Fernando Agra Fernando Agra 7/03/2015

Juros, dólar e inflação disparam: será o "fim dos tempos"?

Juros, dólar e inflação em alta somente têm ampliado as incertezas com relação aos rumos da economia brasileira para este ano de 2105.

Caros leitores, durante a confecção deste artigo, a taxa de câmbio estar sofrendo mais um processo de depreciação e um dólar já se encontra a R$ 3,05. Paralelo a isso, o IPCA de fevereiro foi divulgado e mantém-se num patamar alto de 1,22% no mês e acumula alta de 7,7% nos últimos 12 meses, o que ultrapassa e muito a meta estipulada pelo governo que é de 4,5% ao ano, com um teto de 6,5% ao ano. Para piorar a situação, as taxas de juros dos títulos da dívida pública subiram mais ainda (tem LTN para 2018 pagando 13,22% ao ano e NTNB principal para 2024 remunerando 6,34% mais IPCA, o que totaliza hoje 14,04% ao ano, acima da SELIC que estar em 12,75%, após novo aumento na última quarta-feira). E agora, o que fazer? Quais as causas quem explicam as situações supracitadas? Quais as possíveis consequências?

Aumentos nos preços dos combustíveis e da energia elétrica, bem como nas passagens de ônibus, trem e metrô aliados à alta de preços de alguns alimentos têm contribuído para o aumento da inflação. Com isso, o poder de compra tem diminuído cada vez mais. E quem mais sofre são as classes mais pobres, que possuem uma maior propensão a consumir da renda disponível, ou seja, gastam maior parte da sua renda disponível com o consumo. E quanto mais pobre, mais a propensão ao consumo de produtos essenciais, como alimentos.

Já a disparada do dólar tem acontecido por questões endógenas (internas) e exógenas (externas). No ambiente interno, merecem destaques as incertezas com relação à eficácia das medidas econômicas da nova equipe. No âmbito externo, a explicação é dada pela perspectiva de aumentos dos juros nos EUA já em 2015, uma vez que a economia lá tem se recuperado e não se justifica juros tão baixos por muito tempo (estão em 0,25% ao ano), pois podem contribuir para provocar uma inflação de demanda. Juros mais altos nos EUA tendem a atrair especuladores para as aplicações do tesouro americano. Isso quer dizer que dólares sairão da economia brasileira para as aplicações nos EUA. Menos dólares no futuro significa que o preço do mesmo subirá. E aí o leitor indaga: mas porque subiu agora? E eu replico: se você vai precisar de dólares no futuro e acha que ele vai subir, o que você faz agora? Com certeza, tende a antecipar a compra da moeda. Todos pensando assim, há um excesso de demanda por US$ já.

E no caso dos juros, a SELIC manteve a tendência de alta e hoje está no patamar mais alto de todo o governo Dilma. Os juros têm subido para tentar combater a inflação. Mas juros altos somente combatem inflação de demanda (exceto demanda por alimentos): é a conhecida âncora monetária. Mas será que temos inflação de demanda ou de custos, já que os preços dos combustíveis e da energia elétrica têm contribuído para custos de produção mais altos. Vale ressaltar que um dos efeitos colaterais de juros mais altos é o desaquecimento da economia e o consequente aumento da taxa de desemprego, que passou de 4,3% para 5,3% já no início deste ano.

É uma pena constatar que as variáveis macroeconômicas destacadas neste texto estejam tão ruins. Torço para que as medidas da equipe econômica (por mais dolorosas que são) comecem a surtir efeitos tão logo, de modo que o governo possa voltar a reduzir os juros e fazer a economia voltar a crescer (e se desenvolver) com fôlego. Espero também que a situação de alta de taxa de juros nos EUA seja bem sinalizada e administrada pela equipe do Banco Central americano, de modo a não provocar maxi-depreciações cambiais em vários países do mundo. Assim, o "fim dos tempos" não será concretizado atualmente.


Fernando Antônio Agra Santos é Economista pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Professor da Universidade Salgado de Oliveira (Universo) e professor licenciado da Fundação Educacional Machado Sobrinho, todas as instituições em Juiz de Fora - MG. Também é economista do Centro Regional de Inovação de Transferência e Tecnologia (Critt) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O autor ministra palestras, para empresas, na área de Inteligência Financeira, Gestão de Pessoas, Relacionamento Interpessoal, Marketing Pessoal e Gestão do Tempo. É autor do livro "Crédito Rural e Produtividade na Economia Alagoana" pela EDUFAL. É colunista do Portal ACESSA.com e foi coautor de artigos na Folha de São Paulo on line (com o colunista Samy Dana, Professor da FGV - SP).Saiba mais clicando aqui.

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