Animais no ambiente de trabalho: é correto?

Tema ganhou manchetes no país após deputado juiz-forano adotar e levar gata para Assembleia Legislativa

Lucas Soares
Repórter
31/10/2015

Nas últimas semanas, o deputado estadual Noraldino Júnior (PSC), que já foi vereador em Juiz de Fora, ganhou os noticiários dos principais portais do Brasil após adotar uma gata, batizada como Nora, e levá-la durante os trabalhos na Assembleia Legislativa por dez dias.

De acordo com o deputado, a decisão partiu após resgatar o animal em uma casa em Nova Lima (MG). "A família mudou e a abandonou dentro do imóvel. Ela foi resgatada e a levei para o gabinete, na Comissão Extraordinária de Proteção dos Animais, até para mostrar a necessidade de se divulgar a importância da adoção e da posse responsável, ao invés de comprar. Eu tive todo o apoio do presidente da Casa, mas no final, já tínhamos conseguido a divulgação para a causa e achamos melhor deixá-la em casa. Hoje ela está na casa da minha assessora, que já tem outros gatos", afirma Noraldino.

No entanto, segundo a médica veterinária Gisele Passos, antes de tomar uma atitude como esta, é importante conhecer bem o animal, já que o comportamento deles pode variar. "Temos que levar em conta vários aspectos, como o ambiente de trabalho em questão e também o do animal, pois alguns não se adaptam facilmente e tem ambientes que não são propícios a recebê-los, como locais muito agitados, barulhentos, etc. Além disso, a espécie deve ser levada em conta. Os gatos, apesar de existirem exceções, em sua maioria ficam muito estressados, pois não se adaptam facilmente às mudanças de ambiente, rotinas e novas pessoas, enquanto cães têm mais facilidade de adaptação e socialização. Não esquecendo que a saúde do animal deverá estar sempre em dia, como a vacinação e a vermifugação. Então, o ideal é conhecer muito bem o seu animal de estimação e como ele reagirá a esta mudança, encontrando o equilíbrio nessas situações para que não prejudique nem o animalzinho e nem o proprietário", explica.

Em Juiz de Fora, a presença de animais de estimação é comum em alguns estabelecimentos. O proprietário da Bodoque Artes & Ofício, Frederico Lopes, conta como a gata, batizada de Marmota, se tornou parte do empreendimento. "Encontramos ela ainda filhote, em situação de abandono durante a madrugada, em frente ao prédio onde morava na rua Barão de Cataguases. Inicialmente, a levei para nosso atelier em caráter provisório. Nós nunca havíamos tido animal de estimação felino, e, em minha casa, já tínhamos um cachorro de grande porte. A primeira intenção era encaminhá-la para doação. Com o tempo, naturalmente, nos apegamos muito à ela, especialmente por se tratar de animal extremamente carinhoso. Com isso, decidimos mantê-la em nosso ambiente de trabalho, com o intuito de fazermos um "teste", que acabou por ser uma agradável experiência", revela.

Já há alguns meses no local, Frederico garante que a gata se tornou um símbolo do atelier, apesar da presença dela requerer alguns cuidados. "Quem visita à Bodoque, sabe que vai encontrar por lá nossa querida anfitriã, dando boas vindas a quem chega. No entanto, devido às atividades que precisam de um nível criterioso de assepsia, a presença da Marmota requer cuidados especiais. Não podemos deixar que ela entre, por exemplo, na sala onde realizamos os procedimentos de conservação e restauro de papel. Também precisamos limpar a casa com frequência e rigor muito maiores do que se não a tivéssemos. Quando recebemos clientes, avisamos da presença do animal e, caso haja alguma restrição por parte do visitante, nós a prendemos em um cômodo reservado. Porém, nunca houve queixa alguma de qualquer cliente. Ela conquista a todos. Em linhas gerais, entendemos que, no âmbito de nosso atelier, os benefícios de criar um animal de estimação, acabaram sendo muito maiores do que as questões problemáticas. É ótimo poder trabalhar com um amigo fiel ao seu lado", garante.

Apesar de não levar o animal ao seu local de trabalho, o proprietário do restaurante High Protein, Gabriel Luz, afirma que os bichos são bem vindos no seu estabelecimento, o que acaba por ser um atrativo a mais para os clientes. "A gente é do Rio de Janeiro e lá é muito comum isso, de sair com o animal para shoppings, restaurantes. Aqui é outra cultura, você percebe que não existe muito isso na cidade. Às vezes a pessoa quer sair num sábado e não quer deixar o animal sozinho. Então, achamos super válido, desde que se comporte e seja educado. Os clientes se amarram, são raríssimos os lugares que se podem fazer isso. Os outros clientes nunca acharam ruim. Geralmente, os que vem ficam quietos, entre as pernas do dono e deitados. Nunca teve latido aqui. A nossa placa de que recebemos os animais foi doada por uma cliente", conta.

Alertas

Mesmo que a presença dos animais seja liberada em alguns estabelecimentos e locais de trabalho, a veterinária afirma que é necessário levar em consideração os prós e contras. "O benefício maior é a socialização e, principalmente, o animal ficar próximo do dono por um tempo maior, ainda mais levando em conta que eles sofrem da Síndrome de Ansiedade de Separação (SAS), que é uma reação comportamental inadequada em resposta ao estresse sentido por ele diante da separação de uma pessoa com quem ele mantém contato estreito. Essa é uma condição muito comum hoje em dia, devido ao tipo de rotina que as pessoas levam, em que trabalham e estudam fora de casa, deixando o animal sozinho por muito tempo. Por outro lado, o estresse causado pelo ambiente de trabalho, assim como qualquer situação estressante, pode acarretar principalmente na queda da imunidade do animal, tornando-o susceptível a várias doenças. Por esse motivo também a saúde do animal deverá estar em dia, ainda mais que o novo ambiente está sujeito à exposição de patógenos. Devemos analisar o animal e o ambiente em que ele irá ser introduzido e medir os prós e os contras, para saber se trará mais benefícios do que malefícios para os envolvidos. Minha recomendação é que sempre converse com seu médico veterinário para analisar melhor cada situação", conclui.

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