
26/11/99
O curso de física da UFJF
Ser curioso e sempre buscar coisas novas são os requisitos principais para quem pretende ser um bom físico. Gostar de estudar também é fundamental. Quem dá as dicas é o professor e coordenador do curso de física da Universidade Federal de Juiz de Fora, Flávio Takakura. "Ser físico significa tentar explicar os fenômenos que ocorrem na natureza e uma pessoa só pode tentar explicar algo se tiver curiosidade em entender alguma coisa nova", explica ele.
Flávio diz que o principal obstáculo para quem está ingressando é a falta
de raciocínio lógico (para pensar a partir de teorias complexas como a de Einstein
- imagem ao lado) e é exatamente este o processo de aprendizagem envolvido no curso. Ele
alerta que as pessoas que vão para a universidade achando que fazer Física
é simplesmente substituir números em fórmulas estão enganadas. Chegando lá,
os estudantes têm que começar a aprender tudo do zero.
O aluno do 6º período, Davi Cabral Rodrigues, diz que a parte filosófica da Física está compreendida nas suas equações de forma a compor uma linguagem. "Através das fórmulas você descreve a Física", diz ele. Outro problema é a dedicação que o curso requer. Manoela Machado, aluna do 4º período, diz que a Física é um curso fácil para entrar, mas é difícil cursar porque quando se entra tem que dedicar muito. Segundo Flávio, isto é desgastante, consome muito tempo e nem todos os estudantes têm este perfil. Por isso, muitos desistem. Isto contribui para uma ociosidade de 25%. A Física possui 200 vagas ao todo e 155 alunos ocupando 75% delas.
Este ano a procura superou as expectativas do professor (concorrência de
quatro candidatos por vaga) e ultrapassou o
curso de Ciências Econômicas (relação de três candidatos por vaga),
mais tradicional na Universidade. "A corrida
para a área de Exatas deve-se à maior propagação da informação pela
sociedade. As pessoas têm visto que há necessidade de ter um conhecimento
científico maior para poderem entender o funcionamento de muitas coisas que
acontecem no nosso dia-a-dia", analisa Flávio.
O curso de Física tem duração de quatro anos, tanto para a licenciatura quanto para o bacharelado, que são as modalidades oferecidas. Para o próximo ano está prevista uma reformulação no currículo, por causa da Lei de Diretrizes e Bases. E há também um projeto de criação do curso de licenciatura em Ciências à noite, que envolve vários departamentos do Instituto de Ciências Exatas.
Para o estudante do 4º período, Glauco dos Santos F. da Silva, existem duas deficiências básicas no curso: o distanciamento professor-aluno e o fato de os laboratórios serem obsoletos. Mesmo assim, ele recomenda aos pretendentes: "A Física é a área mais completa que existe; envolve Biologia, Medicina... não tenha medo dos obstáculos, vá em frente porque vale a pena".
Em que trabalham os físicos

Para quem gosta de trabalhar com pesquisas e empresas, o doutorado é fundamental. A especialização é suficiente em algumas áreas, como, por exemplo, na Física Radiológica, em que o profissional atua nos hospitais, mas não desenvolve novas tecnologias.
O coordenador do curso de física da UFJF, Flávio Takakura, diz que ninguém deve ter pretensão de se tornar rico sendo físico O grande mercado é a licenciatura, o do professor de física de 2º grau. Os estudantes que graduam nesta modalidade já saem empregados da faculdade, devido à escassez de profissionais específicos nesta área. Por este motivo, em muitas cidades do interior, existem de químicos a advogados exercendo esta função. Os Estados são os maiores contratadores, mas pagam mal.
As escolas particulares pagam de forma diferenciada ao professor de física que se destaca na comunidade. O salário do licenciado basicamente é compatível com o do bacharel. Há escolas em Juiz de Fora que pagam até R$4 mil a este profissional, mesmo sem cumprir 40 horas de aula na semana.
Para o bacharel também há um amplo campo de trabalho e os salários variam de R$2 mil a R$5 mil. Flávio diz que, com a globalização, empresas como a Petrobrás e a Pirelli têm investido em Centros de Pesquisa. O bacharel que tem doutorado é absorvido na grande maioria pelas Universidades.
Há dois anos, Flávio faz pesquisa em uma área da Física Teórica, a Teoria
Quântica de Campo - que consiste em aplicar as técnicas desta área para
estudo de fluidos turbulentos, ou "turbulência". Ele explica que ela ocorre
em 90% dos fenômenos da natureza. “A turbulência é também um dos assuntos
mais estudados mas ainda não se chegou a uma teoria satisfatória para
entendê-la. Ela é de grande aplicação tecnológica porque é justamente por
sua ocorrência que não se consegue prever o tempo com exatidão.”
Colaboração: Fernanda Güelber,
aluna do 6º período
do curso de Comunicação
da UFJF.