Alberto Aggio. Um lugar no mundo. Estudos de história polÃtica latino-americana. Rio de Janeiro: Contraponto; BrasÃlia: Fundação Astrojildo Pereira (FAP), 2015. 249p.Â
Falar em marxismo de matriz comunista (Evoé, Gildo Marçal Brandão!) na América Latina, categoria geográfica, polÃtica e cultural desde sempre imprecisa, com a qual espÃritos rebeldes e/ou teimosos seguem querendo e buscando se identificar, é falar de galhos polÃtico-culturais de um tronco quase imaginário. Variados em caracteres, alguns desses galhos estão mortos, outros sobrevivem pela referida teimosia. Mas um deles insere-se, na história polÃtica e intelectual do nosso continente, como uma "corrente subterrânea", mais ou menos tal qual a imagem que Raymundo Faoro tinha de certo liberalismo no Brasil. Tem papel não desprezÃvel na construção da democracia polÃtica nesse quadrante do mundo sem jamais ter alcançado nele a condição de corrente hegemônica, sequer a de corrente orgânica, em partidos polÃticos relevantes.
Embora seja, efetivamente, uma tradição polÃtica - que adotou Gramsci como "seu" autor para entender democraticamente um contexto e não como pretexto de proselitismo socialista ou álibi legitimador de polÃticas pequenas -, essa esquerda vê-se algo exilada da vida polÃtica do continente. Nesse mundo particular opera, com relativo êxito e poucas exceções, outra esquerda, situada na contramão dessa tradição reformista, democrática e republicana. O livro que Alberto Aggio nos oferece evoca o ethos polÃtico dessa corrente (encapsulada?), sendo, em suas linhas mais firmes e gerais, uma incursão desse ethos sobre um terreno assumidamente movediço: o de dar sentido a uma história polÃtica latino-americana.
A reivindicação que intitula o livro - um lugar no mundo - revela a busca de dar perspectiva cosmopolita ao que é suposto como um lugar polÃtico pródigo em particularidades, entre as quais a de ser um lugar compartilhado por diversos lugares nacionais. A ideia de América Latina enquanto substantivo coletivo, singular e plural, não é posta em discussão, mas tomada como premissa. Não há interpelação do coletivo por uma pauta nacional, a la Manoel Bonfim, por exemplo. Mas há interpelação de representações correntes, consagradas, sobre o que seja a identidade polÃtica desse continente. A interpelação de Aggio vem do que há de universal na experiência particular. Um universal culturalmente fincado num extremo ocidente, mas cujo nome é, como no centro, democracia e o sobrenome, polÃtica.
O resultado, naturalmente, não é só história, nem se encaminha a uma história de ideias. A história, no caso, é ferramenta de ofÃcio, manejada com perÃcia técnica e honestidade intelectual para expor uma visão de mundo que é, antes e ao cabo de tudo, polÃtica. Assim se pode entender a coerente, rigorosa e inteligente submissão de um conjunto de temas politicamente nobres - já que mundanos - ao crivo vivaz de um pensamento polÃtico idem. É esse pensamento que empresta unidade à s partes em que se divide o livro.
É por esse filtro cultural (da cultura da matriz ideológica referida) que passam todos os temas abordados na coletânea, escolhidos a partir de um cardápio engendrado pela vida intelectual do próprio autor. Temas que, em parte, saltam de textos agora revistos, mas originalmente escritos ao longo de sua trajetória acadêmica e publicÃstica. Ao lado da marca autoral, no livro reluz a aposta de Aggio numa experiência intelectual coletiva.
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Paulo Fábio Dantas Neto é professor do Departamento de Ciência PolÃtica da Universidade Federal da Bahia.
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