Nome do Colunista Raquel Marcato 7/10/2015

Relacionamento entre mãe e filho

relacionamentoÉ viver um relacionamento amoroso-raivoso.

É se ver dentro de uma relação tão cheia de extremos. É flutuarmos entre sorrisos e gritos, entre a harmonia e o pandemônio absoluto, entre a certeza e a completa frustração.

É uma relação absurda de alegria e também extensa na falta de beleza. Vivemos, constantemente, em expansão e recolhimento. Há muito sorriso misturado com angustia e há muito amor carregado de histeria.

Tenho a sensação de que aquele amor silencioso a maternidade não consegue contemplar. Ele, sempre, "espirra", "derrama" e "mancha".

Quando começamos a construir um relacionamento com um filho é entender que algo novo está acontecendo ali. Duas pessoas até então estranhas, uma para outra, começam a se relacionar em papéis diferentes, uma na condição de filho e a outra na condição de mãe.

Duas identidades distintas que começam a se amar dentro de um amor desconhecido. Um amor que nos faz sentir muito mais humanos do que pensávamos e muito mais energia do que, também, imaginávamos.

O amor por um filho nos faz ressignificar toda uma existência. Aquela rotina do EU posso, do EU quero, do EU vou... se interrompe. Dai começamos a negociar com um outro tipo de EU, " Será que vou poder?" " Será que..?" É! O EU some um pouco da jogada, ao menos diminui, consideravelmente, de tamanho.

Vamos aprendendo a lidar com um outro EU, até então, desconhecido por nós. O EU que virou mãe e que, consequentemente, deixou de viver sozinho. Independente de onde estivermos estaremos conectados a uma outra existência.

Dentro do nosso EU sempre terá uma presença constante, pulsante e nem sempre esta presença será gostosa. Em muitos momentos será perturbadora, invasiva, confusa e sofrida.

Então, começamos a nos relacionar com o "além". É uma força que está acima da nossa capacidade de escolha. É ter o coração batendo para dentro e para fora da gente. As nossas preocupações, expectativas e alegrias também.

Para sermos felizes não basta apenas que o nosso EU seja.

Já não controlo mais meu coração, ela me dá um enorme trabalho depois que virei mãe. Ele não me obedece mais, ele desperta a minha consciência sem que eu queira, ele me faz evoluir sem me dar muito tempo para pensar, enfim, virou um órgão, totalmente, independente da minha razão.

O meu EU já não pensa mais sozinho. A minha decisão já não é mais livre, leve e solta. A energia do meu EU ganhou outra forma, cor e emoção. Modifiquei-me sem perceber. Conscientemente, não me lembro de ter optado por esta mudança.

Muita vezes dói sentir que fui desmembrada, tantas outras, arde não poder desfrutar da sensação de viver com o meu coração batendo apenas dentro do meu peito.

Por tudo isso, como podemos amar um filho sem fazer barulho?

Até a próxima, com afeto.


Raquel Marcato, mãe da Marta de 4 anos, blogueira do portal mamaesavessas.com, escritora, questionadora por essência, ativista pelo autoconhecimento e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Autônoma de Barcelona.

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