Aline Maia Aline Maia 28/11/2011

Dura realidade. Mas, realidadeÍndices de analfabetismo, desemprego e mortalidade em função da violência urbana são maiores entre os negros, no Brasil. É preciso mudar

Negros e brancosEntre 1980 e 2000, a população branca era maior que a negra, no Brasil. Em 2010, esta situação se inverteu. No último Censo Demográfico, 97 milhões de cidadãos se declararam negros (pretos ou pardos) e 91 milhões se afirmaram brancos. Buscando dados em várias publicações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), é possível obter referenciais interessantes sobre a situação do negro brasileiro, que hoje representa praticamente metade da população no país.

Ao longo de dez anos, as taxas de analfabetismo apresentaram decréscimo significativo para a população como um todo, no Brasil: caíram de 16,4%, em 1993, para 11,6%, em 2003. Entretanto, os benefícios deste avanço não foram suficientes para suprimir ou reduzir as disparidades raciais. Enquanto 16,8% dos negros maiores de 15 anos eram analfabetos em 2003, este valor era de 7,1% para os brancos.

Um dos reflexos dos indicadores educacionais é sentido no mercado de trabalho. Há mais dificuldade para os negros conseguirem uma vaga por falta da tão demandada qualificação. Enquanto 10% dos brancos encontravam-se desempregados em 2003, 12,6% dos negros estavam sem emprego. E mais: 21% das brasileiras negras são domésticas e apenas 23% delas têm carteira de trabalho assinada. Entre as brancas, 12,5% atuam na mesma atividade, sendo que 30% delas têm registro em carteira. No campo da saúde, outro dado preocupante: 46,27% das mulheres negras nunca passaram por um exame clínico de mama! O índice é de 28,73% entre as mulheres brancas.

Se tratarmos dos conflitos sociais existentes no país, também encontraremos ecos das desigualdades raciais. Dentre os problemas enfrentados pela juventude negra, por exemplo, estão a violência urbana e as taxas de mortalidade a ela associadas – em geral, 50% maiores entre os jovens negros. Fato: a situação da população negra brasileira ainda é bastante vulnerável.

Diante de tantos números alarmantes – e aqui utilizamos apenas alguns, a título de exemplificação -, emerge a necessidade gritante da discussão e execução de políticas públicas eficazes a fim de realmente conferir ao negro brasileiro a condição de cidadão: aquele que goza não só de deveres, mas, também, de direitos. Pois, o que se observa, atualmente, é o desenvolvimento de ações muito tímidas frente ao emaranhado de problemas. O progresso rumo à igualdade social ainda é acanhado diante da herança histórica do negro no Brasil.

Vale ressaltar que 2011 foi definido pelas Nações Unidas como o Ano Internacional dos Afrodescendentes. O 20 de Novembro foi incluído no calendário escolar, em 2003, como data em que comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra; por conseguinte, novembro tornou-se um período com grande concentração de atividades em homenagem ao negro, seminários, festas, etc...

O Mês da Consciência Negra chegou ao fim. O Ano dos Afrodescendentes também caminha para seus últimos dias, está terminando. Mas, o que não pode acabar é o debate, a discussão e, principalmente, a luta pela implementação de políticas dirigidas para estes cidadãos que são submetidos, muitas vezes, a um contexto social marcado por discrepâncias, com profundos impactos em seu cotidiano, sua visão de mundo e suas possibilidades concretas de construção de presente e futuro.

O diálogo que se acentua em novembro deve estender-se também aos outros meses do ano. Para além do discurso, esta é uma demanda de todos. De quem está no povo e de quem está no poder. E por que não começar pela educação? Afinal, esta constitui uma dimensão central para formar cidadãos e ampliar as chances de inclusão. E você? O que pensa sobre isso?



Aline Maia é jornalista e professora universitária. Graduada e Mestre em Comunicação pela UFJF, tem experiência em rádio, TV e internet. Interessa-se por pesquisas sobre televisão, telejornalismo, cidadania e juventude.Também é atuante em movimentos populares e religiosos.