Cecília Junqueira Cecília Junqueira 14/12/2011

2011: Uma odisseia ambiental

IlustraçãoFinal de ano é um convite à reflexão: mais um ciclo que se fecha, novas possibilidades se abrindo, é tempo de botar na balança aquilo que já foi feito. Fazer faxina no peito, hora de abrir espaço para as boas novas que vêm, quer a gente queira, quer não... Porque a mudança é inevitável, basta fazermos parte das coisas do mundo. E o ano novo vem nos lembrar disso...

Gosto de ano novo porque ele chacoalha a vida da gente, lembra a nossa transitoriedade e, por isso, nos lança com força para a criação de metas, planejamentos, sonhos...

Você já começou a fazer seu saldo deste ano, pessoal e profissional?

Minha intenção hoje é levantar o saldo ambiental de 2011, que está intimamente ligado às escolhas pessoais e profissionais de cada um de nós! Nossas preferências cotidianas, em maior ou menor grau, contribuíram para os resultados que veremos a seguir.

O ano começou com grandes inundações na região serrana do Rio de Janeiro. Bastaram pouco mais de 20 horas de chuva para se revelar a maior tragédia climática do Brasil. Foram 916 mortos e mais de 30 mil desabrigados, em razão da falta de controle e planejamento das cidades, que acabam permitindo a ocupação em áreas de risco. Um somatório de irresponsabilidade pública e civil. Vai ficar marcada para sempre, em minha memória, a imagem daquela mulher, em meio à enxurrada, soltando seu cachorro em direção à correnteza...

Ainda em janeiro, lembro-me com emoção da indicação ao Oscar do documentário Lixo Extraordinário, de Vik Muniz. O documentário aborda a realidade dos catadores de lixo no maior lixão da América Latina, o Jardim Gramacho, em Duque de Caxias-RJ, e mostra o poder transformador da arte na vida daquelas pessoas. Nunca mais vi lixo e catador da mesma forma, nunca mais consumi do mesmo jeito.

Em março, o mundo parou para acompanhar a explosão nos reatores da usina nuclear em Fukushima, Japão, após um terremoto que causou um tsunami, provocando a liberação de combustível radioativo. Me lembro das pessoas moradoras do entorno da usina, usando trajes antirradioativos. Pareciam saídas de um filme de terror futurista. Fukushima oportunizou à comunidade internacional repensar os argumentos, os favoráveis e os contrários às usinas nucleares.

Em junho, a Índia, que é um dos países que mais investem em economia verde, sediou, por merecimento, as comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente, com o tema "Florestas: a natureza a seu serviço", aproveitando que este ano foi o Ano Internacional das Florestas, da ONU. Dentre as trocas de experiências, a Índia ensinou seu monitoramento de plantas, animais e água e seu programa de arborização, mostrando que floresta em pé vale muito mais que floresta deitada, além do forte investimento em energias limpas (que não precisam do carvão vindos das árvores). Foi um belo exemplo a ser seguido.

Em outubro, ocorreu o vazamento de petróleo em um poço no campo do Frade, na bacia de Campos: a multinacional americana Chevron era a (ir)responsável pela extração do petróleo. Levantou-se a discussão de duas grandes questões. Quais seriam os riscos das exploração do pré-sal? Possuímos planos de reação aos vazamentos em águas profundas como as do pré-sal? A divisão dos royalties deveria ser maior para os estados exploradores de petróleo, para que sejam enfrentados os custos de um desastre socioambiental?

Em novembro, juízes votaram a favor da usina de Belo Monte no rio Xingu (PA) e a construção continua. A luta das populações indígena e ribeirinha e dos ambientalistas pela paralisação da construção da hidrelétrica é arrastada há muito tempo. Quem se lembra do episódio da índia caipó Tuira, ameaçando com um facão o então presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz, em 1989? Belo Monte promete ser a 3º hidrelétrica do mundo e seus impactos socioambientais são proporcionais à sua magnitude.

Ainda em novembro, novas regras para o licenciamento ambiental foram criadas, para as áreas de petróleo e gás, portos, rodovias e linhas de transmissão. Agora, construir nestas áreas será mais rápido, menos criterioso. Certamente teremos mais empreendimentos, mas quantidade não é sinônimo de qualidade...

O Brasil anunciou, no início de dezembro, o menor nível de desmatamento em 13 anos, mas a aprovação do novo código florestal brasileiro, em seguida, pôs em risco esse avanço. O texto base do projeto aprovado estimula o desmatamento, através de uma série de anistias aos produtores que desmataram, comportamento às avessas do que a gente vê em país que dá certo.

Se me esqueci de um episódio importante na esfera ambiental no Brasil em 2011, me desculpem, a memória do coração costuma tomar partido para algum lado.

Para 2012, o que desejo para vocês é o que desejo a mim mesma: sabedoria, delicadeza e equilíbrio!

Abraços verdes!

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Cecília Junqueira é gestora ambiental, pós-graduada em problemas ambientais urbanos
e integrante da "Mundo Verde projetos ambientais".

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