Quinze dias de transporte troncalizado
Moradores da Zona Norte passam dificuldades para se adaptar ao novo Sistema Integrado de Transporte Troncalizado - SITT

Chico Brinati
colabora??o
03/08/2005

Clique para ler algumas curiosidades do SITT. O objetivo ? reduzir o fluxo de ?nibus nas regi?es centrais de 102 para 42 carros.

Leia!

O Sistema Integrado de Transporte Troncalizado (SITT) entra na sua terceira semana de funcionamento gerando pol?mica entre os juizforanos. Enquanto alguns acreditam que o sistema faz parte de um desenvolvimento necess?rio para o munic?pio, a maioria dos passageiros questiona o servi?o.


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Problemas de hor?rio das linhas de ?nibus, aumento de tempo no trajeto bairro-centro e o tumulto nos pontos do centro e no Terminal Dr. Romeu Vianna, no Bairro Santa L?cia, s?o apontados, pelos usu?rios do SITT, como os maiores vil?es do projeto lan?ado para melhorar o tr?fego entre as linhas que atendem os habitantes da zona norte da cidade.

A equipe do ACESSA.com foi a campo conferir a opini?o de alguns passageiros e conversou com a Getran sobre a avalia??o das primeiras semanas. Fizemos o trajeto Centro- Terminal (saindo da Avenida Get?lio Vargas) e Terminal-Centro (voltando para o mesmo local).

Acompanhe nossa viagem no texto abaixo:

Da Avenida Get?lio Vargas ao Terminal
Rua Get?lio Vargas, 17h15min. A auxiliar de enfermagem, Arlete de Souza (foto ao lado), prepara-se para voltar para a casa, no bairro Nova Era, ap?s mais um dia de trabalho no centro da cidade. Ela ? usu?ria do transporte troncalizado. A promessa de carro de tr?s em tr?s minutos ? cumprida. Mas, Arlete espera quase 10 minutos para conseguir subir no ?nibus direto, linha 788. "Estou cansada, os ?nibus j? chegam lotados, ? uma confus?o. A gente tem que esperar tr?s ?nibus chegarem e sa?rem lotados para, a? sim, pegarmos um mais tranq?ilo, mais vazio", desabafa.

O aposentado, Jo?o Alves (foto ao lado), interrompe nossa entrevista, para tamb?m manifestar sua opini?o. "Os carros saem lotados, ? um perigo". Para ele, deveria ter mais ?nibus direto no hor?rio de rush.

J? na opini?o de Arlete, ? preciso melhorar os pontos de ?nibus, "pois d? at? briga, devido ? grande confus?o de gente. Isso aqui ? terr?vel, um absurdo, eu tenho medo".

Mais um ?nibus chega. Jo?o Alves diz que vai esperar o pr?ximo, na expectativa de que venha vazio. Arlete prefere encarar a "confus?o" e entra no coletivo, 17h25min. N?s vamos com ela!

A auxiliar de enfermagem segue o trajeto em p?, num carro cheio. Durante o percurso, reclama?es sobre o novo meio de transporte. "? muita gente. At? mesmo o Terminal n?o comporta tantas pessoas... Antes de Nova Era para o centro, eu gastava 40 minutos, agora levo cerca de duas horas, pode por a? na reportagem", diz.

Alguns passageiros ouvem nossa conversa e interferem. Dizem n?o entender o novo m?todo e ironizam: "Se chama direto, por que ele p?ra?". Outros querem manifestar sua indigna??o. Uma das mais insatisfeitas ? a auxiliar ocupacional, Catarina Rafael Paiva (foto ? direita), moradora da Vila Esperan?a II.

"N?o gostei nada disso. Antes andava s? sentada, podia carregar muitas sacolas de compras no centro, agora n?o d?... Falta seguran?a no Terminal", diz (gerando gargalhadas por parte dos outros passageiros, pois ela estava sentada com muitas sacolas). "Hoje, foi um dia at?pico, eu estou falando s?rio!", completa.

A "viagem" prossegue. Saindo da Avenida Rio Branco para a Brasil, o ?nibus em que est? Jo?o Alves nos ultrapassa. "Est? vendo, ele saiu depois da gente e pegou um carro mais lotado que o nosso. Coitado", interrompe Arlete.

Catarina continua: "Antes eu fazia plant?o ? noite e no caminho de volta para casa, tirava um cochilo at? o meu ponto, quando o motorista me acordava. Agora, n?o conhe?o mais o trocador, nem o motorista.", reclama. Jovens, em p?, na parte "articulada" do ve?culo come?am a debochar em forma de cantoria: "esses ?nibus est?o uma beleza!, ironiza."



Chegada ao Terminal
Chegamos ao Terminal. "Olha, agora, a bagun?a para descer", avisa Arlete. J? no fim do percurso, perguntamos se n?o houve melhoria. "Saio de Nova Era para ir trabalhar na Avenida Rio Branco, agora posso pegar um ?nibus direto. ? bem melhor", confessa. O ?nibus p?ra. S?o 17h55min. H? um tumulto para descermos. Perdemos Arlete de vista.

De volta ao centro
N?o foi poss?vel acompanhar Arlete, ela desapareceu na multid?o e nos desencontramos. No caminho, ? procura de nossa personagem, o vidraceiro, Assis Cunto Dias (foto ao lado), ao contr?rio dos demais usu?rios do transporte, faz a defesa do SITT. Vindo de S?o Paulo, ele est? h? tr?s meses em Juiz de Fora e concorda que o sistema ainda tem problemas por estar em seu est?gio inicial, mas diz que j? ? um avan?o. "Isso aqui n?o ? para hoje, ? para o amanh?, isso ? progresso", orgulha-se.

Para Assis, ? um salto que a cidade est? dando em rela??o ao desenvolvimento de seu transporte coletivo. "O problema ? que as pessoas n?o t?m essa vis?o no amanh?, no desenvolvimento", conclui.


No caminho da fila para pegar o ?nibus de volta para o centro, algu?m chama nossa equipe. ? Arlete! S?o 18h10. Ela est? dentro da linha Nova Era, indo para casa. "At? que o ?nibus n?o demorou muito hoje, para voc? voltar para o centro, vai estar melhor", grita Arlete, da janela do ?nibus ao lado. "Agora, deixa eu ir que amanh? cedo tem mais aventura no sanfon?o", finaliza.


De volta ao centro, chegamos ? Avenida Get?lio Vargas, ?s 18h45 com o ?nibus bem mais vazio, como alertou Arlete. Fim da viagem!


"Quest?o de adapta??o"
Segundo o superintendente da Ag?ncia de Gest?o de Transportes e Tr?nsito (Gettran), Dulc?dio de Barros Sobrinho (foto ao lado), essas duas semanas foram de adapta??o ao novo modelo de transporte coletivo. Para ele, a cidade teve mais "ganhos que preju?zos" com o sistema.

Um dos principais ganhos, segundo ele, foi a diminui??o do n?mero de pessoas no ponto da Get?lio Vargas, altura do rua Mister Moore. "Esse problema foi transferido para o Terminal, s? que l? temos uma condi??o melhor para esperarmos o ?nibus, uma comodidade maior", ressalta.

O tr?nsito na regi?o central da cidade, tamb?m, teve uma melhora significativa. O n?mero de ?nibus nesta ?rea caiu de 102 para 42 carros. Foram adquiridos 15 ve?culos articulados.

No entanto, Dulc?dio confirma que o sistema ainda apresenta problemas. "Do Terminal para o bairro, apenas 70% dos problemas j? foram resolvidos. Estamos ajustando o hor?rio das linhas que est? defasado, fazendo estudos junto ? comunidade", completa. Segundo ele, a Gettran est? em constante negocia??o com representantes das Sociedades Pr?-Melhoramentos (SPMs) dos bairros para priorizar o acerto dos hor?rios das linhas que v?o dos bairros ao Terminal, maior ?ndice de reclama?es por parte dos passageiros.

De acordo com dados da Gettran, ap?s as reuni?es com as SPMs, j? foram feitas 26 interven?es, corrigindo o hor?rio de 20 linhas, das 44 existentes.

"O tempo que o passageiro gasta do bairro ao centro, ou vice-versa, ? o mesmo de antes. Ele perde tempo ao descer no Terminal, mas ? compensado com o tr?fego menor no percurso", relata. "O dif?cil ? acostumar a popula??o a descer no Terminal", diz.

Outro fator que, para Dulc?dio, implica no questionamento por parte dos usu?rios ? o que ele chama de "mexer com a cultura da popula??o juizforana". "Os passageiros querem chegar ao Terminal e j? ter o seu ?nibus ? disposi??o, como nos pontos do centro da cidade. Em 90% das linhas houve o aumento de uma viagem para cada bairro, pelo menos", diz.

Mudan?as
"Antes, os universit?rios da zona norte pagavam quatro passagens para ir ? UFJF e voltar para casa. Hoje, s? duas. O mesmo vale para quem transitava entre os bairros da zona norte. Agora, todos os 35 bairros da regi?o est?o interligados no Terminal. Temos linhas espec?ficas para a universidade e para o Hospital de Pronto Socorro - HPS - Municipal, tamb?m", refere-se ?s linhas "alternativas" que s?o as grandes respons?veis pelos elogios que o sistema vem recebendo (al?m dos percursos originais do sistema antigo, o SITT abriga ainda as regi?es entre a Avenida Brasil e altura do Bairro Bom Pastor, al?m da UFJF com apenas uma passagem).

"Toda a for?a da equipe t?cnica do Gettran est? voltada para o SITT, nesse primeiro momento, visando regularizar, equilibrar o sistema", diz. Segundo Dulc?dio, existem 12 t?cnicos da ag?ncia no Terminal fazendo pesquisas no hor?rio de pico, entre 7h e 8h, e 18h. Eles analisam o fluxo das linhas, como est?o saindo os ?nibus, o tempo gasto na fila. "As reclama?es feitas s?o analisadas pela equipe", completa.

"Problemas existem, mas a gente est? se empenhando para melhorar. A Gettran est? aberta a negocia?es... O importante ? que a comunidade entenda que existe uma melhora para ela", conclui.


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  • Clique aqui e confira os hor?rios das linhas do SITT
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  • Coment?rios enviados por e-mail

    Acho que nossa cidade precisa cada vez mais de pessoas dispostas a mostr?-la como ela realmente ?. A Manchester, Princesinha e at? Atenas Mineira est? muito escondidinha por tr?s de suas montanhas. Mat?rias com uma finura de informa?es e uma grande participa??o popular s?o necess?rias para que a cidade saia desse lugar de subalterna ao que h? de fora, principalmente, ao estigma de carioca do brejo. Parab?ns ao Acessa e ao Chico Brinati pela excelente reportagem e manejo das fontes. S?o de coisas assim que precisamos, para erguer o nosso munic?pio e bot?-lo na ponta. N?o precisamos de empresas, constru?es ou fast-foods, necessitamos sim, acabar com o provincianismo e todos os pecados capitais que adv?m deste lugar... que deixemos Juiz de Fora crescer... Abaixem os acordos, abaixe a vaidade daqueles que "pensam" nos comandar... um dia a casa cai e, quem sabe, seremos n?s os observadores disso tudo, inclusive participando como agentes sociais, muito menos preocupados com status quo e muito mais voltados para arrumar a bagun?a que estes anos de hipocrisia tem nos deixado. Mais uma vez, vos saudo e espero continuar a ler mat?rias com um cunho de verdade e, principalmente, cidadania.
    Parab?ns!

    Jo?o Paulo de Oliveira