, sempre divida por turno, realizarão a fiscalização." As ruas que passarão a contar com as vagas são: Pedro Botti, Machado Sobrinho, Dom Viçoso, Padre João Emílio, Moraes e Castro, Dona Zely Lage, Severiano Sarmento e Barão de Aquino. Serão disponibilizadas cerca de 300 vagas. 

Questionada sobre eventuais danos nos veículos estacionados na região, a Settra afirma que "o objetivo da Área Azul é reorganizar, democratizar e promover a rotatividade e a acessibilidade das vagas no espaço público e não fazer a guarda de veículos. Questões referentes à segurança pública devem ser tratadas diretamente com os órgãos competentes."

Reunião

Na última terça-feira, 25, uma reunião envolvendo representantes da PJF, órgãos de segurança pública, comerciantes e moradores da região, definiu o plano de ação para o funcionamento do serviço.

O gestor executivo do Brasador Steakhouse, Pedro Felipe, revela que apresentou uma proposta à Settra em função dos funcionários. "Para nós, está sendo positivo, apesar do formato não ser diferente do Centro. O usuário não fica 90 minutos em um bar ou restaurante, fica um pouco mais. Isso vai trazer transtorno. Mas todo esforço para resolver essa questão dos flanelinhas é válido. Além disso, e os nossos funcionários? Os restaurantes e bares são noturnos e extrapolam o horário dos ônibus. A maioria dos nossos colaboradores possui veículo próprio. Se a gente for parar para pensar, cada tíquete custa R$ 2 por 1h30, a jornada é de 8h, eles gastariam R$ 12 por dia. Vamos ter que pensar em uma maneira de viabilizar isso", reclama.

Felipe acredita que uma solução seria as vias mais afastadas dos bares, porém, os flanelinhas podem migrar para estas regiões. "As polícias militar e civil prometeram uma mobilização grande. Uma das minhas outras queixas foi o motivo da mobilização dos órgãos de segurança neste momento, sendo que reclamamos há muito tempo. Será que é por que envolve dinheiro público? A gente se sente constrangido, mesmo sendo a favor da Área azul", conta.

Na reunião, o comandante da 32ª Companhia da PM, capitão Ricardo França, disse que é necessária a participação efetiva de todos os órgãos e da população. "Precisamos muito do envolvimento dos moradores e comerciantes, porque, ao mesmo tempo que reclamam da presença dos "flanelinhas", eles ajudam a mantê-los na rua, dando dinheiro, lanche."

O subsecretário operacional da Settra, Eduardo Facio, garante que a Área Azul é uma alternativa de regimentar as vagas para carros no local e dar mais legitimação para o trabalho das forças de segurança pública.

O sócio-gerente da Churrasqueira, João Zuddio, revela como é a situação atual. "Os flanelinhas estipulam valores, cobram adiantado, e ameaçam, principalmente mulheres. Espero que, com a Área Azul, o cliente se sinta mais seguro, já que agora as autoridades vão poder agir. Aliás, foi isso que a polícia alegou que era o instrumento que eles precisavam. Acredito que isso possa até gerar mais vagas, já que os estacionamentos aqui são os mais caros da cidade e o morador que parava o carro na rua, vai passar a deixar o veículo na garagem."

Fora isso, Zuddio também questiona o tempo estipulado para estacionar. "Um cliente fica em média três horas em um bar. Nos finais de semana têm fila de espera. Vai ficar caro e eles vão sair, as coisas hoje não estão mais baratas para se ter mais um gasto. Já pagamos tantos impostos agora teremos mais um. Se a Settra não resolver isso, os comerciantes vão acabar se reunindo e pedindo a retirada. E tem a questão dos funcionários, no qual já propomos até a parada livre. Os funcionários pediram uma reunião, e eles prometeram para os primeiros 15 dias de funcionamento", conclui.

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