Victor Bitarello Victor Bitarello 30/06/2014

Clube de compras Dallas: um filmaço!

filmeAcaba que é fácil elogiar o trabalho de um ator, sendo que você já teve notícias de suas premiações relativas àquele papel. Mas como não fazê-lo, se a proposta desta coluna é analisar os filmes, criticá-los e levar ao leitor uma opção de pensamento sobre aquela obra? No caso de "Clube de compras Dallas", o elogio a esses trabalhos tem, necessariamente, que se dar de forma efusiva. Porque são incríveis! Matthew McConaughey é um ator que eu conhecia melhor, já o admirava e gostava muito do que ele fazia. Não foi tão surpreendente assistir seu FORMIDÁVEL "Ron". No entanto, meu choque e embasbacamento ficou mais por conta de Jared Leto, no papel do travesti "Rayon". Não sei se "travesti" é o termo mais adequado para seu personagem, mas, se não o era, era algo bem próximo disso. Jared está de se fazer o queixo cair. E o interessante é que ele já começa mostrando a que veio logo em sua primeira cena. Foi de não conseguir piscar.

A história de "Clube de compras Dallas" se passa em meados da década de 80, quando Ron Woodroof (McConaughey), um homem heterossexual (frisa-se ao longo do texto a especificidade sexual dos personagens, em virtude de sua grande importância no contexto da trama e da época), que, após ser submetido a exames de sangue, recebe a notícia de que era HIV positivo. Após essa notícia, ele tem conhecimento dos testes que estão sendo realizados com a medicação AZT. No entanto, ele não está entre os escolhidos para as experiências. Na tentativa de conseguir o medicamento clandestinamente, ele descobre os malefícios do mesmo à saúde humana (ao menos naqueles tempos, em virtude de questões de dosagem), iniciando assim um "clube" de venda clandestina de outros tipos de tratamento, bem como críticas à indústria responsável pela fabricação do AZT.

"Clube de compras Dallas" é um FILMAÇO! Excelente por vários aspectos. O roteiro é muito interessante, denso, bom, com uma temática tratada de uma forma muito original, em virtude dos aspectos variados que ele aborda. Os diversos tipos de preconceitos que são mostrados (as cenas em que os homens têm medo de serem encostados por Ron é chocante, mas é muito real, porque na época existia realmente muito pavor com relação à doença), o altíssimo grau de rejeição que os homossexuais sofriam, inclusive pelo próprio Ron, que demora bastante a aceitar a possibilidade de conviver com um homossexual. A questão da ética médica no que diz a sua relação com as indústrias farmacêuticas, bem como a própria ética destas. Outro aspecto que conta muito é a esplêndida direção de Jean-Marc Vallée. Os cortes de cena estão muito bem colocados e encaixados. As ligações entre uma cena e outra são muito inteligentes (o filme já começa com uma mostra do quanto a questão dos grupos de risco, tão propagadas naquela época, caiu muito por terra em virtude das relações sexuais sem proteção, que se dá em qualquer "grupo", não somente no dos homossexuais). Pra quem esteve na década de 80 e pôde acompanhar as alterações do tratamento dado à AIDS e ao HIV, é interessante também observar como muita coisa mudou. Muito se evoluiu daquilo que é mostrado no filme até os dias de hoje.

"Clube" é o segundo filme que eu, humildemente, acho que foi melhor que "12 anos de escravidão" e mais merecedor do Oscar. Isso porque é equilibrado, possui vários aspectos muitos interessantes e tudo está muito bem feito nele. "12 anos" ganhou porque quiseram fazer média com a população de cor negra dos EUA (população esta que não precisa de média, mas de respeito).

O ponto ápice de "Clube de compras Dallas" realmente são as atuações. O filme conta com um timaço. Jennifer Garner está ótima no papel da médica Eve. Matthew está fabuloso! E Jared. Caramba! Jared está fenomenal!!! Após assistir ao filme pronto, ele deve ter pensado: "é... eu sou bom. Eu sou bom mesmo."


Victor Bitarello é bacharel em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pós-graduado em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Candido Mendes (UCAM). Ator amador há 15 anos e estudioso de cinema e teatro. Servidor público do Estado de Minas Gerais, também já tendo atuado como professor de inglês por um período de 8 meses na Associação Cultural Brasil Estados Unidos - ACBEU, em Juiz de Fora. Pós graduando em Direito Processual Civil.

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