A eterna mania de querer modificar nossos parceiros

05/11/98

Na expectativa de enquadrar o parceiro num modelo, tentamos modificar suas caracter?sticas. Esse comportamento ? muito comum e v?rias pessoas contaram suas hist?rias com a condi??o de n?o serem identificadas. Analisando as situa?es, a especialista em terapia familiar, Andr?a Loures, revelou porque isso acontece e o que fazer para evitar o desgaste da rela??o.

No in?cio do relacionamento, cada um se dedica ao m?ximo para mostrar o que tem de melhor e finge n?o perceber os defeitos do outro. O casal est? apaixonado e a paparica??o parece n?o ter fim. Mas com a conviv?ncia, as diferen?as tornam-se evidentes e a? tem in?cio a fase do desencantamento. Como num passe de m?gica, o pr?ncipe e a princesa transformam-se em sapos!!!

Um desastre? Depende da maturidade de quem est? envolvido. Quem disse que para um relacionamento dar certo as pessoas t?m que ser semelhantes e combinar em tudo? De acordo com a especialista em terapia familiar, Andr?a Loures a rela??o entre pessoas de personalidades diferentes ? at? mais rica, se bem administradas as distin?es. ?Se os dois cedem na mesma propor??o, um vai ajudando o outro a viver melhor, a ser mais flex?vel e tolerante?, complementa.

No jogo amoroso, a aproxima??o entre duas pessoas se d? atrav?s da admira??o que um desperta no outro. Geralmente, procura-se por uma caracter?stica que n?o ? sua. Por exemplo, um homem t?mido pode se interessar por uma mulher extrovertida e vice-versa. ? o caso de AMR, 21. Ela namorava um rapaz que estava 20 Kg acima de seu peso e cursava Farm?cia. Apesar de ser magra, ela n?o se incomodava com a condi??o e nunca sugeriu uma dieta. Mesmo assim, ele resolveu mudar. Foi emagrecendo, emagrecendo e o interesse de AMR foi diminuindo ? medida que ele reduzia seu manequim. Como se n?o bastasse, o namorado resolveu cursar Ci?ncias Sociais para se aproximar da ?rea de interesse da namorada, que gosta muito de ler. ?Ele ficava recitando poemas do Fernando Pessoa dia e noite na minha cabe?a. A? n?o deu para aguentar?, reclama AMR.

Com MAF, 28, a diferen?a serviu tanto para aproxim?-la quanto para afast?-la de seu namorado. Ele era 6 anos mais novo que ela, n?o tinha curso superior e estava tentando vestibular h? 2 anos. MAF, que j? era uma profissional formada, matriculou-se no mesmo cursinho e na mesma sala para incentiv?-lo. Hoje admite que a atitude serviu para dar uma satisfa??o ? sociedade. ?Eu queria mostrar que ele tinha futuro, que ele subiria junto comigo e n?o a reboque?. Tr?s anos depois ele est? fazendo faculdade, mas as outras diferen?as pesaram e o namoro terminou. De acordo com a terapeuta, o problema n?o era a sociedade mas o pr?prio preconceito que MAF n?o soube lidar.

H? casos, por?m, em que a admira??o transforma-se em inveja. Um dos parceiros percebe que a caracter?stica diferente ? uma marca da pessoa e ele n?o pode adquiri-la, mesmo estando a seu lado. ? o in?cio da crise. A pessoa se empenha em transformar o parceiro e quando consegue n?o reconhece mais a pessoa por quem se apaixonou. Com JW, 23, isso quase chegou a acontecer. Quando conheceu sua namorada, os dois n?o tinham quase nada em comum. Ela adorava sair com as amigas e ele preferia ficar em casa. Por?m, JW decidiu investir, fazendo com que a garota mudasse grande parte de seus gostos. At? o jeito dela se vestir ele conseguiu modificar. O relacionamento durou 4 anos e, segundo ele, sem conflitos, porque ela aceitava tudo sem discuss?o. S? terminaram porque ela n?o quis prestar vestibular no lugar onde ele tinha sugerido.

Experi?ncias como essa n?o t?m a menor chance de dar certo, afirma Andr?a Loures. Quando apenas um cede, v?o se acumulando m?goas, frustra?es que um dia v?o eclodir. Nesse contexto, as brigas come?am e deixam de ser um fato isolado para se transformarem numa disputa de poder.

H? quem prefira procurar outro a ter o trabalho de modificar o parceiro. MLM, 37, acredita que as pessoas t?m que aceitar as outras como elas s?o. De acordo com a terapeuta, a atitude seria a ideal, mas conversar sobre o assunto ? importante. O namoro de GCB, 22, acabou por causa da falta de di?logo. Insatisfeita com a indiferen?a dele, ela decidiu se afastar.

Trocar de t?tica tamb?m pode ser a solu??o. JLE, 21, desistiu de mudar o namorado e se adaptou ? situa??o. Como ele n?o gosta de agito, os dois ficam em casa ou v?o ao teatro e ao cinema. Vez ou outra, ela consegue convenc?-lo a sair para dan?ar e beber. Roberta Alexsanda da Silva, 17, teve mais sorte. Por inseguran?a, seu namorado fazia brincadeiras para provocar-lhe ci?mes. Depois de muita conversa, ele acabou mudando.

A mudan?a, ao contr?rio do que muitos pensam, nem sempre ? uma prova de amor. Nem todas s?o poss?veis mesmo que o casal se ame muito. Ela pode ser f?cil ao olhos de quem a sugere, mas dif?cil de ser colocada em pr?tica.

Para evitar o desgaste da rela??o, a? v?o alguns conselhos da terapeuta Andr?a Loures :

Achar que o parceiro vai fornecer tudo o voc? precisa ? uma grande bobagem. Ningu?m ? respons?vel pela nossa felicidade, a n?o ser n?s mesmos.

Na maioria das vezes, as pessoas acreditam que ap?s o casamento tudo vai melhorar. O que ? um engano, porque as qualidades boas e m?s tendem a se acentuar. O importante ? saber que o pr?ncipe ? o sapo e vice-versa. Ter um bom relacionamento exige disposi??o para aceitar as diferen?as. Por isso, tente conhecer a pessoa com quem voc? est? namorando, analise as diferen?as e se imagine convivendo com elas. Se voc? achar que vai ser feliz , v? em frente!

Para casais que, mesmo com estas dicas, acham que ser? dif?cil resolver os problemas do relacionamento, uma terapia com um psic?logo pode ajudar. Na base de dados do JF Service h? registro de diversos profissionais desta ?rea, com os respectivos endere?os e telefones. Para acessar basta digitar a palavra PSICOLOGIA na ?rea de pesquisa do site, que fica na p?gina principal, ou clicar aqui.

Colabora??o: Emilene Campos
estudante do 7? per?odo
da Faculdade de Comunica??o da UFJF