Artigo
Vida em ciclos
:::28/04/2006

Dia desses, eu conheci um jornalista muito gente boa que tinha uma cisma engra?ada. Para ele, a nossa vida se transforma a partir de ciclos que duram exatos seis anos. Tudo bem que essas conversas de bar a gente n?o pode levar muito a s?rio - ainda mais depois de v?rias e v?rias rodadas de cerveja. Mas no meio de uma mesa formada s? por jornalistas, o boteco vira local de produ??o de pauta, e n?o filosofar sobre o c?u, o inferno e o sexo dos anjos ? miss?o imposs?vel. Prova disso, eis-me aqui.

Antes da saideira, euzinha - e acredito que quase todos que estavam na mesa, bebendo sem pretens?o - pensava em si mesmo dentro desses tais ciclos rezados pelo mo?o. Seis anos atr?s, eu era uma estudante que sonhava em ser editora-chefe da Marie Claire em Nova York, tinha cabelos mais longos e mais escuros e meus olhos desconfiavam das m?gicas alucinantes de um gurizinho conhecido como Ronaldinho Ga?cho, bem no meio do pr?-Ol?mpico. Daqui h? seis, espero ter tirado minha carteira de motorista - ai, que vergonha! - aprendido a tomar chimarr?o e ter conseguido come?ar a ler o Baudolino, do Umberto Eco, denso demais para minha beleza.

Minha m?e tamb?m tem uma teoria parecida. Se ela estiver certa, a cada Copa do Mundo seremos protagonistas de grandes transforma?es. A euforia da torcida faz anunciar um recome?o de uma etapa da vida. Vamos l? novamente ao exerc?cio dif?cil de mem?ria: em 2002, ?ltima Copa, eu era feliz. O campeonato brasileiro ainda era decidido com finais, eu tinha votado no Lula e, na ressaca das baladas enjoadas das boy bands, via surgir um novo rock and roll gostoso, com cara de modernidade. Copa seguinte: quero ser m?e, quero ter aprendido a cozinhar (e a dirigir - c?us, que vergonha!) e quero estar preparada. Como adiantou Arthur C. Clarke, 2010 ser? o ano em que faremos contato.

Muito louca essa hist?ria de vida em ciclos. Porque ser? que tantas incertezas sobre o futuro nos levam a acreditar (ou a inventar) modos diferentes de ordenar nossa vida? C? entre n?s, se estiver rodeada por uma inacab?vel nuvem negra, cheia de trope?os e insucessos, n?o vou ter paci?ncia para esperar, quatro, seis, sei l? quantos anos para ver o sol brilha novamente, como uma can??o de Oz. Mas numa coisa eu concordo: minha m?e e o jornalista s?o muito otimistas e acreditam nas boas mudan?as. Se tudo parecer perdido, a regra ? espere, v? e ven?a. T? certo, m?e! ? como voc? sempre diz: "Tudo passa. At? a uva-passa!".

Em tempo: A diferen?a - como no comercial! - s? est? nos cabelos, porque ainda me imagino como editora da Marie Claire Nova York e babo cada dia mais nos lances do Ronaldinho. Acima de tudo, confio nas mudan?as. Yes, baby, os sonhos n?o envelhecem. Vamos conversar daqui a seis anos?



Sess?o pipoca
Depois de nosso engra?ado (ou frustante) exerc?cio de mem?ria, bom nos colocar no lugar de her?is da telona. Quem n?o queria ser Martin McFly, do "De volta para o futuro"? E o bonitinho do "Efeito Borboleta"? Errar ? ruim, e o gostinho de experimentar um futuro diferente ? instigante. Mas esse ? assunto para outra conversa...




Ano determinante
Em 2002, ano da Copa passada, tamb?m foi o da ?ltima elei??o para governador e presidente. Se voc? n?o lembra em quem votou (que vergonha, heim, bonita!), essa ? uma boa ?poca para come?ar a pensar nisso. Quem sabe, agora sim, n?o se inicia uma etapa nova e realmente transformadora?


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Andr?ia Barros ? jornalista
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