Nunca tive a felicidade de conhecer, pessoalmente, o grande jornalista, rigoroso e simples nos seus textos poéticos. O futebol para ele era arte, poesia. Revolucionou o jornalismo, levando-o para a televisão. Eram os tempos de ditadura militar. DifÃcil fazer jornalismo na televisão, sob censura, com um oficial militar verificando o que poderia ou não ir para o ar. Mas passou no teste. Encontrava maneiras sutis de noticiar coisas que não eram de agrado dos donos do poder.
Mas conheci o outro lado do mestre, desconhecido para muitos. Na clandestinidade, como dirigente estadual do velho PCB, no Rio Janeiro, nos idos de 1969, sempre me encontrava com os companheiros comunistas que trabalhavam na TV Globo. O local era muito conhecido à época: um bar que ficava na esquina da Rua Jardim Botânico e Pacheco Leão.
Era comum nas conversas polÃticas sobre a conjuntura falar de ajuda financeira para o PCB e apoio aos familiares de presos polÃticos e aos companheiros perseguidos, os quais tinham de viver na clandestinidade, sem poder trabalhar.
Quando recebia as contribuições dos companheiros, mensalmente, eles citavam os colaboradores, entre os quais estava, sempre, o mestre Armando Nogueira. Lembro-me de um fato curioso. Numa dessas reuniões um companheiro falou assim: "Está faltando a contribuição de Nogueira". Levantou-se da mesa e foi até a TV, voltou logo em seguida, sentou-se novamente à mesa e disse: "Agora, sim, está completa a contribuição".
Esse foi o Armando Nogueira que ficou na minha memória. Naqueles dias negros, difÃceis que vivia o PaÃs, não era atitude muito comum. Por isso, o gesto do mestre mostrava o homem digno, democrata.
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Gilvan Cavalcanti de Melo é membro efetivo dos Diretórios Nacional e Regional/RJ do PPS e do Conselho Editorial da revista PolÃtica democrática.
