Arte nas ruas...Literalmente! Em uma das ruas do bairro Bandeirantes, a Copa do Mundo s? acontece
de verdade quando o cor da asfalto ? transformada pelo talento

Fernanda Leonel
Rep?rter
junho/2006

Talento ? assim. Basta uma oportunidade para ele se tornar p?blico e n?o tem mais jeito: o dono do dom cai no conhecimento do povo e os trabalhos v?m como que em cascata.

Se a l?gica ? assim para todos, n?o d? pra afirmar, mas parece ser para grande maioria. O certo ? que a hist?ria de Cristov?o Abreu recebeu uma pitada desse tipo de destino: foi s? seus desenhos sa?rem da "fronteira" da sua casa para que ele se transformasse no artista oficial do bairro Bandeirantes.

Tudo come?ou em 1982, na Copa da Espanha. Uma vizinha de Cristov?o tomou conhecimento dos desenhos que ele fazia em qualquer papel que desse "bobeira", e prop?s que ele enfeitasse a rua da casa deles. O desafio foi aceito e todo mundo da vizinhan?a adorou.

Gostaram tanto que depois desse ano n?o teve mais jeito. A dias da sele??o verde-amarelo entrar em campo, l? estava Cristov?o, com pincel e tinta na m?o, fazendo desenhos para que a torcida da rua Ant?nio de P?dua Mendes entrasse no clima com arte. 1982, 1986, 1990, at?...2006! Para a vizinhan?a do artista, a Copa s? come?a quando o asfalto perde a cor natural.

S?o oitenta litros de tinta para pintar os 250 metros de desenhos. ? s? observar o tamanho do carro na foto para se ter uma id?ia da largura e altura que cada personagem ocupa na rua do bairro Bandeirantes. Trabalho que foi se aprimorando e ganhando mais import?ncia a cada Copa do Mundo.

"Hoje j? virou tradi??o. Esse ano, por exemplo, eu nem ia pintar. Mas temos 11 crian?as na rua e elas insistiram muito e a? n?o teve como negar", comenta Cristov?o. Ele conta que as crian?as insistiram com pais que montaram uma caixinha para comprar as tintas e at? inventaram uma esp?cie de"ped?gio" para arrecadar dinheiro.

O trabalho demorou tr?s semanas para ficar pronto. Todos os dias, depois servi?o, o padeiro voltava para casa, descansava alguns minutos e j? ia para rua fazer a alegria dos pequenos. "Os meninos ficavam em cima da laje quando estava chegando a hora de eu sair da padaria. Era engra?ado. Eu s? ia ouvindo gritos de um para os outros avisando que "O Crist?v?o tinha chegado".

Durante esse tempo, o trabalho minucioso e de grandes propor?es, ocupou todas as horas de folga do artista. Como contou, em alguns dias chegou a pintar at? ?s duas da manh? para terminar algum detalhe. Trabalho pesado, mas que segundo Cristov?o, sempre acaba valendo a pena.

Voca??o Art?stica
Cristov?o praticamente nunca desfrutou comercialmente do talento que tem para o desenho e para a pintura. Ele conta que desde crian?a j? fazia trabalhos manuais, mas que com o pincel, s? trabalhou com bicos que apareceram para pinturas de faixas, muros e fachadas de lojas.

Em casa, guarda alguns dos trabalhos que fez por ali mesmo, sempre que uma vontade de se expressar batia. Paisagens, rostos, caricaturas. Tudo j? virou arte na m?o de Cristov?o. "?s vezes, a gente trava, ? preciso uma certa inspira??o. Mas quase sempre eu desenho, quase todos os dias rabisco alguma coisa".

O artista nato come?ou seu affair com os tra?os art?sticos desde cedo. Ainda no col?gio, o adolescente descobriu que poderia conquistar as meninas dando desenhos para elas.

"Eu tinha um amigo que sempre fazia desenhos para uma menina, e sempre pedia para eu consertar os detalhes. Resultado: a menina em vez de dar bola para ele, acabou se apaixonando por mim", brinca. Casado, ele diz n?o ter conquistado a esposa com mais um de seus desenhos, mas ? ela hoje, uma de suas f?s. Ela e mais, no m?nimo, o resto da rua.

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