Artigo
Cleptomania: compuls?o social e afetiva
Quando roubar compensa
::: 30/06/03

Belo belo minha bela
Tenho tudo que n?o quero
N?o tenho nada que quero...


Manuel Bandeira

Muitos tiram. Alguns furtam. Outros tantos roubam. Mas, deixando de lado os diferenciais jur?dicos dos termos, todos subtraem. Tiram de algu?m e trazem para si. Na inf?ncia, a crian?a ainda n?o entende os valores da lei e pode praticar pequenos roubos, por v?rios motivos, entre eles:

  • matar sua fome de afeto;
  • chamar a aten??o para si;
  • mostrar-se mais audaciosa que os colegas;
  • negar os valores dos adultos;
  • confus?o entre (achado) e (roubado)

    Na verdade, a crian?a rouba, n?o porque queira possuir o objeto, mas para senti-lo, toc?-lo e muitas vezes, abandon?-lo em seguida. Pequenos furtos, ?s vezes cometidos na inf?ncia, s?o normais, mas se persistirem, tomando grandes propor?es, s?o um sintoma revelador de que algo n?o vai bem no relacionamento familiar e no desenvolvimento afetivo.

    Quando ? este o motivo, a crian?a furta para se compensar de algo, rouba na tentativa de conseguir o amor de que precisa e n?o recebe dentro da casa. Nesses casos em que o roubo da crian?a acontece para compensar o afeto que n?o est? recebendo, o objeto roubado assume um valor simb?lico. Ela est?, na verdade, roubando o amor que lhe falta.

    Quando se observam os roubos repetidos que uma crian?a comete, ? preciso verificar tamb?m se ela precisa mesmo recorrer ao roubo. Ser? que tem menos brinquedos ou dinheiro do que as crian?as com as quais convive?

    E, muitas vezes, curiosamente, a crian?a "rouba" por imitar comportamentos observados dentro de sua pr?pria casa. Ela n?o entende porque seu pai costuma roubar na declara??o de imposto de renda (e ouve isto em casa), porque sua irm? mais velha diz que a outra lhe roubou os brincos e porque, sendo assim, ela n?o pode pegar para si, algo que n?o lhe pertence, mas muito lhe atrai.

    Essas diferen?as e esses valores devem ser explicados minuciosamente ?s crian?as para que n?o cres?am pensando que podem pegar coisas que lhe interessam e aprendam a respeitar os limites entre o que ? seu e o que ? dos outros. ? nocivo para o desenvolvimento psicol?gico e o amadurecimento afetivo-social que a crian?a entenda como "fato compensador" de car?ncia, vazio, desafeto e insatisfa??o o furto de objetos, que depois se traduzem em um vazio ainda maior.

    Na adolesc?ncia e fase adulta, a cleptomania assume propor?es pouco diferentes, mas ainda manifestando aspectos compulsivos. Manifesta-se como uma somatiza??o psicog?nica por auto-compensa??o que determina uma dificuldade em resistir ao impulso de roubar.

    A cleptomania ? a manifesta??o de um transtorno maior, mas correta e cuidadosamente diagnosticada, pode, muitas vezes, ser tratada com sucesso. Ainda existem poucos estudos e escassa literatura sobre a cleptomania, mas sabe-se que indiv?duos acometidos por ela, freq?entemente apresentam outros dist?rbios associados, tais como:

  • anorexia nervosa;
  • bulimia nervosa;
  • dist?rbios ansiosos ou fobias;
  • depress?o (mais freq?ente).

    Em adultos, mais uma vez, o roubo vem associado ao al?vio de tens?es, pela satisfa??o que o ato em si traz ao indiv?duo. Os objetos, normalmente, s?o in?teis a quem os furta, insignificantes em serventia e valor financeiro. Na verdade, ? s? um objeto que representa faltas, que quem o rouba precisa, n?o pelo que tem, mas pelo que cont?m de significado de um roubo impulsionado pela emo??o.


    V?nia Fortuna
    ? psicanalista e conselheira em depend?ncia qu?mica na cl?nica Psicomed
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  • Sobre quais temas voc? quer ler nesta se??o? A psicanalista V?nia Fortuna aguarda suas sugest?es no e-mail vania@jfservice.com.br