Artigo
Re-inventar

::: 30/06/2006

Andar de costas na subida; escovar dentes no escuro; colocar as pernas para cima na cabeceira da cama; boiar ao inv?s de nadar, mesmo que signifique pagar mico na piscina lotada; sentar no Parque Halfeld e jogar buraco com os amigos num domingo ensolarado, pentear-se sem olhar no espelho... Achar legal as dificuldades.

Desaprender e ter a coragem de reinventar ? uma frase que costuma demorar anos em nosso inconsciente. Para algumas pessoas ? mais f?cil. Fica dif?cil saber cientificamente o que leva o inconsciente de algumas pessoas a possuir mais facilidade para trazer ao consciente a reinven??o dramaticamente diferente do habitual. Aprender e desaprender independe do valor cultural, da intelectualidade e at? mesmo dos valores ?tico-morais.

De acordo com um artigo do consultor empresarial Ricardo Jord?o Magalh?es, ? preciso muita coragem para reinventar. Segundo ele, aprender coisas novas e desaprender h?bitos independe de se saber ler e escrever, depende apenas do fator coragem.

Fico lembrando das aulas de antropologia, quando os homens da pr?-hist?ria ca?avam para comer e seu inconsciente armazenava a gordura no organismo por n?o saber quando entraria alimento novamente. Era a lei da sobreviv?ncia f?sica. A partir da?, observo a sabedoria dos profissionais da sa?de que nos orientam a comer pouco e sempre, pois nosso inconsciente eliminar? as gorduras rapidamente.

Levando isso para o sentimento humano, passo a entender o grande sofrimento daqueles que gostam e que demoram a reencontrar o ente querido. Percebo que, neste instante, ele reter? imagens e momentos bons, vividos, de forma at? obsessiva. O emprego perdido, ou a dist?ncia do filho querido; n?o passar no vestibular, t?o sofrido e esperado; perder o ser amado; perder o animal de estima??o que j? fazia parte da fam?lia; perder o lar; largar as drogas habituais; perder todo o dinheiro que possu?a; perder a Copa e ter que voltar para casa; a estima dos amigos; chegando at? a partida do ente mais querido deste mundo.

Nestes momentos ? que passo a compreender a imensa necessidade de se possuir a coragem de reinventar diante da perda. Passo a entender tamb?m que para trabalhar este inconsciente, para aceitar a aus?ncia com maior rapidez e menor sofrimento realmente n?o adianta saber ler e escrever, ter ou n?o ter; mas sim QUERER, respirar fundo, fazer tudo diferente do habitual, o que significa MUDAN?A, aceitar que o passado MORREU, e finalmente a CORAGEM PARA REIVENTAR.


Ana Stuart
? psic?loga e terapeuta familiar

Sobre quais temas (da ?rea de psicologia) voc? quer ler novos artigos nesta se??o? A psic?loga Ana Stuart aguarda suas sugest?es no e-mail viver_psique@acessa.com.