Crínica de uma queda anunciada

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Cr?nica de uma queda anunciada

Ailton Alves 06/10/2008

N?o faz muito tempo, cair era sin?nimo de desgra?a absoluta. N?s, enquanto crian?as, l? na Galil?ia, fic?vamos muito sem gra?a quando no pique ou nas correrias desenfreadas ?amos ao ch?o. Esfolava-se o cotovelo e o joelho, mas a dor maior mesmo era as goza?es, t?picas de adolescentes. O ?nico tombo permitido - e at? glorificado - era no futebol. Ai era bom que se ca?sse, que se esparramasse, em carrinhos para defender a meta ou grandes mergulhos em dire??o ao gol advers?rio. Na chuva, ent?o, corria-se mais que a bola para, aproveitando o gramado molhado, deslizar espetacularmente para impedir que a pelota cruzasse a lateral do campo e interrompesse a partida.

No gramado, a exemplo dos piques, o sangue tamb?m aparecia e, digamos, pegava bem. Particularmente, adorava cortar o superc?lio. Algo que n?o era t?o dif?cil assim: uma bola cruzada na ?rea, voc? subia para tentar o cabeceio, um advers?rio tamb?m subia e o choque inevit?vel produzia a mancha na camisa e o jogador, mais por um pedido de compaix?o ? torcida do que por necessidade, desabava.

Tudo isso eram quedas individuais. E a can??o imortalizada pelo Noite Ilustrada era a nossa trilha sonora: "Um homem de moral/N?o fica no ch?o/Nem quer que mulher/ Lhe venha dar a m?o/Reconhece a queda/E n?o desanima/Levanta, sacode a poeira/E d? a volta por cima"...embora duvide que algu?m chorasse ou reconhecesse que"ali onde chorou, qualquer um chorava".

Neste tempo que descrevo n?o aconteciam quedas coletivas. Os campeonatos de v?rzea ou semi-profissionais dos quais participava (antes da miopia, do cigarro e das noitadas) n?o previam isso. N?o se caia de divis?o, nem ao menos havia qualquer tipo de puni??o ao pior colocado. O lanterna do torneio tinha o direito sagrado de continuar jogando entre os melhores, de domingo a domingo.

Agora, os tempos s?o outros. A queda existe e ? bastante lamentada por todos. ? como se n?o fizesse parte da vida, e como se ningu?m nunca tivesse lido Fernando Pessoa ("Eu nunca conheci quem n?o tivesse levado porrada na vida"). N?o h?, talvez, assunto mais comentado a cada rodada do brasileiro, que as poss?veis quedas do Vasco da Gama e do Fluminense, notadamente, para a segunda divis?o do Campeonato Brasileiro.

Acho que n?o h? nada errado aqui. Principalmente no caso do Vasco que, se realmente cair, cumprir? a cr?nica de uma queda anunciada. Desde que Eurico Miranda saiu do clube qualquer um que entenda minimamente de futebol e da vida sabia que a heran?a deixada seria essa.

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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