De Foz do Iguaçu a Buenos Aires de bicicleta em 19 diasO estudante David Guilherme Fonseca pedalou 1.750 quilômetros, refletindo, conversando com vacas, consertando pneus e conhecendo os argentinos

Clecius Campos
Repórter
7/8/2010

Foram 1.750 quilômetros, em 19 dias, de bicicleta. O estudante de Engenharia Elétrica, David Guilherme Fonseca, realizou a proeza entre os dias 24 de fevereiro e 15 de março, em uma viagem sobre pedais de Foz do Iguaçu a Buenos Aires, na Argentina.

"Já pensava em fazer essa aventura há algum tempo. Quando sobrou um dinheiro e apareceu tempo extra, resolvi viajar. Tive um mês para organizar tudo. Fui de Juiz de Fora a Foz do Iguaçu de ônibus e do Sul à Argentina de bicicleta." A viagem, incluindo estadia em Buenos Aires e volta a Juiz de Fora, toda durou 26 dias.

O passeio começou com visita às Cataratas Argentinas e terminou com pose de vitória em frente ao Obelisco (vídeo acima), em Buenos Aires. "Passei por 15 cidades e vi muitas coisas bonitas. As Ruínas Jesuítas, em San Ignácio; a Usina de Ituzaingo, uma loja de caça em Santa Fé; o Monumento da Bandeira, em Rosário; o Museu Arqueológico, em San Pedro e a Casa Rosada e Porto Madera, em Buenos Aires foram alguns dos locais que visitei." (veja galeria abaixo)

No entanto, as dificuldades também marcaram a viagem. A maior delas, o tédio da viagem solitária. Fonseca fez a rota sozinho e, por vezes, viu-se entre intermináveis estradas, ladeadas por imensas fazendas. "Eu raciocinava: vou refletir sobre a minha vida, o que posso melhorar. Pensar na minha infância. Mas depois de uma hora pedalando, já havia pensado em tudo e ainda tinha mais quatro horas de bike até o fim do dia."

Era então a hora de gritar na estrada e conversar com o gado. "Quando passava por um pasto e via umas vacas, eu as chamava. Todas levantavam a cabeça e iam me acompanhando com o olhar. Era a minha distração", lembra. Em média, Fonseca pedalou 120 quilômetros por dia.

Pneu furou cinco vezes

Alvorada, como Fonseca chama a bicicleta que o levou durante todo o trajeto, apresentou problemas logo no início da viagem. "A marcha parou de funcionar no terceiro dia e a bicicleta perdeu o freio após 500 quilômetros. O pneu furou cinco vezes." Mas foi no último dia, há 80 quilômetros de Buenos Aires, que a bicicleta quebrou de vez. "Falta pouco e eu pensei: nada mais me impede. Foi quando o cubo da roda traseira quebrou. Perdi três horas, tentando encontrar alguém que me ajudasse. Conheci uma família cujo pai conserta bicicletas. Com o atraso, cheguei a Buenos Aires à meia-noite."

Tudo serviu de ensinamento. "Aprendi que se você quer realmente alguma coisa, você consegue. A gente dá muita desculpa para não fazer o que planejamos. No meio do caminho, pensei em desistir. Faltava dinheiro, estava sozinho, entediado, já tinha conhecido vários lugares. Mas, naquele dia, a estrada estava boa, o tempo ficou agradável, conheci uma família que me ofereceu almoço e até consegui resolver o problema do dinheiro."

Rivalidade irmã

Além das reflexões, Fonseca pôde conhecer um lado diferente da relação entre argentinos e brasileiros. "Percebi que esta é uma rivalidade irmã. Os argentinos nos tratam muito bem e gostam dos brasileiros. Pude perceber como aquele país está tão perto do Brasil."

Como disse no vídeo da chegada a Buenos Aires, esta pode ter sido a última vez que Fonseca faz uma viagem de bicicleta. "Quero fazer um tour pela América Latina, mas vai ser de carro ou de moto. Vai depender se sobrar mais um tempinho e um dinheiro." Com a viagem a Buenos Aires, Fonseca gastou R$ 2 mil.

Os textos são revisados por Thaísa Hosken

Galeria de fotos