A oportunidade que é oferecida por meio do trabalho Empresas de Juiz de Fora possibilitam o trabalho, em segmentos diversos, a detentos na Penitenciária Professor Ariosvaldo Campos Pires

Aline Furtado
Repórter
19/3/2010

Dar oportunidades a pessoas que não as tiveram ou não souberam aproveitá-las. Este é um dos preceitos que norteiam trabalhos de ressocialização de presos na Penitenciária Professor Ariosvaldo Campos Pires, localizada no bairro Linhares.

A unidade, inaugurada há cinco anos, tem atualmente cerca de 400 detentos, entre homens e mulheres. Deste total, 170 participam de atividades voltadas para a qualificação profissional e a valorização humana. O trabalho é realizado por meio de parcerias com empresas da cidade e para manutenção da própria penitenciária.

As parcerias permitem que homens e mulheres que cumprem pena na unidade participem de atividades relacionadas aos segmentos de panificação, confecção, artesanato e material esportivo. Todos os projetos são voltados para homens, com exceção da confecção de meias, que oferece oportunidades também às presas.

Já as ações voltadas para a própria penitenciária são limpeza, jardinagem, costura de uniformes, barbearia, manutenção da horta e artesanato. De acordo com a gerente de produção da penitenciária, Bruna Corrêa, depois da criação da 4ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp) na cidade, algumas presidiárias estão realizando faxina na unidade.

Padaria

Quando os trabalhos são realizados por meio das parcerias com empresas, os presos recebem um dia de remissão de pena a cada três dias trabalhados. Além disso, as empresas oferecem pagamento de acordo com a produção. Apenas no caso da padaria, o valor é repassado à Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), que divide o total em três, sendo 50% destinados ao preso, 25% ao Estado e 25% a uma conta pecúlio, que poderá ser utilizada quando o presidiário conseguir liberdade. Nos trabalhos de manutenção, há remissão de pena de um dia para cada três trabalhados.

Interesse e bons resultados

A seleção dos presos que atuarão nos projetos é feita por meio de uma Comissão Técnica Classificatória, formada por assistente social, psicóloga e pela diretoria da unidade. "Eles são selecionados por meio do bom comportamento e leva-se em consideração o fato de não apresentarem faltas disciplinares. Além disso, passam por avaliações mental e física."

Segundo a gerente da penitenciária, os detentos demonstram muito interesse em trabalhar, não só devido à remissão de pena, mas também pela oportunidade de capacitação para o mercado de trabalho. Para ela, o preconceito com relação à possível absorção de ex-detentos pelo mercado de trabalho vem sendo reduzido. "Creio que a tendência é que haja mudança nesta questão. A abertura vem sendo dada pelas empresas parceiras, que sinalizam sobre a possibilidade de contratação ao final do cumprimento da pena."

Para Bruna, o trabalho de ressocialização é importante para a recuperação dos presos, ajudando para que eles não retornem à criminalidade. "Já percebemos que a reincidência diminui quando os detentos saem daqui com uma profissão."

Produção

Para o proprietário de uma empresa de alimentos, que atua na padaria da unidade há cerca de quatro anos, Ronaldo Baptista Ramos, a ideia de estabelecer a parceria partiu de motivações tanto comerciais Padariaquanto sociais. "Acho importante participar deste processo e poder oferecer oportunidade profissional a estas pessoas." Atualmente são produzidos, por dia, oito mil pães, sendo dois mil destinados ao consumo interno e seis mil comercializados. A equipe responsável pela produção é formada por um profissional da empresa e oito detentos.

O comerciante lembra ainda que os sacos de farinha que poderiam ser reutilizados por sua empresa são transformados em artesanato pelas mãos das detentas. "É um trabalho interessante, existe uma demanda grande por parte deles." A padaria funciona no interior da unidade entre 6h e 16h, de segunda a sexta-feira, e aos sábados, das 6h às 12h.

A proprietária de uma empresa do ramo de vestuário, que atua na penitenciária desde dezembro do ano passado, Raquell Guimarães, relata que são produzidas, por semana, cem peças em tricô e crochê. "São 28 presos acompanhados pela proprietária, por uma estilista e por uma instrutora de artesanato. Um dos detentos foi nomeado monitor e faz o controle da produção e da qualidade." Segundo Raquell, o interesse e a dedicação dos presidiários são grandes. "Eles são responsáveis e cuidadosos com o material." A empresária destaca a importância social da iniciativa. "Sinto que levei um sonho a pessoas desesperançosas. Hoje este sonho é realidade. Eles aprendem e, com o ganho mensal, ajudam suas famílias."

Curso profissionalizante

A partir do mês de maio, será oferecido, por meio de uma parceria entre duas empresas de panificação, a Seds e a Secretaria de Estado de Educação (SEE), um curso profissionalizante para padeiros. "Além da prática, ao final de cada mês, três detentos receberão certificados. Com isso, será criado um cadastro reserva para mão de obra na padaria", explica Bruna.

Incentivo

Desde o ano passado, as empresas de Minas Gerais que contratam egressos do sistema prisional recebem subsídio equivalente a dois salários mínimos, referente a cada ex-detento, por um período de 24 meses. A Lei 18.401, que foi sancionada pelo governo do Estado no dia 29 de setembro de 2009, prevê o estímulo à qualificação dos egressos por meio de cursos profissionalizantes, além da contratação formal.

 Os textos são revisados por Madalena Fernandes