SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin de São Paulo (PSB) assinaram nesta terça-feira (9) a carta articulada pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) em defesa da democracia, após participarem de evento na sede da entidade.
Com endosso de centrais sindicais, da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), da Academia Brasileira de Ciências e da UNE (União Nacional dos Estudantes), entre outros, o documento prega compromisso "inarredável com a soberania do povo brasileiro expressa pelo voto e exercida em conformidade com a Constituição".
A carta ressalta ainda a importância dos 200 anos da independência do Brasil.
Durante o encontro, organizado pela Fiesp, o ex-presidente afirmou que o governo federal está promovendo a maior distribuição de dinheiro que uma campanha política já fez desde o fim do Império. Lula também criticou a posição de Bolsonaro, que classificou o manifesto capitaneado pela Fiesp em favor da democracia como "cartinha".
"Como a gente pode viver em um país em que o presidente conta sete mentiras todo dia, e com a maior desfaçatez. Ele chama uma carta pela defesa da democracia de 'cartinha'", afirmou Lula.
"Quem sabe a carta que ele gostaria de ter é uma carta feita por milicianos no Rio de Janeiro, e não uma carta feita por empresários, intelectuais, sindicalistas, defendendo o regime democrático e a urna eletrônica, que até agora está provado que é uma das mais perfeitas que existem no mundo."
O texto afirma que o respeito ao Estado de Direito e a estabilidade democrática no país são indispensáveis para o Brasil superar os desafios e que esse é "o sentido maior do 7 de Setembro neste ano".
"Nossa democracia tem dado provas seguidas de robustez. Em menos de quatro décadas, enfrentou crises profundas, tanto econômicas, com períodos de recessão e hiperinflação, quanto políticas, superando essas mazelas pela força de nossas instituições", diz outro trecho do documento.
Na segunda-feira (8), Lula assinou a "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito". O texto foi organizado por ex-alunos da Faculdade de Direito Largo São Francisco, da USP (Universidade de São Paulo), e contou com a articulação posterior de movimentos como o 247 Artes e o grupo Prerrogativas, que reúne juristas e advogados.
Ambas as cartas serão lidas no dia 11 de agosto em cerimônias na Faculdade de Direito da USP.
De acordo com pessoas próximas, Lula inicialmente não quis assinar os manifestos por receio de dar um caráter político-eleitoral ao movimento e ser acusado de tentar instrumentalizar a iniciativa.
Depois do endosso de políticos e presidenciáveis à carta, porém, aliados de Lula estimularam sua participação em um contraponto ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que tem feito diversas manifestações golpistas e colocado em xeque a lisura das urnas eletrônicas.
Bolsonaro foi convidado a assinar a carta da Fiesp e declinou. O presidente também cancelou participação no "Encontro com Candidatos à Presidência: Diretrizes prioritárias do governo federal (2023-2026)", previamente programado para o dia 11. Não está descartada a ida do presidente à entidade em outro momento.
Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) já participaram do debate.
Os documentos tanto da Fiesp como da USP são vistos como resposta aos ataques de teor autoritário de Bolsonaro.
A iniciativa dos ex-alunos da Faculdade de Direito da USP remete à Carta aos Brasileiros de 1977.
Naquele ano, representantes da comunidade acadêmica também leram no Largo do São Francisco um manifesto em repúdio à ditadura militar.
A carta, elaborada em resposta aos ataques de Bolsonaro, relembra a superação da ditadura militar (1964-1985), a promulgação da Constituição de 1988 e afirma que a democracia amadureceu.
O texto pondera, porém, que o Brasil passa por um momento de imenso perigo para a normalidade democrática e de risco às instituições.
"Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o Estado Democrático de Direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional", diz.
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