Dia das Mães: uma história de amor sem limites

O casal Fabiana e Klaus compartilha a experiência do processo de adoção de seus filhos Leon, Pietro e Téo pelo livro Nascer é assim também!

Angeliza Lopes
Repórter
10/05/2015

O sonho de ser mãe não tinha limites para a publicitária Fabiana Nogueira Neves, que aprendeu com a vida a realização da maternidade em uma gestação mais longa e cheia de ansiedades. Com o apoio de seu esposo, o arquiteto Klaus Chaves Alberto, sentiu-se preparada para ganhar da vida um presente único que lhe transformaria completamente: uma família. Seus filhos Leon, 5 anos, e os gêmeos Pietro e Téo, 3 anos, crescem com sentimento de que suas histórias começaram de um jeito diferente, mas apenas isso. Hoje a família mora em Nova York, nos Estados Unidos, e vive todas as experiências, sempre juntos!

Os desafios no início foram grandes para Fabiana e Klaus. Antes de optarem pela adoção, tentaram engravidar três vezes, mas as tentativas deixaram de ser aquele momento mágico, para se tornar algo frustrante e muito desagradável. Nas conversas entre o casal, entenderam que a vontade de ter um filho era muito maior que uma gestação tradicional. "Queríamos um filho e não uma barriga. O que era a convivência de nove meses, comparada a um futuro que poderia durar por décadas. Aí que veio a ideia de adotar", destaca Fabiana.

Após os trâmites legais para a adoção, com inclusão no cadastro nacional para adoção, visitas de assistentes sociais e psicólogos, o jeito era esperar. Mas o tempo era cruel e passava bem devagar na expectativa de receber a ligação mais importante de suas vidas. Faltando três dias para o Natal, Klaus estava em casa e ouviu o telefone tocar. Do outro lado da linha era o comissário da Vara da Infância informando o nascimento da história do primeiro filho do casal: Leon chegou! "Cheguei de carona com uma amiga, toda suja, depois de um dia intenso de trabalho. E após nove horas de espera, a porta do elevador abriu e vi aquele bebê tão lindo no colo do comissário. Pela primeira vez escutei a seguinte frase: quem é a mãe do bebê? Todos desabaram no choro. Foi inesquecível", conta. Após tentar contato com 80 casais, eles foram os escolhidos para oferecer um lar para Leon que tinha apenas 19 dias de vida.

Mas o enxoval não estava pronto e não tinham nada de bebê em casa. Com o apoio dos amigos, que também estavam na torcida, em menos de três dias, eles ganharam todos os itens para cuidar do bebê. Ela conta que os desafios eram os mesmos para qualquer mãe de primeira viagem. São as mesmas inseguranças, visitas ao pediatra e questionamentos. Toda a família esteve junto desde o início. Leon foi recebido com muito amor por todos. Em seu aniversário de um ano, Fabiana resolveu fazer um livro que contasse sua história para que seu filho crescesse sabendo como foram os primeiros dias se sua vida. "Queria montar como se fosse um álbum para falar de todo o processo antes dele nascer, da espera (gravidez) que passamos antes de Leon chegar a nossa família. O livro seria a lembrancinha da festa". Com a ajuda de alguns alunos o livro teve 300 exemplares que se esgotaram.

Pietro e Téo

Dois anos depois, eles decidiram voltar para a fila de adoção e oferecer a Leon a oportunidade de um amigo para a vida toda, que era um irmãozinho. Uma semana depois de voltarem de férias, novamente, Klaus recebeu a ligação. Mas dessa vez tiveram uma surpresa ao saberem que não era um, mas dois meninos. "Tive que preparar meu filho para seus irmãozinhos que iam chegar. Quando falei, ele me perguntou: - Vou ter que dividir meus brinquedos, meu quarto, as minhas brincadeiras. Respondi que sim. Então ele falou todo empolgado. - Oba! - Foi muito lindo a aceitação dele."

Os gêmeadoçãoos chegaram, mas o casal levou um susto já na primeira semana de vida dos meninos. Pietro teve infecção urinária e precisou ficar dez dias internado, com chances de não resistir. Fabiana afirma que já não imaginava viver sem ele e tudo foi bem doloroso. Com a dedicação dos médicos e dos pais, ele conseguiu se recuperar e retornar para casa. "No primeiro ano de vida, os gêmeos tiveram vários problemas de saúde. Neste momento que aprendi o quanto o amor constrói e mantêm laços para a vida inteira. Tiveram problemas respiratório, alimentares e enfrentamos situações difíceis, mas se não tivéssemos o amor como base de sustentação, com certeza teria sido muito mais difícil".

No aniversário de Pietro e Téo, novamente, Fabiana fez um livro contando como eles chegaram na família. Logo depois, a publicitária recebeu vários e-mails e telefonemas pedindo um exemplar, que seria uma opção de como contar e falar sobre adoção.

Projeto: Nascer é assim também!

Foi assim que surgiu o projeto inscrito pela Lei Murilo Mendes, "Nascer é assim também!". Fabiana descobriu que muitas pessoas sentiam necessidade de aprender como falar do assunto de forma mais leve e lúdica com seus filhos. "Por lei, todas as crianças adotadas tem o direito de saber quando completam 17 anos de vida. Não via motivos para esconder isso dos meus filhos, por isso criei esta narrativa que seria um álbum de como a vida deles começou. Reuni as duas histórias e montei o livro que seria um suporte muito bom e que não era só nosso". O livro lançado em 2014  teve repercussão em toda a imprensa. Mesmo após sete meses, ele ainda rende frutos, que Fabiana vê como algo muito especial. "Não existe nada que pague isso", se emociona.

adoçãoNa voz de sua cachorrinha Tita, o livro narra o processo de adoção de seus três filhos. Ela explica que ser mãe é aprender e ensinar todos os dias. Saber não julgar, ter respeito e gratidão. "O processo de construção de uma família é contínuo e não deve haver barreiras entre você e seus filhos. O amor como base faz com que tudo seja superado, sendo que o exercício de ser mãe é diário. Acertamos e erramos todos os dias. Não existe uma receita. Os pilares fundamentais são aceitar o outro como ele é, superar as diferenças e perdoar os erros."

Adoção

Conseguir adotar uma criança no Brasil pode ser um processo lento. Mas, o maior impasse quanto ao tempo de espera são as restrições nas características que limitam como a idade e cor da criança. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), existem 4.427 crianças e adolescentes inscritas no Cadastro Nacional de Adoção. Dentre elas, 33,86% são brancas, 19,11% são negras, 0,54% amarelas, 45,74% pardas e 0,75% indígenas.

O problema se encontra na distribuição em relação à preferência dos pais na hora de adotar. Quanto à cor, 37,94% somente adotam crianças brancas, 2,1% negras, 1,29% amarelas, 5,90% pardas e 1,28% indígenas. A diferença também acontece quando o assunto é idade: 75% dos pais preferem as crianças de até três anos para adotar.

O processo de adoção começa com a inscrição da pessoa interessada no Cadastro Nacional de Adoção, na Vara da Infância e Juventude. Depois passa pelas entrevistas e visitas de assistentes sociais e psicólogos e o casal precisa fazer o curso de habilitação. "Todo o processo avalia se as pessoas estão preparadas para garantir segurança e qualidade de vida para a criança. As restrições que fazem com que o processo seja mais longo. Depois de ser chamada, a família e bebê passam por um processo de estágio de convivência e caso esteja tudo certo, a juíza sentencia a adoção efetiva", explica o comissário Maurício Alves.

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