Um tom para lembrar o passado

Ao lado de Adriano Brandão, o compositor levou a melhor no Concurso de Marchinhas de São João del-Rei com a composição O Baile

Eduardo Maia
Repórter
8/03/2014
Toinho Gomes

Da tristeza ao lembrar de um tempo que se passou à captura de elementos singulares da cultura de Juiz de Fora, Toinho Gomes (foto ao lado) valoriza a criatividade em suas composições e nos choros, sob a influência de um abraço com Minas e o Rio de Janeiro. Na parceria com Adriano Brandão, sua mais recente conquista foi o primeiro lugar no Concurso de Marchinhas de São João del-Rei (MG), com a canção O Baile. A marchinha que também já havia sido interpretada na competição juiz-forana, foi exaltada pelo corpo de jurados na cidade dos sinos, concedendo aos autores o prêmio de R$ 2.500.

Toinho explica que a composição é uma marcha rancho, acompanhada por instrumentos de sopro e corda, que fala de uma saudade de um tempo que se passou. "Ela faz um contraste. Você canta uma saudade, fala de uma tristeza pelo tempo que se passou. A música valoriza os acordes menores, para dar aquela tristeza, depois volta para os maiores, para realçar a animação", diz.

Na letra de O Baile, Brandão buscou expressar a lamentação de uma fantasia abandonada por um folião em um varal, carregada pela tristeza da solidão, cuja melodia foi criada por Toinho. "Ele bolou uma letra no final do ano passado e pediu pra eu colocar a música. Hoje você me abandona/ Me deixa aqui neste quintal/ Mas nos dias de folia/Em minha companhia você era o tal (...) /Assim é o meu carnaval/Sou suaDyonísia Moreirafantasia presa aqui neste varal, diz a música (ouça a música abaixo).

Gravado por Daniela Aragão e Pedro Mendes para participar das competições, a canção foi interpretada em São João del-Rei  por Dionysia Moreira (foto ao lado), acompanhada de Márcio Gomes, no pandeiro, e o professor Fernando César, no violão sete cordas.

Assim como em O Baile, Toinho já havia experimentado a nostalgia em sua composição que tirou o segundo lugar no 2º Concursos de Marchinhas de Juiz de Fora, em 2011. De uma letra mais densa e rebuscada, reforça elementos que agregam o sentimento da saudade. "É até um pouco difícil de fazer, tem que falar que o carnaval já não é mais aquele. A marcha rancho fala de coisas mais antigas, de uma tristeza. Muitas vezes se você notar a Bandeira Branca, O Primeiro Clarin. É diferente daquela marchinha comum, mais simples, com um refrão mais expressivo", completa.

 A influência de Armandos

A influência do homenageado do Carnaval de 2014, Armando Toschi, o Ministrinho, também é um dos elementos que Toinho faz questão de destacar. "Tive uma forte ligação com ele e aprendi muito, tocando cavaquinho. Sempre ia lá no bar do Léo com ele. Foi praticamente com ele eu aprendi todos os sambas antigos de Juiz de Fora. E também o repertório dele pegava aquelas músicas antigas, de Ataulfo Alves, Herivelton Martins. Praticamente um ano que passei ao lado dele eu aprendi tudo", conta.

Gomes também reconhece a presença de outro Armando, o Mamão, companheiro na amizade e também no samba. "Fiz um samba para eles, um dos primeiros sambas que fiz. Chama-se Dois Armandos. Dedicado ao Mamão, que se chama Armando e ao Armando Toschi, que é o Ministrinho. Um foi meu mestre que hoje está na saudade, o outro uma grande amizade, inclusive essa música foi gravada por Guilherme Barbosa, do Rio de Janeiro", relembra.

Choro

A desenvoltura de Toinho é expressada da melhor forma em CDseu disco Choros (2013), viabilizado através do edital da Lei Murilo Mendes. Em 16 composições, Gomes valoriza temas que vão do cotidiano dos botecos à religiosidade, consagrando-se como um dos mais elogiados compositores de choro em Minas Gerais. Duas delas, No Boteco do Hélio e Antonio Caetano chegaram à final e semifinal de concursos no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, respectivamente.

"A inspiração pelo samba vem das coisas cotidianas, também da saudade dos tempos antigos. E também daquelas brincadeiras de boteco, um assunto ou outro que surge e depois vira música. O Carnaval mudou muito, virou muito comercial. O pessoal ainda gosta do tradicional, mas não tem acesso. As coisas antigas, serestas, marchinhas ainda são muito apreciadas", observa.

Apesar da raiz mineira, tendo nascido em São João Nepomuceno (MG) e vivido desde os nove anos em Juiz de Fora, Toinho reconhece a aproximação da identidade do samba da cidade com a cultura do Rio de Janeiro. "Eu gosto muito dessa influência do Rio, torna o nosso samba bem carioca. O samba seguia duas linhas: a da Tia Ciata, que era mais o samba baiano e do Estácio [de Sá], com muita influência do pessoal do morro. O pessoal daqui de Juiz de Fora ia para lá, para a Portela, que era próxima. A proximidade sempre acaba influenciando. O samba daqui tem a sua característica própria, mas com grande influência do Rio", reconhece.

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