Projeto prevê ações para saúde mental e usuários de drogaConsultório de Rua vai realizar abordagens a dependentes químicos, com objetivo de prevenir o uso de drogas, e também a doentes mentais

Carolina Gomes
Repórter
21/7/2010

No intuito de auxiliar os pacientes com problemas mentais e usuário de drogas, o Projeto Consultório de Rua (PCR) começa, a partir de setembro, a realizar abordagens nos bairros com maior incidência de problemas relacionados à dependência química.

Juiz de Fora está entre as 19 cidades do Brasil a receber o projeto, sendo que 12 dessas cidades são capitais. O projeto receberá R$ 100 mil de incentivo, investimento que será repassado pela Coordenação Nacional de Saúde Mental. Do total, R$ 50 mil serão depositados na primeira quinzena de agosto e o restante em seis meses, após a avaliação dos primeiros resultados.

Por meio de uma equipe multidisciplinar, composta por médicos, enfermeiros, psicólogos, educadores, pessoas ligadas ao esporte e à cultura, além de ex-dependentes químicos, o PCR pretende integrar ações de enfrentamento a um possível aumento no uso de drogas, em especial, o crack. 

O chefe do Departamento de Saúde Mental (DSME), José Eduardo Amorim, informou que a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) possui um mapa com informações a respeito das regiões onde a cobertura de assistência à saúde é deficiente. "No mês de agosto faremos um levantamento dessas áreas e montaremos as equipes que participarão das abordagens. Muitas vezes, a dificuldade refere-se à resistência por parte da população."

O diferencial do projeto é que a equipe de profissionais vai até o paciente. "Ao invés do profissional de saúde estar fixo em uma unidade, esperando a demanda, uma equipe volante realiza o trabalho de identificação do usuário em risco potencial, fazendo a abordagem dos mesmos e orientando sobre as diversas formas de tratamento que o município oferece", informa. Adaptadas à realidade do município, as atividades desenvolvidas pela equipe técnica serão diárias, inclusive em períodos noturnos, percorrendo as áreas estrategicamente previstas.

De acordo com Amorim, um dos integrantes da equipe será o chamado Redutor de Danos, um ex-dependente químico, que estreitará o contato com o usuário. O diretor do Centro de Reinserção de Usuário de Drogas e Álcool de Juiz de Fora, José Carlos Vieira, concorda com a ação e vê a figura do Redutor de Danos como de grande importância para que o projeto dê certo. "Ninguém melhor para falar com um dependente do que um ex-dependente. Ele pode passar suas experiências e dividir a vivência com o usuário, uma vez que já passou por isso."

Vieira destaca a importância do projeto, tendo em vista o aumento alarmante do número de usuários de drogas na cidade, principalmente o crack. Contudo, ele ressalta que a abordagem deve ser o mais discreta possível, para não assustar o usuário nem coagi-lo. "O usuário ou dependente de drogas ainda é visto de forma muito preconceituosa. Muitos só irão procurar ajuda caso se sintam no fundo do poço." Diante disso, Vieira lembra que o diálogo é a melhor forma de chegar ao dependente. "Nada melhor do que uma palavra amiga e um bom conselho."

Crack

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 20% dos usuários de drogas se tornam dependentes. Porém, com o crack, o índice é um pouco diferente. Segundo Vieira, o crack é capaz de viciar em apenas uma semana de uso. Ele ressalta que dos 40 internos do centro onde trabalha, 35 foram usuários de crack.

Devido ao efeito rápido da droga, o dependente sente necessidade de usar constantemente, chegando até mesmo a roubar para conseguir a droga. Esse é um dos principais problemas enfrentados pela família. Vieira relata casos em que o dependente roubou tudo o que havia disponível em casa e vendeu, além de situações em que os pais foram espancados e até homicídios. "É muito importante que a família seja foco das abordagens, assim como o dependente, para se descobrir o motivo pelo qual o paciente chegou às drogas. A família também precisa de ajuda."

Amorim ressaltou a decomposição do sujeito e função do uso contínuo da droga, que ataca tanto física quanto psicologicamente. "Primeiro há um grande abalo psicológico e social, depois há a destruição."

“Ao invés do profissional de saúde estar fixo em uma unidade, esperando pela demanda, uma equipe volante realiza o trabalho de identificação de usuários em risco potencial, fazendo a abordagem dos mesmos e orientando sobre as diversas formas de tratamento que o município oferece”,