Axé Criança Grupo afro-brasileiro de Juiz de Fora reúne canto, dança, capoeira e interpretação em prol da consciência negra


Renata Cristina
Repórter
08/11/2006

Axe Criança Um conjunto que canta, dança, intrepreta e leva ao público a emoção. O grupo afro-brasileiro, Axé Criança, é composto por mais de 100 integrantes. Destes, 35 são membros que participam da oficina de capoeira. A faixa etária varia de quatro a 18 anos. O grupo tem como identidade a marca expressiva da cultura negra.

Toda a vibração do Axé teve origem a partir de um problema social: "as meninas negras do bairro Ipiranga, que sofriam com a repetência escolar", conta a presidente do grupo, Helena de Oliveira. No ano de 1997, membros da comunidade resolveram criar a Organização Não-Governamental, com o apoio do padre Guanair, vice-presidente da ONG.

Voluntários

Helena explica que o objetivo inicial do grupo é conscientizar essas crianças do valor da cultura negra, através de oficinas de artesanato e artes, além de reuniões e debates.

O projeto foi se estruturando e alçou vôos mais altos e conta com uma gama de voluntários que disponibilizam aos participantes aulas de teatro, dança, canto, música, além de reforço escolar, orientação psicológica e pedagógica.

 

Axe Criança Axe Criança Axe Criança

 


Mas a ONG, atualmente, precisa de mais voluntários para que o projeto continue trazendo bons resultados. Eles precisam de um psicólogo, além do que já trabalha na instituição; um professor de percussão; um professor de reforço escolar; e um fonoaudiólogo.

A assistência permite romper as dificuldades dessas crianças e construir uma identidade positiva nelas, para formação de cidadãos conscientes.

 

Por dentro do Axé
O som do grupo é baseado em batuques, atabaques, percussão e capoeira com maculelê, típicos da música afro. As canções de Daniela Mercury são as preferidas das meninas, que ensaiam coreografias cada vez mais elaboradas. "Crença e fé", "Canto da Cidade", "Elegibô", "Madagascar Olodum" e "Eu Sou Negão" são algumas das canções interpretadas pelo grupo.

 

O som de Maurício Kizumba é tocado na oficina de capoeira, um compositor mineiro que trabalha com tambor. Há espaço ainda, para um figurino exclusivo baseado em temas afro.

 

 

O Axé já se apresentou em eventos de representatividade social, como o Forum Social Regional e o Forum Municipal. Já esteve na Assembléia Legislativa de Minas Gerais e também em Brasília. Uma grande emoção da banda, foi se apresentar no Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora. "O teatro é belíssimo e sempre sonhamos em fazer um show lá. Chorei do início ao fim", conta Helena, com lágrimas nos olhos.

Helena conta que este ano, o grupo conseguiu uma grande conquista, o trabalho dentro da diocese, com a Pastoral Afro-Brasileira. "Este ano, houve o reconhecimento. E temos um orientador espiritual, que é o padre Domício, da paróquia de Lima Duarte", conta.

Nem só de música vive o homem
Axe Criança Desde o início, a presidente da ONG garante que o projeto mexeu com toda a comunidade.

 

Entre as conquistas mais marcantes, ela destaca a retirada de algumas meninas de escolas especiais, para escolas normais. "Na verdade, elas tinham a auto-estima baixa. A partir do momento que colocamos na cabeça delas que eram pessoas iguais as outras, isso mudou", ressalta. Hoje, elas convivem normalmente com outras crianças e participam das apresentações do grupo.

Outro fato marcante, foi a mudança de conduta de alguns meninos, que segundo ela, eram "trombadinhas". "Eles iam à feira roubar. Porém vimos neles um ser humano e hoje, não praticam mais esses atos".

O Axé Criança participa ainda de eventos que envolvem a conscientização da cultura negra, como palestras, seminários e passeatas. Atualmente, as crianças estão se preparando para a Semana da Consciência Negra, comemorada em novembro.

Consciência Negra

O Axé Criança se prepara para as apresentações no Ipiranga, onde fica a sede do grupo. "Continuamos no bairro, mas mudamos para o prédio das Obras Sociais Padre Júlio, que acolhe todos os movimentos sociais do bairro", comenta a presidente.

Na semana de comemoração da Consciência Negra, o Axé Criança prepara alguns eventos. Um deles é comemorado com grande vitória por Helena. Pela primeira vez, vai ser realizada uma missa Afro na Catedral. Vai ser um fato histórico".

  • 17 de novembro (sexta) - Missa Afro, na Igreja Matriz São Pio X (Ipiranga), às 19h30
  • 18 de novembro (sábado) - Mérito aos amigos do Axé Criança, na Igreja Matriz São Pio X, às 20h
  • 19 de novembro (domingo) - Encontro Axé do Povo Negro, com eventos o dia todo em Lima Duarte
  • 27 de novembro (segunda) - Missa Afro, na Catedral Metropolitana, às 19h
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