O autismo não tem cura, mas é tratável Classificada como distúrbio do desenvolvimento humano, doença afeta a comunicação, a integração social e a imaginação

Carolina Gomes
Repórter

Olhar distante, comportamentos de repetição, dificuldade de aceitar mudanças, hábito de seguir roteiros. Estes são alguns dos possíveis sintomas do autismo infantil, que se caracteriza por alterações sociais, na linguagem e no comportamento. A doença se manifesta habitualmente antes dos 3 anos. É tratável, mas não tem cura.

O psiquiatra César Augusto Souza Lima de Mello trabalha com crianças com a síndrome e explica que não existem exames laboratoriais para detectar o autismo. "O diagnóstico é feito através de exames clínicos feitos em consultório". Entretanto, os primeiros sintomas são detectados pelos pais ao observar os filhos no dia a dia.

Segundo o médico, o distúrbio atinge de 3 a 4 crianças em cada 10 mil no Brasil e é mais comum no sexo masculino. Ele relata que em 75% dos casos de autismo há um retardo mental, que torna a criança completamente dependente. Em 25% dos casos são de pouca dependência, porém, o portador da doença necessita do tratamento e do acompanhamento sempre. Em apenas 1%, que o psiquiatra declara nunca ter visto, a pessoa consegue ter uma vida independente.

Conforme a Associação de Amigos do Autista (AMA), a doença não tem caráter progressivo, mas o desenvolvimento do quadro associado a fatores de idade e crescimento varia bastante. Alguns autistas apresentam um aumento nos problemas de comportamento, principalmente, ao entrar na adolescência. Há relatos de aparecimento de crises epilépticas nesta fase. A maioria dos estudiosos acredita que o autista, ao atingir a idade adulta, tende a apresentar melhora no quadro geral de comportamento. Um aspecto bastante curioso é que as pessoas autistas tendem a parecer sempre mais jovens do que realmente são.

Para o tratamento da doença, é necessária uma equipe multi e interdisciplinar, com médicos, fonoaudiólogos, psicólogos e terapeutas. César Augusto ressalta que o mais importante, no entanto, é o apoio da família. O uso de medicamentos é aconselhável para tentar normalizar comportamentos agressivos.

Informação para aceitação

Crianças com autismo tendem a viver em seu próprio mundo por ter dificuldade de socialização e comunicação. Às vezes, elas podem se tornar agressivas, por não conseguirem comunicar o que querem ou por saírem da rotina. Para lidar com essas crianças e aceitá-las, é preciso conhecer o problema e saber como lidar com ele.

Por todo Brasil existem centros que cuidam dessas crianças, são os Centros de Atenção Psicosocial (CAPS), que possuem uma equipe de vários profissionais que fazem um trabalho multidisciplinar, tratando as três áreas afetadas pela doença - social, linguagem e comportamental. Além disso, existem as APAES, que também se dedicam a esse tipo de trabalho.

"Lá eles exercem um excelente trabalho. A criança tem em um só lugar todo o tratamento que precisa e a família ainda recebe orientações", diz César Augusto. De acordo com o psiquiatra, o importante é que as pessoas ao lidarem com essas crianças tenham respeito, pois elas são muito dóceis e carinhosas, só que de uma forma bem peculiar. 

Ajudando no diagnóstico

CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DO AUTISMO

A. Um total de seis (ou mais) itens de (1), (2), e (3), com pelo menos dois de (1), e um de cada de (2) e (3).

1. Marcante lesão na interação social, manifestada por pelo menos dois dos seguintes itens:

a. Destacada diminuição no uso de comportamentos não-verbais múltiplos, tais como contato ocular, expressão facial, postura corporal e gestos para lidar com a interação social.
b. Dificuldade em desenvolver relações de companheirismo apropriadas para o nível de comportamento.
c. Falta de procura espontânea em dividir satisfações, interesses ou realizações com outras pessoas, por exemplo, dificuldades em mostrar, trazer ou apontar objetos de interesse.
d. Ausência de reciprocidade social ou emocional.

2. Marcante lesão na comunicação, manifestada por pelo menos um dos seguintes itens:

a. Atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem oral, sem ocorrência de tentativas de compensação através de modos alternativos de comunicação, tais como gestos ou mímicas.
b. Em indivíduos com fala normal, destacada diminuição da habilidade de iniciar ou manter uma conversa com outras pessoas.
c. Ausência de ações variadas, espontâneas e imaginárias ou ações de imitação social apropriadas para o nível de desenvolvimento.

3. Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades, manifestados por pelo menos um dos seguintes itens:

a. Obsessão por um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesse que seja anormal tanto em intensidade quanto em foco.
b. Fidelidade aparentemente inflexível a rotinas ou rituais não funcionais específicos.
c. Hábitos motores estereotipados e repetitivos, por exemplo, agitação ou torção das mãos ou dedos ou movimentos corporais complexos.
d. Obsessão por partes de objetos.

B. Atraso ou funcionamento anormal em pelo menos uma das seguintes áreas, com início antes dos 3 anos:

1. Interação social.
2. Linguagem usada na comunicação social.
3. Ação simbólica ou imaginária.

C. O transtorno não é melhor classificado como transtorno de Rett ou doença degenerativa infantil.

Fonte: www.ama.org.br