Muito al?m das brincadeiras de mau gosto Solidariedade marcou presen?a na volta ?s aulas da UFJF

Deborah Moratori
14/03/2003

Um quilo de farinha de trigo, uma d?zia de ovos, ?gua de peixe ? vontade... N?o, isso n?o ? uma receita culin?ria. Junte violeta genciana e tinta guache sem restri??o. Agora pegue uma tesoura e recorte em cima e embaixo. Use cera de depilar e cola, se desejar. Batom e esmalte. Misture tudo e leve ao Cal?ad?o. O calouro est? pronto.

H? gosto para tudo

Pronto para mendigar, festejar, se humilhar. Pronto para comemorar e pronto para revoltar. Pronto para colaborar - o aspecto mais louv?vel disso tudo. Transeuntes e comerciantes de um lado, veteranos e calouros, nem todos, ? verdade, de outro. E a universidade? "A universidade recomenda a cortesia e co?be qualquer tipo de brincadeira est?pida nas depend?ncias da institui??o", ressalta a reitora Margarida Salom?o.

L? fora, vale quase tudo. "E se n?o d? para controlar o que acontece fora da UFJF, parte-se do pressuposto de que todos os estudantes s?o adultos, cabendo aos veteranos avaliar as brincadeiras aplicadas e aos calouros aceitar ou n?o o trote", observa.

A equipe do Portal JF Service/ACESSA.com esteve nas ruas nos dias 12 e 13 de mar?o para ouvir o outro lado da moeda. O lado que pede: o calouro.

Me d? um dinheiro, a?

O rec?m-chegado estudante da Faculdade de Farm?cia, Jorge Ant?nio Chamon J?nior, 19 anos, diz que "apesar da pinga vagabunda que tiveram que beber, o trote estava sendo tranq?ilo". "Os pr?ximos calouros v?o ter uma recep??o bem pior", amea?a.

Ao que tudo indica, a colega Annelisa Farah, 17 anos, concorda e considera o trote "maneiro". "A gente tem que arrecadar muito dinheiro, eles rasgam a nossa roupa, mas ? durante a brincadeira que a gente conhece todo mundo", pondera. Gabriela Monterrano, 19 anos, completa. "Minha perna est? doendo de tanto andar, mas tudo ? festa".

Sobre as roupas rasgadas, a veterana Mariana de Sousa, 20 anos, explica que esse ato j? virou tradi??o do trote da Faculdade de Farm?cia. Questionada sobre a possibilidade de doar um conjunto de roupas, ao inv?s de estrag?-las, ela responde: "Nem pensei nisso".

Veteranos conferam na "lista de chamada" as arrecada?es.

O novato, Leandro Carvalho, 18 anos, n?o concordou com o estrago das roupas. "Sujar, tudo bem". Mesmo n?o estando satisfeito com a condi??o de mendic?ncia, de acordo com o estudante, ? prefer?vel pedir a bancar do pr?prio bolso.

Enquanto Leandro explica a matem?tica do trote, M?rcio Augusto de Souza Siqueira, 19 anos (foto), exibe orgulhoso a nota de R$ 10 conquistada de uma senhora. Por outro lado, o colega Camargo Carvalho, 18 anos, reclama. "Estou cansado, quero ir embora". E Filipe Soares Bertges, 19 anos, que j? tinha conseguido R$ 9,59, considera o trote "admiss?vel".

E vai rolar a festa

E quanto ? quantia indicada. Fa?am as suas apostas... Setenta reais por aluno. Isso porque era o segundo dia de "arrecada??o". Na segunda-feira, dia 10, esses mesmos calouros j? tinham estado no Cal?ad?o para a pedi??o. Do outro lado, os veteranos amea?am: "Se n?o juntar os R$ 70, tem que voltar amanh? de novo".

O que eles fazem com o dinheiro? Pr?-chopada, chopada, churrasco, festas. Para os desavisados, chopada ? uma reuni?o informal de confraterniza??o entre os alunos rec?m-chegados e todos os seus veteranos - ultimamente tem-se exigido comprovante de matr?cula - em que todos os convidados bebem e comem de gra?a. Ali?s, com o dinheiro arrecadado pelos calouros...

?lbum de fotografias do calouro
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