Documentário resgata história da TV em JF e homenageia precursores Cariocas do Brejo entrando no ar apresenta imagens inéditas da relação de juiz-foranos com a televisão, abordando as décadas de 40, 50 e 60

Aline Furtado
Repórter
7/11/2011
Carnaval 1968 JF

Cariocas do Brejo entrando no ar é um documentário que pretende promover o resgate da história da televisão em Juiz de Fora, prestando, ainda, uma homenagem aos precursores das transmissões televisivas na cidade.

O trabalho, de autoria do pesquisador em comunicação Flávio Lins, surgiu durante pesquisas realizadas para um trabalho de Especialização. "Em meados de 2004, comecei a pesquisar sobre vinhetas de TV produzidas aqui na cidade. Queria descobrir como era a arte desenvolvida aqui em Juiz de Fora", explica Lins, que soma 25 anos de trabalho em televisão.

Segundo ele, foi durante a pesquisa que descobriu que a cidade já teve, na década de 60, uma emissora de TV não oficial. "Pouca gente tem conhecimento a respeito disso. Era uma tentativa de fazer televisão, mas a chamada TV Mariano Procópio não obteve concessão. Ainda assim, realizava transmissões." Mesmo diante da descoberta, o pesquisador "arquivou" a informação por algum tempo, retomando-a durante o curso de mestrado, entre os anos 2008 e 2009.

"A retomada ocorreu porque percebia, nos materiais com os quais tive contato, o forte intercâmbio entre Juiz de Fora e Rio de Janeiro. As tentativas de transmissões acabaram fortalecendo laços e sentimentos entre as cidades próximas geograficamente, mas separadas por Estado." Ao longo do tempo de pesquisa, que chegou a quatro anos, Lins acabou descobrindo mais de um programa juiz-forano veiculado não só no Rio de Janeiro, mas em estados como São Paulo e Espírito Santo, além da capital mineira, Belo Horizonte.

"A TV Mariano Procópio, que pertencia aos Diários Associados, fez algumas tentativas para conquistar a concessão, a qual foi entregue à TV Industrial. Mesmo não conseguindo, continuou veiculando programas por meio das TVs Tupi, do Rio de Janeiro, e Itacolomi, de Belo Horizonte."

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Três décadas de história

De acordo com o pesquisador, o documentário resgata fatos referentes à década de 40. "Nessa década, o técnico em eletrônica, Olavo Bastos Freire, já realizava experimentações de transmissão televisiva. Conforme o material resgatado, podemos ver que já naquela época tivemos registro de transmissão de partidas de futebol."

Nos anos 50, quando a televisão chegou ao Brasil, o espectador do documentário pode verificar o empenho para que o sinal chegasse a Juiz de Fora. "Foi uma verdadeira luta, tanto com relação à transmissão quanto com relação a trazer o sinal de TV para cá. Em 1952, Maurício Panisset montava aparelhos. As pessoas chegavam a escalar montanhas para tentar receber o sinal."

Em 1958, o juiz-forano Luís Antônio Horta Cobucci chegou a abrir uma loja especializada em vendas de aparelhos de televisão, tudo, segundo Lins, para atingir um número de equipamentos comercializados. "Isso porque conforme o número de TVs vendidas, conseguiram trazer o sinal da TV Rio para a cidade."

A última década retratada pelo documentário foi a de 60. "Foi aí que começaram as tentativas de fazer televisão, com o surgimento da TV Mariano Procópio." O pesquisador conta que o primeiro programa de TV juiz-forano foi o Boa Vizinhança. "Além disso, era produzido um telejornal, no qual o apresentador narrava e as imagens apresentadas eram slides. Era tudo muito experimental, mas, ainda assim, entre 1964 e 1965, eram produzidos programas especiais, veiculados em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro."

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"Um novo olhar sobre"

Lins destaca que o documentário, montado durante este ano, com recursos próprios, também é chamado de Um novo olhar sobre. Para ele, é possível que outros olhares sejam lançados sobre este ou outro material, podendo haver outras novas interpretações a respeito da história.

"O trabalho, de aproximadamente 46 minutos, é fruto do material ao qual eu tive acesso. Isso engloba imagens inéditas captadas em fragmentos de filmes de propriedade do jornalista Wilson Cid e depoimentos. Foi um trabalho de recuperação dos rolos e de identificação, como no caso de uma imagem do carnaval da cidade no ano de 1968, transmitido para todo o Sudeste. Para chegar à data, foi preciso pesquisar muitos dados."

Entre os depoimentos colhidos por Lins estão nomes que acumulam experiências relativas à TV na cidade, como Wilson Cid, Jorge Couri, Rubens Furtado, Mário Manzolilo de Moraes, Luiz Antônio Horta Colucci, Geraldo Magela Tavares, entre outros.

Lançamento

O lançamento será feito na próxima quarta-feira, 9 de novembro, às 19h, no Museu de Arte Murilo Mendes, na rua Benjamin Constant 790. O título Cariocas do Brejo entrando no ar ironiza a maneira como os juiz-foranos foram apelidados pelos mineiros do interior do Estado.

Os textos são revisados por Thaísa Hosken