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O isolamento do PT e a frente democrática

Cláudio de Oliveira - Abril 2016
 

Qualquer que seja o resultado da votação de domingo, um aspecto do atual momento chama atenção: o isolamento político do PT do conjunto das forças democráticas do país.

Mesmo que PSB, PPS, PV e Rede somados possuam apenas 54 deputados, a decisão desses partidos em favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff demonstra a incapacidade do petismo de liderar o campo democrático, no qual PSDB e PMDB estão incluídos.

Todas essas agremiações citadas fizeram parte do que chamávamos, nos anos 1980, de frente democrática. Foi ela que promoveu a resistência à ditadura e venceu o regime implantado em 1964.

Foi tal frente, da qual também participaram o PDT e o PC do B, a responsável pela Constituição de 1988, a Carta que estabeleceu os fundamentos institucionais não só do Estado de Direito como também do Estado de Bem-Estar Social no Brasil.

Essa mesma frente deu também sustentação política e parlamentar ao governo de Itamar Franco, que superou uma grave crise econômica, política e social. Com o Plano Real, conseguiu derrubar a crônica inflação do país e lançar as bases de um desenvolvimento econômico sustentado.

Em seu 3º Congresso de 1994, o PT se decidiu por uma "revolução democrática". Então avaliava que estava posto pela realidade brasileira não a iminência de uma revolução socialista, mas um processo de reformas dentro do regime democrático, no qual os trabalhadores fossem social e politicamente incluídos. Um movimento parecido com aquele que o antigo PCB fizera em 1958.

Mas, uma vez no poder, o PT não trabalhou com a noção de frente democrática, em que os partidos democráticos compartilhassem um programa comum. Não só faltou a busca por um entendimento com o PSDB, como a incorporação do PMDB ao governo petista só se verificou após o mensalão. Tal aliança foi realizada não em bases programáticas, mas em termos pragmáticos e em prejuízo dos setores históricos do partido, advindos do antigo MDB.

Excluídos das decisões estratégicas, partidos democráticos e reformistas se distanciaram do governo. O primeiro deles, ainda em março de 2003, foi o PDT, à época presidido pelo ex-governador Leonel Brizola. A esquerda do PT, que originou o PSOL, PPS, PV, PSB e personalidades como Cristovam Buarque e Marina Silva romperam com o oficialismo ao longo dos mandatos de Lula e Dilma. E agora o PMDB de Michel Temer.

A profunda crise em que o país está mergulhado repõe a necessidade da frente democrática e de um programa comum de reformas estruturantes, que relancem o desenvolvimento econômica e preservem as conquistas sociais até aqui alcançadas. A questão que se coloca é como e quem terá capacidade de liderar a realização de um novo consenso social e político expresso por uma frente democrática.

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Cláudio de Oliveira, jornalista e cartunista.

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Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil.

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