Os intrusos do futebol

Por

Ailton Alves 25/2/2009

Os intrusos do futebol

Aqui em S?o Paulo (onde descanso de campanhas outras e per?odos de transi??o, ? espreita daquele momento anual que voc? se sente prestes a cruzar os cabos da Boa Esperan?a e principalmente o das Tormentas) n?o se fala em Carnaval. Sampa ? realmente, como detectou Vinicius de Moraes, o t?mulo do samba - Jo?o Medeiros, o poeta e bo?mio juizforano, ia al?m: dizia que o Carnaval dessas bandas de c? ? marcado por mo?as descendentes de japoneses e italianos tendo um ataque epil?tico em cima do carro aleg?rico. Crueldade.

Mas... Aqui em S?o Paulo n?o se falou em outra coisa, durante todo o per?odo de Momo, a n?o ser em futebol. No s?bado, teve cl?ssico ?s margens do Rio Tiet?. E quem foi ver Keirrison acabou se encantando mesmo foi com Cleiton Xavier - o meio-campista que n?o evitou o rebaixamento do Figueirense mas que tem tudo para ser o maestro da nova academia palmeirense. Apesar disso, e mesmo com os gols de K9, CX10 n?o evitou que a Portuguesa quase virasse o jogo depois de estar perdendo por 2 a 0. Coisas do futebol.

Na mesma hora em que o Palmeiras passava seus apertos com a Lusa, o Corinthians vencia o Guaratinguet? por 3 a 1, acompanhado por milh?es de pessoas, nos bares e metr?s. E o S?o Paulo batia o Barueri, pelo mesmo placar, ?s vistas de outros milh?es, em shoppings e hot?is.

No domingo de Carnaval (ser? que o calend?rio estava realmente certo?), 21 mil pessoas foram ao belo e m?tico Pacaembu ver o Santos derrotar o Botafogo de Ribeir?o Preto. O placar, minguado, constru?do com uma falta cobrada pelo zagueiro Fab?o (lance id?ntico aos que deram a vit?ria ao Tupi contra o Crici?ma, pela Copa do Brasil), no entanto, foi o de menos.

O Santos - nunca ? demais lembrar - ? um time do interior com adeptos em todos os cantos do pa?s e do mundo por causa de Pel?. E o Santos - compreendi isso agora - ? um time muito generoso, a ponto de sair da sua casa e vir jogar na capital justamente para agradar seus torcedores de fora.

Essa excepcional caracter?stica, no entanto, produz situa?es que v?o al?m do controle da vaidade humana. Os santistas de Santos sentem ci?me dos santistas da capital e de cantos diversos, n?o admitem que esses "intrusos" possam amar mais que eles o time da sua cidade. Talvez por conta disso, eles n?o se misturam com os demais. Ficam l? na deles, unidos, protegidos por uma bandeira gigante e com gritos de guerra pr?prios e ?nicos.

Ademais, a op??o de jogar fora da Vila Belmiro, neste s?bado de Carnaval, n?o pareceu a mais correta. O time estava em momento conturbado, com a briga expl?cita e p?blica entre F?bio Costa e Fabiano Eller e, como ? sempre de bom tom, precisava lavar a roupa suja em casa. O torcedor santista (o de Santos) percebeu claramente a situa??o e aplaudiu cada troca de passes entre o goleiro e o zagueiro. Se a paz permanecer? n?o sabemos, mas ? certo que os dois atletas fizeram um belo esfor?o para demonstrar harmonia aos torcedores santistas (os da capital).

Suposi?es ? parte, terminada a rodada, com os quatro grandes dominando o campeonato, n?o se falou em outra coisa a n?o ser na estreia de Ronaldo Fen?meno pelo Corinthians. Os rivais fazem chacota, riem do peso do atleta e falam de uma improv?vel decad?ncia, mas num papo mais prolongado se traem: querem, sim, ver Ronaldo em a??o.

Sabem que Ronaldo ?, a seu modo, um "intruso", que est? no lugar errado, longe da Europa e do Maracan? (sua segunda op??o), mas n?o negam que ? uma situa??o excepcional poder ver o maior artilheiro da hist?ria das Copas do Mundo ao vivo, bem pertinho, ali no Pacaembu (depois de cruzar a Paulista com a Consola??o) ou ?s margens do Tiet?.

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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