Andre Salles André Salles 30/06/2014

A individualidade dentro do contexto do trabalho: o olhar deve ser neutro

Quem trabalha, por exemplo, com o trinômio "pensar", André"sentir" e "fazer" ao fim de algum tempo nota ter adquirido uma nova maneira de pensar, de sentir e de querer. Importante deixar claro que esta atividade não consiste apenas em achar razões lógicas sobre o contexto do trabalho, mas em assimilar um modo de sentir e de pensar que abranja um mundo que vai além dos "pensamentos lógicos". Como exemplo, o mundo das sensações e dos sentimentos. Segundo Steiner, o precursor da Antroposofia, "temos que adquirir antes de tudo a faculdade de amar a objetividade" e "só quando houvermos aprendido a amar a objetividade, a realidade das coisas, as coisas como elas são, é que poderemos decidir por meio de razões [realmente] lógicas".

Quando afirmamos anteriormente que os pensamentos que nos levam a denegrir o trabalho de um administrador ou a ignorar um simples trabalho de um funcionário devem ser transformados e evitados significa dizer que precisamos ser retirados do mundo habitual, da maneira habitual de pensar, para um olhar desprendido sobre as manifestações do contexto do trabalho – este olhar desprendido é o "amar" (compreender) a "objetividade" (o mundo dos fenômenos) tomando como ponto de partida não o pensamento lógico tradicional (sequencial, cronológico, teórico, etc.), mas a faculdade de estimular a atividade psíquica e alargar os horizontes... Muito menos tratar a faculdade de abstrair-se, de teorizar. Contudo, tomar da fenomenologia a descrição da "redução fenomenológica" como ponto de partida: um olhar neutro para a individualidade que trabalha.

Queremos deixar claro o fato da existência de uma dimensão, dentro do contexto organizacional, que vai além do aparato físico: máquinas, móveis, processos, etc. Assim, o que estamos falando e afirmando como "maneira correta de pensar o ambiente de trabalho" pode ser entendido com as seguintes palavras de Steiner: "Outros fenômenos observáveis em nosso ambiente, como a consciência, a linguagem, a faculdade de contrapor-se ao mundo exterior com um mundo interior próprio – caracterizando a individualidade num de seus aspectos essenciais -, formam outro mundo situado acima do físico (...) ao qual pertence, dentre todos os seres físicos, apenas o homem".

Pouco esforço terá de empreender um administrador para compreender o mundo organizacional como "totalidade", "como acima do mundo físico", se souber valorizar aquilo que diferencia o ser humano do ser animal: a capacidade de dizer "eu". Assim sendo, é na sede de sua autoconsciência que aqueles que têm a responsabilidade de administrar devem buscar a fonte do "correto pensar": uma ação não corretamente pensada ou uma ação tomada a partir da vontade de outrem pode demandar problemas futuros irreparáveis, pois a capacidade de dizer "eu" não é fixa. Afirmo irreparáveis no sentido de adequação dolorosa, apenas.

AndréObservem como um "administrador nato" é capaz de resolver problemas que muitas das vezes afirmamos impossíveis de resolver. Isto se deve ao fato deste já ser capaz, mesmo que inconscientemente, de pensar o mundo objetivo a partir de outro mundo "não fixo", um mundo dos sentimentos (sensações), por exemplo, – um mundo próprio de sua individualidade e da individualidade de seus subordinados. Muitos dos problemas ditos insolúveis poderiam ser facilmente sanados se nosso olhar se voltar para cada uma das individualidades dentro do contexto organizacional como faz um "administrador nato". Busquemos aprender com eles um olhar neutro para a individualidade que trabalha.


André Salles é Bacharel em Psicologia pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora; Pós-Graduado Latu-Sensu em Psicologia Fenomenológico-Existencial pela PUC-MG; Mestrado em área de Concentração Filosófica pela UFJF; Formação em Docência pelo DETRAN-MG - atuou como Professor e pesquisador em Psicologia Aplicada em Centros de Treinamentos de Condutores na cidade de Juiz de Fora; Foi Educador em disciplinas de Psicologia e Filosofia na Faculdade Sudeste de Minas – FACSUM; Conselheiro Administrativo em Psicologia do Trabalho junto ao Instituto Joaquim Soares de Oliveira, na cidade de Santos Dumont - MG; Detentor de Cargo Público do Governo Federal, onde atua em serviços Técnicos na área Operacional de Gestão de Pessoas, desde o ano de 2001; Psicólogo do Trabalho e Psicólogo Clínico vinculado à Associação Brasileira de Psicólogos Antroposóficos; Curso em Formação Antroposófica e Educação Waldorf – Foundation Courses and Waldorf Certificate Program - pelo Sophia Institute – US. Saiba mais clicando aqui.

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