Amanda Beloti Amanda Beloti 27/04/2016

O que é a Síndrome da Hipermobilidade?

Olá, leitores!

Hoje falarei de uma síndrome que acomete, em vários níveis, mais de 30% da população (segundo estimativa de estudos) e que, mesmo sendo benigna na maioria dos casos, causa muitos danos ao corpo. Mas, em casos mais graves, pode ser doença. É a Síndrome da Hipermobilidade Articular.

Claro que existem os hipermóveis extremos, como na figura acima, que dedicam a vida ao contorcionismo. Mas não pensem que eles não sentem dor. Levar o corpo ao extremo nunca resulta em ação sem danos.

Mas existem os outros graus de hipermobilidade, mais leves, que podem ser reconhecidos entre nós, pessoas "comuns". Eu mesma sou hipermóvel e já tive diversas lesões articulares e musculares em virtude desta característica.

A Síndrome da Hipermobilidade é, provavelmente, a causa mais freqüente de dor generalizada na prática reumatológica, mas raramente é diagnosticada. Essa condição é resultado de um defeito genético nos tecidos conjuntivos (tendões, músculos e cápsulas articulares – as membranas que envolvem as articulações). É a capacidade de se realizar um movimento além da amplitude esperada, com mais flexibilidade. Mas isso não deveria ser assim, pois este defeito genético é responsável por problemas de coluna, dores nos joelhos, nos ombros e em diversas outras articulações.

O maior problema de se diagnosticar esta Síndrome é que a associação entre a hipermobilidade e suas causas/consequências ainda não é totalmente conhecida. É mais comum em mulheres do que em homens.

Não há cura pra hipermobilidade, mas existem prevenções bem eficazes, como um bom programa de fortalecimento muscular SUPERVISIONADO, porque como o hipermóvel alcança amplitudes de movimento além do considerado "saudável" pra uma articulação, ele pode muitas vezes se machucar gravemente se exercitando. Ou piorar a frouxidão de seus ligamentos pouco a pouco, sem sentir os sintomas, que aparecerão em longo prazo. Um aparato muscular adequado pode aumentar a rigidez articular e desempenhar o papel de estabilização, que é insuficiente no hipermóvel não tratado.

Reparem no exemplo acima: quando a paciente se posiciona para realizar os exercícios na posição de 4 apoios, seus cotovelos chegam no extremo de amplitude, forçando tendões, músculos e cápsula articular, o que gera mais frouxidão ligamentar sem necessariamente causar sintomas imediatos. Os danos aparecerão em longo prazo.

Agora sim, sob supervisão, a paciente é orientada a manter os cotovelos em posição neutra, no limite normal da articulação para realizar os exercícios físicos sem forçar as articulações e suas estruturas.

Quem tem flexibilidade exagerada, por exemplo, tem maiores chances de torções recorrentes no tornozelo. Ou de "tirar e colocar" o ombro no lugar. Muitas pessoas gostam de "exibir" estas habilidades sem nem imaginar o mal que está fazendo para seu corpo.

A reeducação da postura, o fortalecimento muscular e todo o trabalho para que o hipermóvel tenha uma vida normal, sem lesões constantes, é gradual, realizado por um fisioterapeuta competente, focando sempre nas maiores áreas de instabilidade do paciente (não necessariamente TODAS as articulações serão hipermóveis. Algumas serão próximas do normal, e outras mais evidentes e/ou sintomáticas).

Esportes de muito contato pessoal ou de alto impacto (como lutas corporais e futebol) devem ser evitados até que o paciente possa realizá-los de forma segura, mas sempre com o cuidado redobrado.

Em mulheres, a hipermobilidade pode resultar em uma incontinência urinária à medida que a idade vai passando, sendo necessário um trabalho fisioterapêutico de reeducação do assoalho pélvico. A Síndrome da Hipermobilidade pode andar de mãos dadas também com a Fibromialgia, além de poder causar, em menor frequência, prolapso da valva mitral do coração, que pode ser assintomática e não causar dano algum (é quando a válvula mitral não se fecha apropriadamente, deixando um pouquinho do sangue voltar do ventrículo esquerdo pro átrio esquerdo. Cerca de 10% da população vive normalmente com este prolapso sem nunca tomar conhecimento).

No meu caso, machuquei diversas vezes os joelhos e o ombro direito, na prática de esportes, sem saber que tinha esta síndrome. Somente depois de muitas tendinites e bursites de repetição é que fui descobrir meu diagnóstico, que foi feito pelos meus professores durante a faculdade. Além disso, no meu caso, existe um leve prolapso da valva mitral no coração, sem sintomas e sem maiores perigos. Mas nunca é demais se investigar, não é mesmo? Logo, vale à pena estar com os exames cardíacos também em dia.

A identificação da hipermobilidade pode ser feita pela observação clínica, pela união dos sintomas e relatos do paciente, além de alguns testes:

1. Consegue colocar as mãos espalmadas no chão, inclinando o corpo pra frente sem jogar a pelve para trás e sem dobrar os joelhos? (1 ponto)
2. Seu cotovelo se estende "para trás" (além do limite de 180 graus)? (1 ponto para cada cotovelo)
3. Seu joelho se estende "para trás" (além do limite de 180 graus)? (1 ponto para cada joelho)
4. Consegue encostar o dedo polegar no antebraço? (1 ponto para cada polegar)
5. Consegue dobrar o mindinho a 90 graus de uma superfície? (1 ponto para cada mindinho)
Total da escala = 9 pontos (a pontuação é analisada com os sintomas pelo médico e pelo fisioterapeuta).

A Síndrome da Hipermobilidade deve ser levada em consideração em todos aqueles pacientes que apresentam torções, luxações, tendinites e bursites recorrentes na mesma articulação, ou naqueles que relatam que alguma articulação "parece que vai dar um jeito".

Mas a hipermobilidade pode também não ser benigna, e causar doenças graves, que tem repercussões não só articulares mas também em órgãos: Síndrome de Ehlers-Danlos, Síndrome de Marfan, Osteogênese Imperfeita e um grupo de doenças chamado de Condrodistrofias. Sobre estas doenças, falo em uma próxima oportunidade.

Portanto, procure seu médico caso se identifique com o relatado aqui. Não automedique! E lembre-se, o tratamento consiste em procurar um fisioterapeuta para: fortalecimento muscular supervisionado, correção da marcha, exercícios funcionais de dia-a-dia, condicionamento físico, mudança de hábitos nocivos e reeducação global.

Até a próxima! Obrigada pela leitura!

Pedidos de temas em amanda.beloti@yahoo.com.br.


Amanda Beloti é fisioterapeuta graduada em 2009 pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Cursa Especialização em Fisioterapia Traumato-Ortopédica pela mesma instituição. Instrutora Internacional de Pilates pela Pilates Plus (autorizada pela Associação Norte-Americana de Pilates). Sócia-proprietária do Consultório de Fisioterapia e Pilates STUDIO A. Saiba mais.

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