Desde o início de dezembro, as capas dos serviços de streaming são tomadas pelos filmes de Natal. Toda sorte de enredos que vão do drama à comédia romântica, geralmente com o enfoque na em núcleos familiares. As publicidades e propagandas são lembretes constantes na programação da época, com mensagens costumeiramente direcionadas para a família. Bares e restaurantes com mesas cheias de pessoas conversando animadamente. Para pessoas que vivenciam o esse período depois do luto, muitas vezes, essa profusão de imagens e mensagens podem causar desânimo e até algum tipo de mal estar, no entanto, é preciso ressignificar essas datas.


“A gente tem que entender que o luto é um processo, é um período, onde as emoções são respostas às mudanças ocorridas pela falta daquela pessoa nas nossas vidas. Então a gente precisa acolher esses sentimentos, em vez de evitar ou suprimir”, diz a psicóloga Karine Lopes. Esses encontros de fim de ano, principalmente quando passamos por momentos de luto, de uma tristeza profunda, são muito importantes como uma fonte de suporte emocional, como salienta a profissional.


“Então, podendo não potencializar essa tristeza e esse desânimo que causa o luto, manter esse contato faz com que a gente se senta mais confortável para falar sobre as experiências, sobre as dores, e isso faz com que a gente crie até estratégias ouvindo o que as pessoas têm para dizer. A gente ouve depoimentos de pessoas que estão vivendo ou passando por algo parecido, e isso faz com que a gente se sinta acolhido. Essa interação social é muito importante para que a gente se fortaleça. A gente precisa do outro nesses momentos.”


As reuniões familiares, confraternizações no trabalho, com amigos criam memórias afetivas muito profundas, ligadas ao sentimento humano de pertencimento, de esperança, de alegria, de amor, como pontua Karine. Desse modo, esses rituais criam memórias duradouras nos nossos cérebros. “Exatamente, porque combina um monte de emoções, de tradições. Como o fim do ano está simbolicamente associado ao encerramento de ciclo, isso é muito ligado ao como o corpo humano é organizado, porque o corpo humano é organizado em ciclos. Esse simbolismo de encerramento, de renovação, ele desperta reflexões sobre o tempo que passou, mudanças que a gente gostaria de fazer. É bastante positivo ter esses encontros, pois a gente começa a ter uma ideia de início, de renovação.”


Nesse sentido, ainda de acordo com a psicóloga, a morte de uma pessoa amada, querida, é uma das experiências mais difíceis de serem superadas individualmente e dentro do contexto familiar. A dor gerada pelo rompimento de um vínculo afetivo produz uma necessidade de organizar uma nova realidade sem ter aquela pessoa por perto. “Podemos evidenciar diferentes formas de significado que esse vínculo deixa nas pessoas. O processo de luto pode envolver respostas emocionais, que são os sentimentos. Pode ter tristeza, culpa, raiva, ansiedade, saudade. As questões mais cognitivas, que são pensamentos mais preocupantes, confusos, de descrença da vida mesmo. E comportamentos que acabam vindo na insônia, no apetite, na questão do isolamento social”.


Como a vida é uma construção, como pontua a psicóloga, as situações, com o tempo, são moduladas e reorganizadas. Para ela o apego a essas experiências pode atrapalhar o processo de mudança. Logo, é necessário ressignificar as emoções em relação a essa perda. “Estabelecer novas rotinas no seu tempo, cuidar mais da gente nessas horas, estabelecer a questão de saúde física, mental, tentar se alimentar bem, praticar o exercício físico para suprir essa falta de energia, esse desânimo, buscar ajuda quando a gente entender que a gente não está conseguindo lidar sozinho porque o luto causa muitas emoções na nossa vida. Então, isso pode fazer com que a gente adquira hábitos ruins de procrastinação, de isolamento social, de ruminação de pensamento. Precisamos ficar atentos a isso e buscar ajuda.”

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