Meninas podem brincar de carrinho e meninos podem brincar de boneca?

Fazer ou não distinção entre brinquedos e cores pode influenciar diretamente na vida das crianças

Lorranna Medeiros
*Colaboração
9/10/2012
Brinquedos para menina(o)

Meninas devem ter quarto e roupas de cor rosa. Meninos devem ter tudo azul. Elas devem brincar de boneca, eles devem brincar de carrinho. Correto? Para ajudar a responder a esta pergunta, o Portal ACESSA.com buscou auxílio de uma especialista, que apontou que a distinção de gênero pode ou não influenciar na vida das crianças, sem a necessidade de ser uma regra.

Segundo a psicóloga e professora do Centro de Ensino Superio de Juiz de Fora (CES/JF), Cássia Maria Sartori, a criança, desde o nascimento, já tem certa noção de sexualidade, como ocorre, por exemplo, o ato de sucção ao mamar. Aos três anos, de acordo com a psicóloga, a sexualidade começa a ficar mais presente, e a própria criança começa essa diferenciação, "como a identificação da genitália".

Cássia, que atua há trinta anos como psicóloga, afirma que as coisas mudaram muito e rápido ao longo dos anos. "Os pais costumavam diziam que os meninos não podiam chorar, por exemplo. Hoje, as mulheres podem trabalhar onde querem, o homem é vaidoso, a mulher usa roupas mais masculinas e por aí vai..." Essa mudança acontece até no comércio, como observa a professora. "A indústria passou a fabricar bonecos de super-heróis, como se fossem Barbies masculinas. Hoje, está tudo misturado. Cada criança brinca com aquilo com que mais se identifica."

Ainda de acordo com ela, as crianças se identificam com o que veem em casa. "Um menino que vive em uma casa só de mulheres pode passar a ver muita maquiagem, muita coisa diferente do universo masculino, assim, pode querer usar coisas de mulheres. Uma menina que se identifica muito com o pai, pode querer praticar esportes masculinos, se vestir de forma mais masculina." Mas a psicóloga alerta que os pais devem se preocupar quando isso começa a ficar exagerado. "Com pequenos atos podemos mostrar para a criança os outros lados. Como no caso de uma menina que só anda de skate, o ideal não é tirar o hábito de forma abrupta, nem proibir. O melhor é mostrar outras alternativas." É importante considerar, apenas, que os brinquedos são importantes aliados no processo de aprendizagem das crianças.

Para os pais...

Já que o importante é brincar, os pais podem proporcionar grande quantidade de brinquedos, independentemente do gênero ao qual eles são direcionados. Exemplo disso é Jerusa Rabelo, mãe de um casal, uma menina de 3 anos e um menino de 1 ano. Para ela, a filha mais velha influencia o caçula nas brincadeiras e isso se torna até engraçado. "Meus filhos têm brinquedos que compramos para ele e para ela, separados por gêneros mas, na hora da diversão, um pega o do outro. Tudo fica misturado, ele brinca de boneca com ela, e ela também gosta de carrinho."

Jerusa exemplifica. "Uma vez, na creche do meu filho, quando cheguei para buscá-lo, a professora ficou sem graça porque ele estava brincando de boneca. Eu achei engraçado, falei com ela que não havia problema algum. Em casa ele adora brincar de boneca, colocar o bebê para 'dormir', dar 'comidinha'... Nós não vemos problema nisso, a não ser que seja algo exagerado, e, quando acontece, nós escondemos por um tempinho as Barbies."

Em relação às cores, Jerusa acrescenta que quando engravidou dos filhos, procurava as cores por gênero sim, mas que no caso do menino, as opções eram mais amplas. "Para a menina é sempre rosa né? Eu até comprei algumas coisas azuis, mas eram sempre mais masculinas. Já para o menino, a única cor que não dava era o rosa, porque sempre vem com muito detalhe feminino. Hoje está tudo mais colorido, sem muita regra."

Com a palavra, uma filha

No caso da jornalista Carla Arantes, 31 anos, caçula de dois irmãos, foi diferente. Ele conta que, para seus pais, o que era de menino, era e pronto. "Tanto meu pai quanto minha mãe eram muito machistas. Ouvi muito 'eles podem porque são homens'. Por exemplo, eu nunca tive uma bicicleta porque meu irmão do meio vivia caindo e ficava todo machucado, e meu pai dizia que menina machucada era muito feio."

Carla lembra, ainda, que a escolha por gênero não era determinada apenas no momento das brincadeiras, mas também em programas de família. "Lembro do meu pai ter levado meus irmãos para ver o jogo de despedida do Zico, na inauguração do Estádio Municipal. Eu não pude ir porque era menina. Soltar pipa, eu também não podia". 

Pensando em sair do papel de filha e assumir o papel de mãe, a jornalista é enfática. "Acredito que vou ter uma atitude diferente com meus filhos, mas não recrimino o jeito adotado pelos meus pais durante a minha infância. Com certeza fizeram isso porque acreditavam que era a atitude mais correta. Eu acho que meninos e meninas devem brincar juntos e do que eles quiserem, sem nenhuma imposição dos pais. Só acho, no entanto, que desenhos e brincadeiras violentas devam ser evitadas."

*Lorranna Medeiros é estudante do 7º período de Jornalismo do CES

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