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As eleições e um olhar pós-impeachment

Gilvan Cavalcanti de Melo - Julho 2016
 

As eleições municipais marcadas para o próximo 2 de outubro serão realizadas em um novo cenário. Em primeiro lugar, pela confirmação do impeachment de Dilma Rousseff, ou seja, seu afastamento definitivo da presidência da República. E o vice-presidente Michel Temer deixará de ser presidente provisório e permanecerá até o fim do mandato, em 2018. Não é pouca coisa. Em segundo lugar, não existirão mais as atenções, as festas, as competições esportivas das Olimpíadas. Os turistas estrangeiros e nacionais já estarão de volta às suas origens. A opinião pública terá seus olhos para outros temas. A realidade do cotidiano voltará a bater forte.

Ainda podemos afirmar que essas eleições ocorrerão de forma diversa, se levarmos em conta o tamanho e a importância das cidades. Nas cidades de menor porte, serão dominadas por temas locais. Nas cidades maiores e, principalmente, nas capitais, o peso dos temas estará dividido: questões locais e nacionais.

O Rio de Janeiro estará entre as cidades em que o peso das questões nacionais, certamente, será muito grande. Aqui, estarão presentes e serão relembradas as grandes manifestações de rua que a cidade protagonizou nos últimos anos, rompendo a inércia de um longo tempo e manifestando a insatisfação com o modo de governar e com a representação. A Operação Lava-Jato também repercutirá na opinião dos cariocas. Foi ela que permitiu desvendar forças e grupos dominantes na cidade, associados aos governos Lula/Dilma, com a descoberta da enorme corrupção em estatais, principalmente, na Petrobras, etc.

Forte influência terá a responsabilização dos governos do PT e seus associados pelos graves efeitos sociais da crise econômica: desemprego, inflação, estagnação e baixo investimento. Não é novidade para os habitantes do Rio de Janeiro que a facção do PMDB local foi a maior defensora do governo Lula/Dilma. Ajudou e contribuiu para a narrativa fantasiosa de que o país, o estado e o município viviam num mundo maravilhoso. O resultado está aí, para todo mundo ver. A população vai esquecer? Vai ser enganada com novas fantasias?

A conjuntura é outra, são outros os tempos. Acredito que o eleitorado irá cobrar responsabilidades dos atuais dirigentes do PMDB-Rio, recusando a continuidade dessa aliança no governo municipal. Espero, de outro lado, que não surjam ataques grosseiros ao novo governo Temer e seus aliados, do tipo: "governo golpista", "reacionários contra os pobres". Confio que encontraremos meios democráticos para superar a atual crise política, econômica e ética sem precedentes, legada pelos governos petistas e aliados.

Estou convencido de que podemos conduzir bem as próximas eleições e induzir debates elucidativos dos problemas da cidade e de seus habitantes. Para isso, é necessário escolher uma alternativa ao grupo que hoje dirige a cidade. Uma alternativa que olhe para o futuro, sem retrovisor, sem visão dualista, dicotômica: bem e mal, pobres e ricos, esquerda e direita, etc.

Seria uma ótima contribuição para disputar e derrotar o pessimismo, o radicalismo, o catastrofismo, e estimular a confiança na política e nas suas instituições. E reafirmar o compromisso com a democracia como valor permanente e universal, a defesa e o fortalecimento da democracia representativa, baseando-nos nos valores da ética, do mérito e da igualdade.

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Gilvan Cavalcanti de Melo é membro do diretório nacional do PPS e da executiva estadual do Rio de Janeiro.



Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil.

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