Victor Bitarello Victor Bitarello 22/04/2014

O Festival Varilux de cinema francês e seu "Lulu"!

O público de cinema apresenta uma característica quando está diante de uma comédia: o riso "alto". Coloquei o "alto" entre aspas para torná-lo subjetivo, no sentido de que não é alto de forte ou gritado, mas um alto que se mostra, que quer aparecer enquanto riso. A impressão que eu sempre tive disso é a de que existe uma certa necessidade de expor o entendimento de um acontecimento enquanto engraçado, de expor que captou que aquilo que aconteceu foi permeado de humor. Não foi diferente nas comédias do Festival Varilux de Cinema Francês, dos dias 9 a 16. Em "Uma juíza sem juízo" chegou a me incomodar. Em "Lulu, nua e crua", eu pensava: "é realmente necessário rir alto? Será que não basta aquele riso "por dentro", aquela sensação gostosa de estar diante de uma cena agradável e engraçada, mas que não é do tipo que nos leva à gargalhada?". E em filmes que são popularmente conhecidos como cult, então, eu noto que isso é mais acentuado. Mesmo porque, tem um pessoal que gosta dessa coisa do ser cult, na verdade, do ser reconhecido enquanto tal. E, se não houver uma exposição do entendimento da piada, essa característica pessoal pode correr o risco de passar despercebida. Eu me lembro de quando fui assistir a "Quem quer ser um milionário?". Tive que mudar de lugar pela inconveniência de um homem na minha frente que gargalhava a cada vírgula que o ator falava. Eu devia ter perguntado a ele o porque. Perdi a oportunidade.

Passada a observação, me sinto na obrigação de elogiar o evento. Em especial sua realização no Cinearte Palace. Isto porque, apesar da qualidade técnica inferior do lugar, o preço da sessão é consideravelmente mais atraente. E também porque está cada dia mais difícil termos a oportunidade de assistir nas telonas, aqui em Juiz de Fora, filmes com pouco apelo comercial. O que é uma enorme pena, porque, para a quantidade de pessoas que estavam nas sessões do festival, não ficou dúvidas de menos comerciais. que existe um público que aprecia filmes mais artísticos, menos "grandiosos".

"Lulu, nua e crua" trata da vida de Lulu, uma mulher de "meia idade" que decide se ausentar do lar e da família por uns dias. Uma decisão tomada por sua conta somente, a qual se dá após tentar arranjar um emprego fora de sua cidade e não conseguir. Para trás fica o marido, uma filha adolescente e dois meninos gêmeos. Apesar da pressão que sofre da irmã para voltar, Lulu mantém-se firme no propósito do afastamento temporário. Nesse ínterim, ela conhece algumas pessoas que terão grande significado e repercutirão de forma decisiva na vida que ela terá a partir de então.

O filme é muito bonito. Fala sobre uma mulher farta. Farta de uma vida imposta, sem prazeres, somente de servidão a uma situação que provavelmente muitas das mulheres do mundo se identificarão. Eu, humildemente, me esforço para compreender que os homens, quando são como o marido de Lulu, o são porque foram criados assim, dentro dessa cultura, dentro desses parâmetros do que é ser um homem "macho" e, ao mesmo tempo, numa ideia que lhes foi passada sobre o que é ser um pai de família. Mas o filme é sobre as mulheres, não sobre os homens.

Após receber a ajuda de um estranho, Charles, Lulu conhece, naquela altura da vida, o amor. Pela primeira vez o amor. E, na iminência da vida antiga querendo puxá-la de volta, o que se dá na figura da irmã e da filha que vêm em seu encalço, ela foge novamente, para se encontrar de novo com outras pessoas, e que será um encontro com ela mesma. Ao conhecer Marthe, Lulu tem a oportunidade de observar o que seria sua vida sem o marido e os filhos, mas também sem o amor. E, no convívio com a garçonete Virginie, ela pode assistir "de fora" sua própria história, conseguindo fazer a moça refletir se aquela vida de maus tratos e imposições é o que ela quer. Lulu decide-se por ser Virginie e Marthe, com o melhor que cada uma representou para ela.

Com um final lindo, "Lulu, nua e crua" é uma excelente opção de filme. É um deleite, um enorme deleite. Quando a filha adolescente consegue compreender o que a mãe viveu e as decisões que tomou, ela se abre para aquela nova vida também, quando aceita a chegada de Charles. E eu, enquanto público, permiti "Lulu" ser assimilado em mim como um belo toque de saber viver o melhor das coisas, e me esmerar para tomar as melhores e mais verdadeiras decisões. Não é fácil escapar das imposições. Mas é possível.

Lindo!


Victor Bitarello é bacharel em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pós-graduado em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Candido Mendes (UCAM). Ator amador há 15 anos e estudioso de cinema e teatro. Servidor público do Estado de Minas Gerais, também já tendo atuado como professor de inglês por um período de 8 meses na Associação Cultural Brasil Estados Unidos - ACBEU, em Juiz de Fora. Pós graduando em Direito Processual Civil.

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