Pais separados dos filhos aproveitam momentos juntos com mais qualidadeSeparação física entre pais e filhos pode proporcionar melhoria na relação paternal. Independente da distância, sempre é importante ter contato pessoal com a família

Clecius Campos
Subeditor
12/8/2011
Pais

A separação física entre pais e filhos pode proporcionar melhoria na relação paternal. Pais que vivem longe de suas crias tendem a aproveitar os momentos de união com mais qualidade. A constatação é da psicóloga e terapeuta familiar, Ana Stuart, que enxerga pontos positivos no afastamento entre pais e filhos.

"É um comportamento muito comum. Quando moravam juntos, os pais não têm tantas atividades com os filhos e quando há a separação, pais e filhos acabam querendo aproveitar os momentos em conjunto com mais qualidade." Segundo Ana, independentemente da distância, sempre é importante ter contato pessoal com a família.

O jornalista Juliano Nery, que mora na cidade do Rio de Janeiro, está a 178 quilômetros do filho Gabriel, que vive em Juiz de Fora, e a 271 quilômetros do pai, morador de São Lourenço, cidade do sul de Minas. Por conta da rotina, Nery consegue ter mais contato com o filho do que com o pai. "Durante o mês, fico vinte dias sem ver meu filho e dez dias com ele. Tento manter uma relação qualitativa, para que possamos aproveitar bastante. Quando estou em Juiz de Fora, ele dorme comigo, almoçamos juntos, busco na esoola, saímos para brincar, cuido dos afazeres escolares... Tudo para suprir a ausência física."

Já com o pai, a frequência é menor. "Vivo longe do meu pai há dez anos. Procuro ir a São Lourenço nos feriados, nas datas comemorativas, e ele vai, com alguma frequência, a Juiz de Fora, por causa do Gabriel. Como tenho mais irmãos que vivem no sul de Minas, eles acabam ficando um pouco mais juntos e suprindo essa carência. De qualquer forma, faço contato com ele, pelo telefone, de duas a três vezes por semana."

A universitária Danielle Vallejo mora em Juiz de Fora e tem o pai vivendo no Rio de Janeiro. Os dois se veem, costumeiramente, uma vez a cada mês, mas, ocasionalmente, o período em que ficam distantes um do outro aumenta. "Estou sem ver meu pai desde junho. A saudade está grande, mas não dá para ficar indo e vindo sempre. Por isso, aproveitamos os feriados longos para ficar mais próximos."

Quando tem a oportunidade de ver o pai, Danielle dedica todo seu tempo para estar em família. "Minha avó mora em Juiz de Fora, então meus pais vêm para cá e fazemos aquele almoço. Além disso, vamos juntos ao shopping, jogamos boliche. É uma forma de aproveitar mais." A estudante diz sentir falta de ter o pai mais perto dela. "Vivo longe dele há dois anos. No começo era mais difícil, mas ainda dá saudade. Penso em terminar a faculdade e voltar a viver perto dele."

Longe do pai há anos

O auxiliar de cobrança Camilo Braga viveu durante seis anos longe do pai. Ele em Juiz de Fora e o pai em Valença. "Comecei um relacionamento e deixei a cidade para viver a minha vida." No entanto, a morte da mãe, que também vivia longe, deixou Oliveira sensibilizado. "Para quem está longe, é terrível ver algo assim acontecer e não poder fazer nada. Meu pai está debilitado, por motivo de doença, e decidi ficar mais próximo dele. Com o tempo, a gente percebe essa necessidade. Estou voltando para Valença."

Oliveira conta que, durante os seis anos longe, foram poucos os contatos com os familiares. "Vi meu pai só algumas vezes. Eu viajava pouco para lá e ele nunca veio a Juiz de Fora. É verdade que o relacionamento não é mais o mesmo, mas meu pai adorou a minha volta e teremos que nos acostumar um com o outro. Somos dois homens solteiros, com pensamentos diferentes, que farão companhia um para o outro. O bom filho à casa torna. Estou feliz por voltar."

A assistente de marketing Suela Ribeiro mora a 168 quilômetros do pai. Ela vive em Juiz de Fora e ele em São João del-Rei. Apesar da distância física não ser tão grande, um desentendimento entre os dois fez com que se afastassem por um período de quase dois anos. "Meu pai não aceitou bem minha gravidez. A última vez que nos vimos foi no dia do meu casamento. Eu estava grávida de seis meses."

Desde então, os contatos ficaram raros. "Meu filho está com um ano e cinco meses e ainda não conhece o avô. Há pouco tempo voltamos a nos falar pelo telefone, mas ainda não nos vimos pessoalmente. Combinamos de fazer o reencontro no Dia dos Pais." A reaproximação emociona Suela. "Estou com um pouco de medo da reação dele, da minha reação, mas sinto-me feliz. Meu pai vai ter a oportunidade de conhecer o neto. Espero que fique tudo bem de novo."

Segundo Ana Stuart, a melhor forma de tentar uma aproximação com o pai é fazer isso com respeito e tato. "Nunca se sabe como vai estar a família desse pai. É importante fazer um contato telefônico, tentando marcar um encontro, escolhendo o melhor dia e o melhor horário para todos. É essencial ter respeito pelo tempo do outro", pondera a psicóloga.