Projetos moralizantes marcam primeiro semestre na Câmara Analistas consideram medidas em prol da transparência
uma resposta aos anseios da sociedade

Patrícia Rossini
*Colaboração
22/7/2009

Com o discurso de que "o primeiro compromisso de um homem público é com a verdade", o peemedebista Bruno Siqueira assumiu a presidência da Câmara Municipal no início deste ano. Um dos desafios, certamente, seria passar credibilidade para os eleitores juizforanos, que viram a política local em ruínas com a prisão do ex-prefeito Carlos Alberto Bejani (sem partido) e com as denúncias contra o ex-vereador e ex-presidente da Câmara, Vicente de Paula Oliveira (Vicentão-PTB), que há vinte anos ocupava uma cadeira no Palácio Barbosa Lima.

A legislatura 2009-2012, que teve quase dois terços de renovação, foi marcada pelo discurso em prol da transparência e da moralização no primeiro semestre de 2009. Entre as propostas, projetos de lei que determinam a divulgação na internet dos funcionários comissionados empregados nos órgãos da administração direta e indireta e a prestação de contas para utilização da verba indenizatória na internet. O corte de subsídios que "engrossam" o salário dos vereadores, como o recebimento por reuniões extraordinárias e outras "ajudas de custo" garantidas aos legisladores pela lei 11.617/2008 , proposto por Wanderson Castelar (PT), não passou pelo crivo do plenário e acabou arquivado.

Conforme analisa o cientista político Raul Magalhães, a apresentação de medidas moralizantes reflete um anseio da sociedade. "Essas demandas por moralização nos cargos públicos são, hoje, muito fortes na sociedade brasileira e Juiz de Fora não é exceção. E, de certa maneira, alguns vereadores estão captando essa necessidade e levando isso ao plenário."

O cientista político Rubem Barboza Filho acredita que a tentativa de tornar mais claras as contas públicas é positiva, mas pondera que "não adianta criar estes mecanismos de transparência e ao mesmo tempo inventar modos secretos de tomar decisões ou realizar outros tipos de ação." 

Em relação aos acontecimentos no Legislativo e Executivo no ano passado, Magalhães explica que a experiência vivida pela população com os escândalos envolvendo Bejani e Vicentão colaboram para o clima de moralização, embora tanto o ex-prefeito quanto o ex-presidente da Câmara não tenham sofrido sanções políticas. "Neste sentido, podemos esperar que a fiscalização que esta legislatura irá fazer sobre os atos moralizadores seja mais forte do que nas Câmaras passadas."

Camara Municipal Camara Municipal

Mesmo considerando positivas as proposições em defesa da transparência e da moralização, Magalhães lembra que há interesses conflitantes. "É importante sublinhar que a principal medida de moralização proposta, a  de redução dos subsídios que incorporam o salário dos vereadores, não passou. A gente percebe que há um limite para o que pode ser feito. Quando mexe nos interesses dos próprios vereadores, a coisa é mais complicada."

O presidente da Casa, Bruno Siqueira, afirma que todas as propostas que visam maior transparência nos poderes são incentivadas no Legislativo municipal. "Os projetos apresentados têm recebido grande apoio e não estão encontrando barreiras no Executivo, o que estimula os vereadores a continuarem trabalhando neste sentido. Com transparência, a população tem acesso à verdadeira Câmara Municipal."

Com medidas para tornar o funcionamento do Palácio Barbosa Lima mais econômico, Siqueira afirma que as despesas do primeiro semestre foram cerca de 30% menores do que no mesmo período de 2008. Para o segundo semestre, a promessa do presidente é melhorar o acesso da população à Câmara, com a construção de uma rampa para deficientes físicos.

Ajeitamento de forças

Mesmo contando com uma base ampla, o Executivo municipal tem esbarrado em dificuldades para aprovar medidas polêmicas, como o aluguel de caminhões para o Demlurb. Até mesmo questões rotineiras, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias, acabam incorporando emendas dos parlamentares antes de serem aprovadas em plenário, e a convocação de secretários e técnicos da Prefeitura para prestar esclarecimentos em audiências públicas viraram rotina na Casa.

Segundo o cientista político Rubem Barboza, este fato revela o comprometimento de alguns Camara Municipalparlamentares com empresários e segmentos da sociedade, o que considera normal no Legislativo.

Já o presidente da Câmara, Bruno Siqueira, acredita que os vereadores da base estão mais criteriosos. "Não existe uma forte divisão entre base aliada e oposição, cada caso é analisado de acordo com os interesses da população. Prova disso é que o Executivo já perdeu em vários momentos, como no caso da tentativa de vender a Curva do Lacet."

Raul Magalhães aponta a atuação dos vereadores, principalmente da parcela renovada da Casa, como tentativa de romper com a imagem de uma Câmara obediente ao Executivo. "Esta é uma característica fundamental desta Câmara. Ela tem mais nomes que apresentam um projeto relativamente independente do Executivo e, por isso, o caráter oposicionista dela é mais evidente."

*Patrícia Rossini é estudante de Comunicação Social da UFJF

Os textos são revisados por Madalena Fernandes


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