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Carlos Nelson: marxismo, intelectuais e a democracia

José Eisenberg - Setembro 2012
 

Em tempos em que marxismo virou xingamento, intelectual de esquerda é canhoto, e democracia virou contagem de votos, pode parecer difícil fazer uma homenagem pública a um homem que carregava no peito as três coisas. Marxista, intelectual e teórico da democracia, Carlos Nelson Coutinho foi um dos pensadores e ativistas que confundiu a esquerda ao longo dos seus anos de reflexão, por ter recusado um lugar pré-configurado na constelação de partidos desfigurados em que se transformou o Brasil durante e depois da Ditadura Militar. Junto com outros intelectuais, como Leandro Konder e Werneck Vianna, desafiou as interpretações ortodoxas que a esquerda oferecia ao tema da democracia e recusou abrir mão da convicção de que a revisão não implicava abandonar as premissas axiológicas do marxismo. Trouxe para o centro do debate dessa tradição o imperativo de encontrar formas de compreender a democracia como etapa necessária à emancipação humana, colocando, como denuncia o título de um dos seus últimos escritos, "a democracia como valor universal". As contradições de classe não encontram resolução sob o capitalismo. São contradições. A superação passa por uma concepção republicana de cidadania que traga para seu seio a noção de que a isonomia e a participação política não são meios, mas um fim em si mesmo.

A Revista Pittacos deixa aqui registrada sua homenagem a este grande intelectual brasileiro.

Rio de Janeiro, 20 de setembro de 2012.

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Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil.

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