Vício em tecnologia pode atrapalhar os estudos e o relacionamento

Psicanalista afirma que o primeiro passo para a mudança está em aceitar que há algo de errado

Laura Lewer
*Colaboração
22/03/2014

Em uma época em que boa parte das pessoas não consegue se separar de seus celulares e computadores, não é difícil encontrar os que se digam "viciados" em tecnologia. A estudante de jornalismo Amanda Magalhães, por exemplo, chegou a deletar seu perfil no Facebook para otimizar seu tempo e se concentrar em escrever o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

Amanda, que nunca precisou se desfazer de nenhuma outra rede social, tomou essa atitude pela facilidade que tinha em entrar no site. "Isso fez com que eu perdesse muito tempo. Antes de tomar a decisão, desativei todas as notificações que gritavam na tela do celular e isso ajudou um pouco. Mesmo assim, a curiosidade de saber o que estava acontecendo no Facebook era maior. Como temos prazos para entregar os capítulos do TCC, percebi que o tempo estava passando e eu não estava rendendo, pois escrevia umas três linhas e queria olhar o que acontecia lá", conta. 

Segundo a psicopedagoga Cristina Coronha, casos como o da estudante são mais comuns do que se imagina. "Hoje em dia há uma facilidade muito grande no acesso à tecnologia e nossa cultura está estimulando esse uso. Como todo vício se manifesta pela repetição de alguns pensamentos e a tecnologia está em todos os lugares, essa situação se torna comum", explica. 

Benefícios

Para a psicanalista Regina Castelo, tudo se trata de uma questão cultural. "Vivemos em uma sociedade capitalista que vende a tecnologia e nós a consumimos. A oferta do mercado tecnológico é extremamente atraente e abundante. Mas ela também é muito benéfica e oferece um lado positivo do qual não podemos nos furtar, como é o caso dos cursos e universidades virtuais". 

Segundo Samir Iásbeck, criador da empresa Qranio, que alia a tecnologia com conhecimento, às vezes as pessoas têm dificuldade de reconhecer os benefícios da era tecnológica. "Nem tudo se trata de video games. A energia elétrica, o jornal impresso, tudo vem da tecnologia. Eles não ajudam no estudo? A tecnologia sempre esteve e sempre estará presente, a questão é como utilizá-la", afirma.

Dosagem

É desse "como utilizá-la" que a estudante de publicidade e artes e design Mariana Schwartz se refere, ao contar que seu namorado divide sua atenção entre ela e os jogos no celular. "Como tudo na vida, a tecnologia tem seus lados positivos e negativos. Sei que o celular, por exemplo, pode ser usado para milhões de coisas boas, mas sou contra o uso sem moderação. Acho que hoje em dia as pessoas têm a necessidade de 'estar fazendo algo', e parece que é proibido alguém ficar sentado em um banco, simplesmente sem fazer nada. Muitas vezes você perde a oportunidade de conversar com a pessoa que está do seu lado", diz. 

De acordo com Regina, o primeiro passo para a mudança está em aceitar que há algo de errado. "Quando a pessoa se conscientiza sobre o quanto o vício tira dela, ela já pode fazer algo. O ideal é ir diminuindo aos poucos e botar um controle nas ações, como ficar apenas uma hora por dia nas redes sociais. 

Com Amanda, que deixou o Facebook de lado para se dedicar à faculdade, a técnica deu certo. "Não perco mais o foco no que estou escrevendo e consigo dedicar mais tempo a isso e a outras coisas. Assim como nos acostumamos com o tempo mais livre, sem aquela 'obrigação' de ter que ficar entrando na rede social toda hora", conta. 

Para a estudante, esse tempo longe do site mostrou a dependência das pessoas em relação à tecnologia. "Há mais ou menos um mês, o Whatsapp parou de funcionar por longas horas e tenho certeza que muita gente sentiu raiva e percebeu como é refém desses aplicativos. Eles são incríveis, mas esse exagero não é saudável. Pode não ter notificação ou recado nenhum, só que a pessoa quer estar sempre conectada.

*Laura Lewer é estudante do 7º período de Jornalismo do CES/JF

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