O patr?o - At? quando vai isso?
Enfermeira - J? vi quem durasse bem mais de um ano. Lembra da m?e do Collor?
O patr?o - Sim, eu me lembro. Chamava-se Leda a m?e daquele pilantra.
Enfermeira - Eu trabalhava no hospital, l? no Rio, onde ela ficou. Igualzinho a ele a?.
O patr?o - Era um excelente profissional. Minha empresa passou de m?dia para grande gra?as a ele. E, nas horas vagas, o pouco que viveu - comparado comigo - ele soube viver intensamente. Isto consola?
Enfermeira - Num sei... Acho que n?o... Olha o senhor, bem mais velho do que ele, a?, cheio de vida...
O patr?o - Cheio de vida? Hum... Olhando para essas m?quinas, para ele e para mim, cheio de vida, como voc? diz, j? n?o sei mais o que ? vida... Bem, seja como for, adeus, "meu jovem" - era assim que ele se dirigia ?s pessoas. At? comigo, ?s vezes - de brincadeira, ? claro. Esta ? a ?ltima vez que o vejo, em vida, digamos assim... N?o voltarei mais aqui. Quando voltaremos a nos ver, s? Deus sabe como e onde.

O patr?o respira fundo, conformado com a conclus?o, e se prepara para sair. A enfermeira o acompanha. Saem do quadro que permanece um tempo longo, silencioso, vazio, at? escurecer.

CENA 10
Clareia a cena e v?-se o quarto vazio. D? um tempo. Ouve-se a porta abrindo-se e os primeiros di?logos em off.

Enfermeira (off) - Podem entrar, eu j? volto.

A porta se fecha

O filho (off) - Querida, voc? ? a netinha que ele tanto adora. O vov? est? dormindo e voc? vai apenas dar um beijo nele.
A filhinha - (off) - T? bem.
A mulher (off) - Mas isso ? mesmo necess?rio?

Eles entram no quadro: o filho com a filhinha no colo e a mulher.

A mulher - Eu ainda n?o estou entendendo essa sua afli??o em nos trazer aqui, como se fosse uma despedida...
O filho - E ? uma despedida.

A mulher o olha intrigada. Ele leva a filha at? alcan?ar a m?o do av? para ela poder beij?-la. Depois, a p?e de volta ao ch?o e faz um gesto para que elas saiam do quarto. A mulher hesita, ensaia umas palavras, mas o marido faz outro gesto para que ela n?o fale nada. Encaminha-as para a sa?da. Saem do quarto. D? um tempo. O filho retorna pr?ximo ? cabeceira da cama. Observa o local do interruptor (exibido na cena 2) e vai erguendo a m?o lentamente com o dedo indicador se aproximando. Ru?dos da porta se abrindo e surge a enfermeira. Ele recolhe imediatamente a m?o.

Enfermeira - Linda essa sua filhinha. E como cresceu. Tamb?m, j? vai pra mais de tr?s meses desde a primeira vez que a vi...
O filho (Disfar?a o nervosismo) - E ? ela quem vai dar seq??ncia ? sucess?o do sangue dele.
Enfermeira - Claro.

Pausa longa. A enfermeira senta-se na beira da cama e verifica as unhas.

O filho - Voc? pode me fazer um favor? Dizer para minha mulher a? fora pra me esperar l? embaixo. Eu pretendo ficar mais um pouco, e enquanto isso, ela pode dar um sorvete para distrair a garotinha.
Enfermeira - Ok. Deixa comigo.

A enfermeira sai do quadro. Abre e fecha a porta. O filho adianta o dedo at? a tomada. Ouve-se um clique. A express?o do filho varia do medo ao suspense e ao horror, enquanto dura o tempo at? a porta denunciar a volta da enfermeira. ? o sinal para o novo clique e o retorno ? posi??o natural diante da cama.

Enfermeira - A tua bonequinha adorou a id?ia do sorvete.
O filho (quase inaud?vel) - Obrigado.

A tela vai escurecendo lentamente.

Enfermeira - Bem, mais um dia. Felizmente, o meu turno t? acabando. N?o vejo a hora de ir pra casa...

Tela totalmente escura.

Enfermeira - (off) Hoje tem um pagode legal l? perto... Pena que com essa vida que eu levo, acabo sempre com sono, quando a coisa come?a a esquentar. Enfim... Essa ? a minha vida...
O filho (off) - Espero que voc? se divirta. At? a pr?xima. E obrigado por tudo que voc? tem feito a? pelo velho.
Enfermeira (off) - Ora, ? minha obriga??o. Vamos, eu o acompanho at? l? fora. A minha substituta deve estar chegando.

Surgem os letreiros finais.

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