Método de ingresso do Sisu gera insatisfação em alunos e professores de JF

Discussões vão desde os critérios de avaliação até os elevados pontos de corte. A dificuldade de informações também é apontada como um problema

Nathália Carvalho
Repórter
11/1/2013
Estudantes

Milhares de alunos, pais, professores e coordenadores de cursos aguardam, com expectativa, o fim do período de inscrições e, consequentemente, o resultado do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), plataforma informatizada do Ministério da Educação (MEC) por meio da qual instituições públicas de educação superior oferecem vagas a candidatos participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em meio a polêmicas de vazamento de dados do concurso e decisões judiciais pedindo a suspensão das inscrições do Sisu, o prazo para o término dos estudantes decidirem suas duas opções de curso termina nesta sexta-feira, 11 de janeiro. O resultado sairá no dia 14.

Durante esta manhã, o número de 1.757.399 inscritos superou o balanço total do ano passado. Com a ampliação do método, chegando a 101 instituições públicas estaduais e federais de todo o país, os estudantes se veem diante de uma forma de ingresso onde é possível alterar várias vezes a inscrição, sendo considerada apenas a última. O problema, para muitos, é que o recente sistema generalizado está causando muitas dúvidas e levanta alguns questionamentos, principalmente por parte dos estudantes e coordenadores de curso.

"Tenho recebido ligações o tempo todo, de alunos que me pedem opinião sobre o que fazer, para tirar dúvidas sobre o sistema. O problema é que nem nós sabemos direito como orientar, porque está tudo muito confuso e somos obrigados a acompanhar cada passo do estudante. Parece um jogo de classificação", declara o coordenador do Pré-Universitário, Sérgio Castro. De acordo com o diretor de ensino do curso Cave, Nelson Ragazzi, entre as principais dúvidas dos alunos está o funcionamento da primeira e segunda opções de cursos e como é desenvolvida a lista de espera. "Outra grande confusão está relacionada com a nota de corte, que é sempre relativa ao dia anterior. Isso faz com que, no último dia, todos fiquem 'no escuro'", declara.

A estudante Mariana Carvalho, de 17 anos, que presta vestibular pela primeira vez, levanta vários questionamentos relacionados ao sistema. Ela acredita que disponibilizar apenas duas opções de escolha para todas as universidades do país é pouco para aqueles que passaram o ano inteiro estudando. "São muitas cotas e para nós, de ampla concorrência, acabam ficando pouquíssimas opções. Na UFSJ [Universidade Federal de São João del-Rei], por exemplo, só tem uma vaga para alguns cursos e por isso acabei nem tentando lá." Para ela, o fato de o método estar em transição gera uma falta de padronização entre as universidades, principal fonte de dúvidas entre os alunos. "É muito difícil conseguir determinadas informações pelas universidades e temos que saber, especificamente, sobre cada curso e cada instituição, senão a gente se perde totalmente e isso muda toda hora", alega.

A prova do Enem

De acordo com a estudante Gabriela Marques, que tenta ingressar em uma universidade pública pela segunda vez, os alunos ficam ansiosos e apreensivos com as notícias envolvendo possíveis cancelamentos do sistema. "Ano passado houve aquele vazamento de questões do Enem e acabamos ficando sem saber o que iria acontecer. Além disso, eu não gosto desse método e acho uma prova extremamente injusta, com redações mal corrigidas. Falaram que iriam soltar a correção das provas, mas será só em fevereiro, o que impossibilita um possível recurso", diz.

Além disso, as estudantes reabrem a discussão sobre o método de Teoria da Resposta ao Item (TRI), que computa o número de acertos de questões fáceis, médias e difíceis, conforme parâmetros pré-estabelecidos. Segundo o método de correção, é indicado se o candidato "chutou" a resposta ou se realmente domina o assunto. "Todas as questões que eu pontuei foi porque eu sabia e não porque eu chutei e, mesmo assim, me tiraram 300 pontos. Fico sem saber o motivo de ter feito 80% da prova, mas em algumas matérias, só recebi 60% da nota", declara Mariana. Para Ragazzi, a TRI "embora estatisticamente coerente, não apresenta transparência para o aluno e faz com que ele não tenha real ideia do porquê aquela ser a sua nota".

Segundo Castro, a prova do Enem não seleciona os alunos mais estudiosos das escolas e a classifica como "simplória". "Qualquer educador consegue perceber que esta prova não se aprofunda nas discussões e não cobra o chamado ensino formal. A prova de matemática é muito fácil e acaba prejudicando o ensino superior de um curso de engenharia, por exemplo, por receber alunos mal preparados", explica. Ele argumenta dizendo que o fato do Enem diminuir o nível de cobrança dos antigos vestibulares gera uma discussão sobre o nivelamento já dentro de o ensino superior, algo "questionável". "O Enem privilegia o ensino fácil e não o ideal, mas isso nem sempre será aquilo cobrado nas faculdades."

UFJFDificuldade de ingresso na UFJF

Conforme análise dos professores sobre os números do Sisu, tem se observado a alta demanda por faculdades das regiões Norte e Nordeste, que se mostram inflacionadas. "Muitos alunos das regiões Sul e Sudeste estão se inscrevendo para essas escolas, e isso leva a dois possíveis problemas. O primeiro é que os alunos da própria área podem acabar não sendo aprovados e o segundo é que esses alunos do Sul e Sudeste podem não frequentar o curso, criando uma situação de vagas ociosas exatamente em regiões muito carentes de escolas de ensino superior", explica Castro. Além disso, ele destaca que esses alunos que vão para as regiões Norte e Nordeste, dificilmente se fixarão lá, deixando as áreas carentes de profissionais, principalmente de saúde.

No sentido inverso do processo, Castro ressalta a dificuldade cada vez maior dos estudantes de Juiz de Fora ingressarem na única universidade pública da cidade, a UFJF. "O ponto de corte da Federal está extremamente alto, pela influência de estudantes de todo o Brasil que estão tentando a vaga aqui." Ele justifica o fato pela localização da cidade, ponto estratégico de ligação entre os Estados do Sudeste, que acaba atraindo estudantes de outras regiões. "Antes, as vagas eram razoavelmente garantidas aos estudantes da região de JF, mas a falta da cultura de estudo da cidade e forte opção que a UFJF fornece, acaba aumentando a concorrência"..

Os textos são revisados por Juliana França

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